dezembro 17, 2006

Modelos de planeamento em Educação Física.

Os nossos programas apontam para um modelo de planeamento por etapas, com um tratamento integrado dos vários desportos que constam dos programas.
Eu, que sou do tempo em que não se falava sequer deste modelo de planeamento e fui socializado no planeamento por unidades didácticas, gostava de saber quais são os modelos de planeamento que actualmente se praticam nas escolas. É bom dizer que entre estes dois modelos possíveis há ainda outros como por exemplo o modelo das épocas desportivas (Educação Desportiva - Siedentop) que eu acho extremamente interessante e mais aplicável no ensino secundário pela existência das opções. Há ainda outros modelos híbridos na prática, como aquele de se ir conjugando unidades em alternância, à medida que os "roulement" obrigam a mudar de instalações e estas não se prestam à polivalência.
Que modelos de planeamento se praticarão, estatisticamente falando, nas nossas escolas?
Que modelo tu, caro leitor, praticas?
Que modelo achas teoricamente melhor?
Que modelos são praticáveis?
PS. É interessante notar, por exemplo, que num país como a França, com uma tradição, uma prática e uma teoria da Educação Física mais "trabalhada" por vários decénios, o modelo preconizado pelos programas e pelos projectos pedagógicos de EF seja o das unidades didácticas. Menor latitude de modelos, portanto.

dezembro 10, 2006

contributo para a reflexão

Desde que me conheço como professor que acho o currículo de Educação Física fantástico, já que dá para fazer tudo e, para não fazer nada. Partamos de dois exemplos, um professor tradicional e um outro que chamarei do professor d’hoje:

a) O professor Tradicional - Tem 36 semanas de aulas, que geralmente acabam por ser 32, multiplicando por 3 segmentos de 45 minutos (para o básico) dá 108, dos quais tem que retirar cerca de 7 a 8 aulas para apresentação, auto-avaliação e testes, ficando em 101 segmentos. Este colega divide pelas seis modalidades tradicionais (Basquetebol, Voleibol, Andebol, Futebol, Ginástica e Atletismo) dá cerca de 16, 8 segmentos de quarenta e cinco minutos. Trata-se de um professor que apesar de tradicional é metódico, honesto e competente na forma de abordar as suas aulas, tem várias estratégias de abordagem de temas para rentabilizar as suas aulas. Dá conteúdos comuns às modalidades em aulas comuns. Documentou-se na didáctica dos Jogos Desportivos Colectivos e conseguiu encontrar um meio termo entre o movimento do antigo FCDEF e o defendido a Sul, pela FMH com a Sistemática das Actividades Desportivas. Enfim o professor tradicional mesmo utilizando todas essas estratégias tem várias questões a colocar:

1º Como deve fazer a sequência do ensino das modalidades, uma vez que nem todos os conteúdos são comuns?

2º No final de cada modalidade o que é que o aluno aprendeu e como fará para que essa aprendizagem seja douradora ou, no mínimo, que aguente até ao próximo ano lectivo em condições de iniciar uma nova “Unidade Didáctica de Continuação de Conteúdos” (quando pensa no caso da Ginástica Desportiva deita as mãos à cabeça);

3º Onde colocar todos os outros conteúdos que devem ser abordados, nomeadamente os que vêm na pagina do currículo e que tem a ver com as questões dos hábitos de higiene, educação para a saúde e outros, tais como o fair-play, o doping…

PERGUNTA FINAL: Será que este tipo abordagem promove o objectivo máximo consignado em programa que é: contribuir para que os alunos ganhem hábitos de exercício físico que perdurem ao longo da vida?

b) O “professor d’hoje” parte de um princípio básico de que os jovens querem actividades diferentes, sejam elas de interior ou de ar livre e com as mesmas 101 aulas adiciona as seguintes modalidades: patinagem, dança, jogos tradicionais, desportos de montanha e orientação, e ainda tenta levar os jovens à natação, mas a Câmara não arranja transportes e a Ministra não quer que a escola gaste dinheiro com coisas dessas. A este professor “d’hoje” algumas questões se lhe colocam:

1º Como não quer deixar de abordar as modalidades tradicionais ao juntá-las todas e dividir pelos 101 segmentos dá-se conta que fica com cerca de 10 para cada modalidade, que conteúdos seleccionar em cada uma?
2º Depois de seleccionados os conteúdos que estratégias abordar para rentabilizar as aulas?
3º Que objectivos seleccionar no sentido de serem realistas e coerentes com um planeamento?
4º No final do ano o que é que os alunos aprenderam? E o que aprenderam de forma consistente ao ponto de, após o longo período que estiverem sem fazer uma das dez actividades, estar capaz de dar um passo em frente no sentido de progredir nessa mesma modalidade?
PERGUNTA FINAL: Será que este tipo abordagem promove o objectivo máximo consignado em programa que é: contribuir para que os alunos ganhem hábitos de exercício físico que perdurem ao longo da vida?


As perguntas finais são as mesmas, muitas outras ficam por fazer, esta reflexão é fundamental para que se entenda um currículo que efectivamente serve para fazer tudo e para não fazer nada, vai daí o achar fantástico. Levo dezassete anos de aulas e de leituras, onde tento me actualizar e estar ao corrente das estratégias mais recentes, levaram-me a sentir a necessidade de adequar ao currículo à disciplina e a disciplina aos reais interesses de formação dos alunos.

NOTA: e não coloquei a questão naquele jovem que, tal como eu, quando entrou para o 2º ciclo já queria ser “professor de ginástica”….como se concilia o interesse dos que querem “correr para a licenciatura nesta área” quando numas Universidades os pré-requisitos são quase o que se pede aos atletas de média competição e noutras pouco valor se dá a esses em detrimento de um grupo de saberes ao nível mais teórico-conceptual?