dezembro 28, 2007

Um voto para 2008

A Revista Horizonte, Educação Física e Desporto, deixou recentemente de ser editada, depois de cerca de duas décadas de vida.
Não sei exactamente quais foram as reais razões do facto mas penso que se prenderam fundamentalmente com problemas editoriais. O número de assinantes não correspondia à necessidade para manter uma revista dessa natureza.
Acho que esta situação é absolutamente negativa para o nosso grupo profissional de professores de Educação Física. E paradoxal. Então num momento em que há, mais do que nunca, um número acrescido de professores de EF e com uma formação mais profunda, como é possível que a única revista daquele tipo desapareça?
É evidente que reconheço que o desgaste de todos os colegas que vinham a arcar com as despesas de "trabalho" para que a revista se mantivesse deve ter jogado um papel fundamental.
Faço daqui um voto para 2008: que a nossa Revista volte às bancas e que todos aqueles que possam apoiar essa volta façam o que lhes for possível. Uma das coisas possíveis e muito necessária é que todos os profissionais da EF se façam assinantes da revista e que a mantenham e renovem por muitos anos.
E um bom 2008 para todos os professores de EF.

dezembro 01, 2007

Pergunta

Do relatório do Parlamento Europeu que temos vindo a comentar retiro o ponto seguinte:
"13. Salienta a importância do exercício físico para combater a obesidade e evitar hábitos de
vida pouco saudáveis, o que terá repercussões positivas sobre a saúde dos cidadãos, mas
manifesta a sua preocupacão pelo facto de que o aumento das horas de trabalho e as
actuais condicões de emprego em geral não incentivam os trabalhadores a fazer
regularmente exercício físico e a praticar mais desporto;"
Pergunto: isto não será obra de um perigoso esquerdista infiltrado no corpo redactorial do relatório que está a dar uma alfinetada à desregulamentação e intensificação dos horários de trabalho tão caros às actuais cúpulas da UE?

novembro 22, 2007

Desafio

No último post o Miguel trouxe-nos a identificação de alguns problemas da Educação Física nos países da União Europeia.
Começa logo pela seguinte frase que cito: "Orientação geral da educação física: os curricula existentes não proporcionam muitas vezes experiências pertinentes a nível pessoal e social e são contrários às tendências sociais e às tendências nas actividades extracurriculares".
Pergunta a fazer desde já: será que os nossos curricula de EF em Portugal padecem do mal identificado na frase acima e sua sequência (que poderão ler no post anterior e no relatório)?
Já agora eu começo por dar uma resposta pessoal. Penso que sim. Os nossos programas de EF que têm muita coisa interessante e positiva, têm alguns aspectos que sinto constituirem um espartilho a uma EF adaptada aos tempos e aos alunos de hoje:
-Tem um modelo de multiactividades que subentendem, pelo menos antes do Ensino Secundário, uma prática de demasiados desportos num mesmo ano lectivo. De tudo querer abordar pouco se aprofunda e consolida. Não estará nisto uma das origens do fenómeno dos eternos debutantes?
-O fenómeno anterior implica, com a necessidade de "cumprir os programas" que abordando tanta coisa não haja espaço para a exercitação.
-A preocupação anterior não levará, naqueles que querem cumprir os programas, a concederem pouco tempo a uma prática lúdica das actividades ensinadas? É que para cada actividade não haverá um tempo de experimentar, um tempo de aprender, um tempo de exercitar, um tempo de brincar, um tempo de aplicar e de avaliar o que se aprendeu. Saltitando demasiado de actividade há tempos que se perdem. Nuns casos só se brinca o que é pouco, noutros não há tempo para brincar, o que faz falta.
-Há demasiados alunos a quem as nossas actividades passam ao lado e para quem são nitidamente insatisfatórias. Os gordinhos, os desajeitados, etc, são realmente tantas vezes excluídos sucessivamente por um modelo desportivizado num sentido mal trabalhado pedagogicamente.
-A EF e o Desporto na escola tem de ser (em alguns momentos) tão entusiasmante como o são os jogos de computador se quiserem ganhar este desafio. É que a questão não é também, simplesmente de mais tempo para a EF.
O problema evidentemente não está só nos programas ou se calhar fundamentalmente nos programas. Mas não haverá aqui todo um programa de acção a realizar num futuro imediato?
O desafio do relatório de uma organização política europeia que agora apareceu é, penso eu extremamente aliciante para os professores de EF. A contrastar com estes tempos de tantos desafios nefastos da nossa política educativa interna.

novembro 13, 2007

Problemas identificados

Há alguns problemas relacionados com a educação física na UE:
  • Orientação geral da educação física: os curricula existentes não proporcionam muitas vezes experiências pertinentes a nível pessoal e social e são contrários às tendências sociais e às tendências nas actividades extracurriculares: há uma orientação para programas de actividades ligadas ao desempenho e à competitividade. Se se quiser que a educação física se torne um instrumento para combater eficazmente a obesidade e o excesso de peso das crianças, é necessário promover elementos curriculares que atraiam todos os grupos de alunos. Com os jogos de computador a ganhar terreno como passatempo preferido das crianças, há uma necessidade cada vez maior de promover um estilo de vida activo e saudável entre as crianças e os jovens. Para estes grupos de jovens, o conteúdo tradicional da educação física tem pouca relevância para o seu estilo de vida.
  • A educação física corre o risco de ser cada vez mais marginalizada na escola. Nos últimos anos, o tempo atribuído à educação física em toda a UE diminuiu gradualmente: desde 2002, o tempo concedido foi reduzido de 121 para 109 minutos por semana para a escola primária, e de 117 para 101 minutos para a escola secundária - Os estudos realizados recomendam que as crianças e os adolescentes pratiquem diariamente algum tipo de exercício físico durante 60 minutos! Há indícios de que o que se anuncia oficialmente no que respeita à actividade física praticada nas escolas não corresponde à realidade no terreno, dado que a prática não respeita as obrigações ou expectativas legais. É necessário um controlo efectivo!
  • Ligado à questão acima referida, encontra-se o insuficiente financiamento das instalações desportivas; um financiamento inadequado das instalações, do equipamento e da sua manutenção e material de ensino encontra-se particularmente espalhado na Europa Central, Oriental e Meridional; os alunos com deficiências sofrem ainda mais as consequências desta falta de apoio financeiro.
  • É necessário olhar mais de perto os curricula dos professores de educação física a fim de apoiar a formação e a educação de professores de qualidade. É necessário que haja professores competentes e fiáveis que sejam capazes de conceber aulas de educação física que respondam às questões de saúde e que incentivem todas as crianças a participar. Uma educação física eficaz e bem sucedida exige professores especializados com uma boa formação.
  • Existe um fosso entre a edução física em actividades curriculares e nas actividades extracurriculares e paracurriculares. A ligação entre actividades curriculares e extracurriculares poderia ser reforçada.
  • Inclusão: as minorias étnicas têm taxas de participação em actividades desportivas especialmente baixas. O problema da participação já é preocupante durante o período escolar: as raparigas muçulmanas são um grupo especialmente sensível neste contexto. Um padrão semelhante de acesso restrito é evidente entre os jovens deficientes. Os jovens com deficiência têm muito menos probabilidades de participar em actividades desportivas extracurriculares ou paraescolares.
  • Não há ainda dados empíricos suficientes em muitos domínios relacionados com o desporto, a educação física e os seus efeitos na evolução social e sanitária.
Estas observações constituem a base das recomendações que o relator sugere no seu relatório no que respeita a medidas a tomar pelos organismos responsáveis, quer a nível europeu, quer a nível dos Estados-Membros, a fim de melhorar o papel do desporto na educação. (In: Relatório sobre o papel do desporto na educação, PE)

Recomendações que cairão em saco roto?…

Parlamento Europeu defende mais aulas de educação física nas escolas da UE
“O Parlamento Europeu defendeu hoje, ao aprovar um relatório sobre o papel do desporto na educação por 590 votos a favor, 56 contra e 21 abstenções, que a educação física deve ser obrigatória na escola primária e secundária, com pelo menos três aulas por semana. O relatório da Comissão da Cultura e da Educação do PE refere que em Espanha, Portugal e Itália os níveis de excesso de peso e de obesidade são superiores a 30% nas crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 11 anos.

O PE propõe que o horário escolar inclua, pelo menos, três aulas de educação física por semana, embora as escolas devam, na medida do possível, ser incentivadas a ultrapassar este objectivo mínimo; para que haja um equilíbrio entre as actividades físicas e intelectuais durante o período escolar.

Os eurodeputados exortam os Estados-Membros a investir em instalações desportivas de qualidade nos estabelecimentos de ensino e nos centros de treino e afirmam ser favoráveis à concessão de incentivos aos clubes desportivos; que celebrem acordos de colaboração com escolas, estabelecimentos de ensino, centros de jovens, e outras organizações comunitárias ou de voluntariado envolvidas em projectos no domínio da aprendizagem ao longo da vida.

O aumento da obesidade em toda a Europa, nomeadamente entre os jovens, é alarmante e constitui uma grande preocupação no domínio da saúde pública. O número de crianças da União Europeia com excesso de peso e obesidade aumenta em mais de 400.000 por ano, para além dos mais de 14 milhões de cidadãos europeus que já têm excesso de peso (incluindo, pelo menos, 3 milhões de crianças obesas), indica o relatório de Pál SCHMITT (PPE/DE, HU).

De acordo com os dados do relatório, a obesidade afecta actualmente 21 milhões de crianças na UE. Na UE-27, o excesso de peso afecta quase uma em cada quatro crianças. Em Espanha, Portugal e Itália os níveis de excesso de peso e de obesidade são superiores a 30% nas crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 11 anos. As percentagens do aumento do excesso de peso e da obesidade na infância variam, com a Inglaterra e a Polónia a registarem os maiores aumentos. Em termos gerais, as crianças estão em pior forma física do que a geração dos anos 70 e 80.

Não é tanto o aumento da dose de calorias que provoca o excesso de peso, mas a inactividade física: as crianças não comem mais, mexem-se menos, afirma o relator.

Nos últimos anos, o tempo atribuído à educação física em toda a UE diminuiu gradualmente: desde 2002, foi reduzido de 121 para 109 minutos por semana para a escola primária e de 117 para 101 minutos para a escola secundária.” (appefis)
Estas recomendações sugerem-me apenas dois breves comentários: o primeiro formula duas simples questões que traduzem a minha estupefacção diante da nossa triste realidade; o segundo traduz a minha desconfiança nos actuais responsáveis políticos quando confrontados com recomendações que sugerem a inversão do rumo das suas políticas.

1. Não sei o que dizer dos 90 minutos semanais de EF atribuídos aos profissionais? E o que pensar dos 45 minutos semanais atribuídos aos CEF’s?
2. Como enquadrar estas recomendações numa escola de matriz taylorista?

Riscos...

De tempos a tempos, numas e noutras escolas, mesmo em contextos sociais diversos, surgem umas ondas de preocupação com os acidentes na escola.
Jogar à bola, uma actividade que fez parte das brincadeiras de várias gerações anteriores à nossa, e que por enquanto ainda integra a ocupação dos tempos livres espontânea de uma parte dos nossos jovens, parece ser objecto de uma preocupação, na minha opinião, desajustada.

Já não bastam as limitações impostas, em termos de espaços disponíveis para brincar, nas ruas das cidades actuais, que por razões de segurança e não só, já não são uma opção, agora parece que nem na escola as crianças e os jovens podem alternar com alguma actividade física a longa inércia a que são submetidos na sua pesada carga horária semanal composta quase exclusivamente por trabalho sedentário, no qual, estar “calado” e “quieto” é sinónimo de bom comportamento. Se isto não é trabalho infantil …

Aqui que eles não nos ouvem, não é de admirar que não estudem muito fora das aulas ou que se “portem mal”, como frequentemente são acusados: não sei se nós, adultos, nos portaríamos melhor num esquema de trabalho semelhante… a ver por algumas reuniões de adultos…

Mas voltando ao assunto que aqui me trouxe…
Tudo na vida contém riscos, desde o atravessar a rua ao ficar em casa! Já vi dentes partidos pelas mais variadas razões… até por tropeçar num espaço plano!
Lembro-me de um filme em que o personagem principal, sendo mediador de seguros, enumerava em cada momento da sua vida as percentagens de risco associadas a cada gesto: andar na rua passando por cima das tampas de saneamento, comer amendoins da mesma taça de outras pessoas, comer bolo de aniversário, andar de elevador, andar de bicicleta, etc.

Também não me parece sensato negligenciar determinados riscos perfeitamente evitáveis, como andar de carro sem cadeira adequada, no caso das crianças, ou andar de bicicleta sem capacete… Eu própria também andei de bicicleta sem capacete, porque não era costume ou não havia tal chamada de atenção, na época, mas adiro sem relutância a esta medida preventiva de determinadas consequências de um acidente,… embora não proteja de todos os riscos possíveis, claro!

Quando vou buscar o meu filho ao infantário e ele aparece com a roupa toda suja e as unhas cheias de terra ou riscos de canetas, eu tenho a certeza de que brincou e se divertiu. O contrário já não me dá tais garantias!... Claro que preferia que não se magoasse, mas prefiro que brinque! Nada substitui as aprendizagens e as vivências proporcionadas pela actividade física que a brincadeira encerra.

A joelhada, a cabeçada e a esfoladela são riscos provenientes da prática de actividades físicas em que existe contacto, como o Futebol, mas não podemos ter a veleidade de pensar que tais actividades detenham a exclusividade destes riscos.

Aliás, tendo em conta os estilos de vida prevalecentes, hoje em dia, não posso deixar de pensar que os riscos inerentes à sua inactividade física serão bem maiores. Seguramente, os riscos de ver televisão a mais também não serão de negligenciar.

Claro está que a Educação Física vem logo à baila e daí a ser considerada uma actividade perigosa é um instante. E então para atribuir culpas à negligência dos respectivos professores, nem se fala.
Mas de uma coisa não tenho dúvidas: quanto menores forem as vivências motoras anteriores, maior será o risco de um aluno se vir a magoar.

outubro 29, 2007

A qualidade (do ensino) - Um conceito polissémico?

As grelhas de avaliação do desempenho docente estão aí já ao virar da esquina. A ideia é avaliar a qualidade das aulas. Avaliador e avaliado serão confrontados com a falta de critérios apropriados para a avaliação da qualidade do ensino.
Recorro a um exemplo clássico, rebuscado num texto do professor Jorge Bento escrito em 1987, para evidenciar a falta de unanimidade e até alguma confusão que reina em torno deste assunto:
“Imaginemos que dois professores tinham combinado analisar reciprocamente (um ao outro) as aulas e que um deles entende a Educação Física predominantemente como treino da condição física, enquanto o outro concebe a sua incumbência específica como "entretenimento, divertimento dos alunos". (Seja-me permitida esta simplificação, que não deturpação!)

Pode esperar-se, desde logo, uma tremenda confusão.

O professor "entretidor" será talvez de opinião que a aula do seu colega não resultou grande coisa ("foi mesmo uma droga" — dirá ele no seu íntimo), pois notou falta de "prazer".

O professor "treinador da condição física" não entenderá, de modo nenhum, aquele parecer. Então o seu colega não viu quão elevada foi a intensidade do esforço corporal?! Os alunos, empenhando-se, trabalhando e suando "a valer", apresentaram uma prova viva da qualidade da aula!

Sem dificuldade poderiam ser construídos ainda mais casos de perspectivas contrárias acerca da qualidade de uma aula de Educação Física. Todos confirmariam que o conceito da essência da disciplina é de significado primordial para a análise do ensino. Ele determina a que aspectos se presta atenção na análise e quais os critérios de base.

Isto é válido mesmo que se parta do princípio de que alguns professores têm, frequentemente, dificuldade em exprimir clara e consistentemente o seu conceito acerca daquilo que é (ou deve ser!) a Educação Física.

O professor - "treinador da condição física" — tem o seu critério num conceito biologista, mesmo que o não refira desta forma e que esta referência não se apresente nítida diante dos seus olhos. Para ele o cerne da educação física não reside no ensino e aprendizagem, mas sim na aplicação de estímulos de treino, fisiologicamente eficazes.

O professor — "entretidor" — apoiar-se-á talvez numa concepção "funcionalista" da formação e na acentuação do significado momentâneo da vivência da situação desportivo-motora. Pode ser também que ele interiorize facilmente certos padrões dos seus alunos ("Em educação física trata-se de prazer, não tem nada a ver com aprendizagem"!) - um círculo vicioso de difícil saída.

Aquilo que moverá fortemente ainda um professor "domador" podemos talvez interpretá-lo como algo que se apoia expressamente em princípios teóricos do comportamento, como algo que interpreta o ensino como um acto de imposição e de mera influência exterior. Poder-se-á tratar também de relíquias do seu tempo de formação, de um seguidor inconsciente das normas dos seus formadores e examinadores.

Não é preciso salientar mais que aquele que pretende ocupar-se seriamente com a análise/avaliação do seu ensino, não pode deixar de ter uma concepção clara da respectiva disciplina. Sem esta clareza não são possíveis decisões ponderadas e reflectidas, sobre o "o quê" e o "como" da análise e avaliação do ensino.”
Será isto que nos espera, caros colegas?

outubro 18, 2007

É assim, tem sido assim e vai continuar a ser assim. A identidade da educação física como disciplina escolar revolve em torno de tradições, que poderão ser aparentadas, mas que são diversas na alma, isto é, naquilo que as anima. Por isso cada uma puxa daqui e empurra dacolá, tentando ganhar mais espaço e visibilidade no currículo. Daí não virá o mal ao mundo. Todos queremos ter direito ao nosso lugar e a ter voz e a imprimir a nossa marca. Porém, neste jogo do puxa e do empurra, os que querem vir para a frente, às vezes, dão a impressão de que querem tapar à vista aos outros. Assim já o mundo pode ficar um pouco desconcertado.

A saúde é um tema omnipresente na educação física, mas geralmente tratada como pano de fundo, como dado adquirido, ou seja como tema não especificamente tematizado. Ciclicamente a tradição médico-higienicista ganha relevo junto dos responsáveis pelo currículo e consegue colocar a saúde, a avaliação da condição física, na linha da frente. É o que está acontecer actualmente entre nós. Desta vez, puseram as escolas a adquirir e aplicar o fitnessgram, com todo o arsenal ideológico e a carga simbólica que isso arrasta para dentro do currículo.
Há uma linha individualista que hiperboliza os cuidados que as pessoas devem ter com a sua saúde, ao ponto de os transformar em culpa. Os gordos são culpados por serem gordos, os com baixos níveis de aptidão são culpados dos seus fracos índices de aptidão, os doentes são culpados pela sua doença. Depois há os que não fazem nada por serem magros e são magros, que não se esforçam nada e têm níveis elevados de aptidão e os que não têm cuidado nenhum com a saúde e são saudáveis. À culpa alia-se a inveja, a frustração da má sorte e a alienação.
Esta linha individualista não é causada obrigatória pelo fitnessgram, apenas pela ideologia de pomada milagrosa que a envolve. O fitnessgram, como outras ferramentas, pode ser auxiliar didáctico importante numa educação para a saúde emancipadora dos alunos, se se libertar da canga culpabilizadora, se conseguir destrinçar responsabilidade de culpabilidade.
A saúde é um bom tema para a educação física, mas devemos evitar cair na tentação de ser hegemonizados por ela. As outras tradições também são válidas e foram elas que cunharam a educação física de conteúdo educativo. A nossa capacidade de compreensão e actuação no mundo requer mais que atenção à saúde e conhecimento e competência nas disciplinas intelectuais.
Esta visão holística da educação está a dar sinais de degradação em várias partes do mundo, acossada que está por visões e políticas utilitaristas ditadas pelas "necessidades" da economia e do consumo.

Amândio Graça

outubro 08, 2007

As virtudes do desporto

A prática desportiva tem grandes virtualidades educativas quando estão reunidos certos ingredientes que nem precisam de ser de grande complexidade ou de custos elevados.
O video para que remete o link abaixo mencionado mostra crianças a praticar Minibasket num ambiente austero de recursos mas em que não falta o essencial: as crianças, o jogo, o material e as instalações mínimas e uma concepção prática da prática do jogo orientada pelos adultos de forma educativa e em que as crianças são os protagonistas essenciais. Tanto na função de jogadores, como na função de árbitros, de oficiais de mesa de cronometristas. Vale a pena ver. Passe por lá...
http://youtube.com/watch?v=rQ6XWmsHhVM
Num segundo video vemos a prática do Minibasket num país oriental. Reparem no fim do video e do jogo a forma como as jogadoras se saúdam entre si e saúdam o público. Pormenores culturais gerais que entram dentro do próprio jogo.
http://youtube.com/watch?v=rQ6XWmsHhVM

outubro 05, 2007

Educação para a saúde versus educação física

A comissão nacional incumbida de acompanhar e avaliar o Projecto de Educação para a Saúde nas escolas emitiu o seu relatório final, no fim do mês de Setembro. Destaco 2 parágrafos que dizem respeito especificamente à disciplina de Educação Física:

1 - “No ensino secundário recomenda-se agora que nos 10.º, 11.º e 12.º anos sejam aproveitados os espaços lectivos de Educação Física para abordar os temas de Educação para a Saúde, tornando-se necessário mobilizar os docentes de Educação Física para esta nova actividade e dotá-los de formação específica, caso não a possuam.”

Nada de novo. Está previsto no programa e é aplicado (?!). Talvez só nós saibamos disso, pelo que a chamada de atenção vale para os menos avisados!...

É explícita, no relatório, a intenção de não efectuar esta abordagem de modo expositivo, como alguns estabelecimentos de ensino talvez pretendessem!... É que a falta de instalações justificou (em poucos casos, espero) a abordagem teórica de um bloco semanal de Educação Física!


2 - “Como a actividade Física é essencial para os nossos jovens, que mostram preocupantes padrões de sedentarismo, o GTES desde sempre considerou essencial apoiar os professores de Educação Física nas suas acções quotidianas e nos seus projectos. Neste sentido promoveu a assinatura de um protocolo entre o ME (DGIDC) e a FMH, de modo a garantir que no próximo ano lectivo, as escolas dispusessem do instrumento Fitnessgram. Deste modo, os professores poderão aferir parâmetros de saúde de todos os alunos, no que diz respeito ao peso e à condição física, sendo obtidos relatórios individuais que permitem aos estudantes e às famílias as eventuais correcções.”

Quanto ao grande negócio por trás disto… o comentário fica para outra vez!
Mas, politiquices aparte, seria bom que a formação já anunciada pela FMH não se ficasse pelo manual de instruções, mas que se preveja um compromisso de atendimento pós-venda pelo menos idêntico ao dos hipermercados, ou de uma simples mercearia.

E já agora, que se estenda às escolas que, tendo já adquirido o software (desembolsando 300 €), têm tido dificuldade em resolver, sem qualquer apoio da FMH, problemas entretanto surgidos, para além dos erros de software da versão 6.0 do mesmo programa.

Muito mais haveria a dizer, no que se refere ao apoio necessário ao trabalho dos professores de Educação Física, à articulação da aplicação da bateria de testes Fitnessgram e a avaliação em Educação Física, e até mesmo sobre os relatórios individuais.

Também acredito que a intenção do grupo de trabalho foi boa e que pode ser bem aproveitada por todos nós.

setembro 29, 2007

A propósito da educação (física) do que é, e do que é suposto ser!

“Ex.ma Senhora Ministra da Educação:

Um dia destes colocaram, no placar da Sala dos Professores, uma lista dos nossos nomes com a nova posição na Carreira Docente.
Fiquei a saber, Sr.ª Ministra, que para além de um novo escalão que inventou, sou, ao final de quinze anos de serviço, PROFESSORA.
Sim, a minha nova categoria, professora!
Que Querida! Obrigada!
E o que é que fui até agora?
Quando, no meu quinto ano de escolaridade, comecei a ter Educação Física, escolhi o meu futuro. Queria ser aquela professora, era aquilo que eu queria fazer o resto da minha vida...
Ensinar a brincar, impor regras com jogos, fazer entender que quando vestimos o colete da mesma cor lutamos pelos mesmos objectivos, independentemente de sermos ou não amigos, ciganos, pretos, más companhias, bons ou maus alunos. Compreender que ganhar ou perder é secundário desde que nos tenhamos esforçado por dar o nosso melhor. Aplicar tudo isto na vida quotidiana...
Foi a suar que eu aprendi, tinha a certeza de que era assim que eu queria ensinar! Era nova, tinha sonhos...
O meu irmão, seis anos mais novo, fez o Mestrado e na folha de Agradecimentos da sua Tese escreve o facto de ter sido eu a encaminhá-lo para o ensino da Educação Física. Na altura fiquei orgulhosa! Agora, peço-te desculpa Mano, como me arrependo de te ter metido nisto, estou envergonhada!
Há catorze anos, enquanto, segundo a Senhora D. Lurdes Rodrigues, ainda não era professora, participava em visitas de estudo, promovia acampamentos, fazia questão de ter equipas a treinar aos fins-de-semana, entre muitas outras coisas. Os alunos respeitavam-me, os meus colegas admiravam-me, os pais consultavam-me. E eu era feliz... Saia de casa para trabalhar onde gostava, para fazer o que sempre sonhará, para ensinar como tinha aprendido!
Agora, Sr.ª Ministra, agora que sou PROFESSORA, que sou obrigada a cumprir 35 horas de trabalho, agora que não tenho tempo nem dinheiro para educar os meus filhos. Agora, porque a Senhora resolveu mudar as regras a meio (Coisa que não se faz, nem aos alunos crianças!), estou a adaptar-me, não tenho outro remédio: Entrego os meus filhos a trabalhadores revoltados na esperança que façam com eles o que eu tento fazer com os deles. Agora que me intitula professora eu não ensino a lançar ao cesto ou a rematar com precisão à baliza, não chego, sequer a vestir-lhes os coletes...
Passo aulas inteiras a tentar que formem fila ou uma roda, a ensinar que enquanto um "burro" mais velho fala os outros devem, pelo menos, nessa altura, estar calados. Passo o tempo útil de uma aula prática a mandar deitar as pastilhas elásticas fora (o que não deixa de ser prática) e a explicar-lhes que quando eu queria dizer deitar fora a pastilha não era para a cuspirem no chão do Pavilhão... E aqueles que se recusam a deita-la fora porque ainda não perdeu o sabor?
(Coitados, afinal acabaram de gastar o dinheiro no bar que fica em frente à Escola para tirarem o cheiro do cigarro que o mesmo bar lhes vendeu e nunca ninguém lhes explicou o perigo que há ao mascar uma pastilha enquanto praticam exercício físico). E os que não tomam banho? E os que roubam ou agridem os colegas no balneário?
Falta disciplinar?
Desculpe, não marco!
O aluno faz a asneira, e eu é que sou castigada? Tenho que escrever a participação ao Director de Turma, tenho que reunir depois das aulas (E quem fica com os meus filhos?). Já percebeu a burocracia a que nos obriga? Já viu o tempo que demora a dar o castigo ao aluno? No seu tempo não lhe fez bem o estalo na hora certa?
Desculpe mas não me parece!
Pois eu agradeço todos os que levei!
Mas isto é apenas um desabafo, gosto de falar, discutir, argumentar com quem está no terreno e percebe, minimamente do que se fala, o que não é, com toda a certeza, o seu caso.

Bastava-lhe uma hora com o meu 5ºC... Uma hora! E eu não precisava de ter escrito tanto! E a minha Ministra (Não votei mas deram-ma... Como a médica de família, que detesto, mas que, também, me saiu na rifa e à qual devo estar agradecida porque há quem nem médico de família tenha ‐ outro assunto) entendia porque não conseguirei trabalhar até aos 65 anos, porque é injusto o que ganho e o que congelou, porque pode sair a sexta e até a sétima versão do ECD que eu nunca fui nem serei tão boa professora como era antes de mo chamar!
Lamento profundamente a verdade!


Ana Luísa Esperança
PQND da Escola EB 2,3 Dr. Pedro Barbosa
Viana do Castelo"
in ESCOLA INFORMAÇÃO
nº25 Junho/Julho 2007
____________________________________________
Cara colega,
cruzei-me há dias com este seu texto, por entre conversas e revistas, em plena sala dos professores. E não podia deixar de lhe dar os parabéns por conseguir trazer para o papel este sentimento comum a tantos, tantos! Assim, permita-me, por favor, que a subscreva quando diz:

...Quando, no meu quinto ano de escolaridade, comecei a ter Educação Física, escolhi o meu futuro. Queria ser aquela professora, era aquilo que eu queria fazer o resto da minha vida...
Ensinar a brincar, impor regras com jogos, fazer entender que quando vestimos o colete da mesma cor lutamos pelos mesmos objectivos, independentemente de sermos ou não amigos, ciganos, pretos, más companhias, bons ou maus alunos. Compreender que ganhar ou perder é secundário desde que nos tenhamos esforçado por dar o nosso melhor. Aplicar tudo isto na vida quotidiana...

e que altere apenas o final da sua frase para:

Foi a suar que eu aprendi, tenho a certeza de que é assim que eu quero ensinar! Sou nova, ainda sonho!

setembro 27, 2007

Conjecturas

Uma das questões já aqui focadas anteriormente pelo Miguel Pinto e que marca este ano lectivo, vindo já detrás, é a existência de uma carga horária diminuida e diminuta para a disciplina de EF nos cursos de educação e formação, os CEF's e nos cursos profissionais do ensino secundário.
Que explicação válida a dar para tal situação?
Atrevo-me a tecer uma vaga conjectura: algumas formas de desporto moderno nasceram nos colégios educativos ingleses frequentados pelas classes "altas" da sociedade inglesa. Tinham por objectivos educar a juventude nos valores então considerados importantes e ser uma forma de lazer a que se podiam dar os filhos dessas classes, já que essas formas de desporto exerciam grande motivação sobre essas camadas de juventude. Os outros, os filhos das classes "baixas" ou não andavam nas escolas, ou nas que andavam tinham currículos meramente utilitaristas despidos de luxos como o desporto.
Será que agora, em Portugal, não acontecem "coisas" parecidas como essas, a uma escala amenizada? É que nos currículos gerais a EF existe com uma carga lectiva maior.
Mas por amor de Deus. Que não haja nenhuma cabecinha pensadora no nosso actual ministério da Educação, tão talhado para cortes, que se lembre de cortar mais uma vez no que não deve. É que também se pode nivelar por cima.

setembro 11, 2007

Não desistam. Tenham coragem.

Neste início de ano lectivo gostaria de partilhar as minhas preocupações face a alguns comportamentos que se têm vindo a registar na relação educativa, quer no seio da família quer no ambiente escolar – a indisciplina e a agressividade. Não posso estar mais de acordo com uma grande parte dos psicólogos e sociólogos que têm efectuado estudos e aprofundado este tipo de questões. Tem-se assistido a uma tremenda confusão de conceitos. A disciplina e os afectos não podem ser interpretados, nem pelos pais nem pelos professores, como sendo sinónimos de permissividade, passividade e facilitismo.
Educar é mostrar o caminho estabelecendo limites e exercendo a autoridade sem receios. É imprescindível dizer não quando é preciso. Às vezes é extremamente difícil mas é vital.
A autoridade conquista-se sempre que mantemos com os nossos filhos ou com os nossos alunos vínculos emocionais e afectivos partilhando, de forma honesta e justa, as nossas angústias e as nossas alegrias. É urgente humanizar os nossos jovens fazendo com que controlem a sua agressividade, sejam mais solidários e desenvolvam interesses, tornando-se mais interventivos e críticos.
Os jovens são naturalmente inseguros e, certamente, não são as atitudes de facilitismo, irresponsabilidade, impunidade, permissividade e descomprometimento que fazem deles indivíduos íntegros, motivados, emocionalmente estáveis e bem sucedidos.
Todos sabemos que não há receitas milagrosas mas, a verdade é que os padrões educativos, os critérios, a afectividade e o respeito pelas normas, estabelecidos e enraizados, desde o 1º dia, parecem resultar positivamente e contribuir para uma felicidade maior dos nossos jovens. Os adolescentes precisam de regras para se sentirem seguros. Estas podem funcionar como um estímulo desde que sejamos consistentes, consequentes e firmes no seu cumprimento. Vale a pena tentar, sobretudo se pensarmos naqueles jovens a quem só a Escola ousa dizer-lhes NÃO. Em casa ninguém lhes coloca limites, obrigações e regras. Ninguém se atreve a contrariá-los!!!
Poderão os professores ajudar os pais nesta missão?
Com todas as dificuldades e dúvidas não resisto em deixar um apelo a todos os educadores – Não deixem nem queiram ser apelidados de: “Educadores paralisados”; “prostitutos do afecto”; “frouxos”; “marionetas”, “ansiosos permissivos”; Srs Sim, Sim.
Vamos encarar os problemas de frente e, como diz Javier Urra, sejamos realmente Pais/Professores, o que é diferente de termos Filhos/Alunos.

Talvez valha a pena pensar nisto!!!

Clementina Campelo

setembro 01, 2007

Reabertura

Reabrimos o blogue neste 1º dia de Setembro deixando para trás uma curta pausa lectiva, insuficiente para regenerar as feridas resultantes das alterações ao ECD e do 1º concurso para professores titulares.

Esta reentrada, algo anacrónica, não pode servir de pretexto para desviarmos o olhar das rotinas de planeamento e de preparação do ano lectivo. Há que enfrentar os obstáculos normativos noutros palcos redobrando se possível o vigor, e cuidar da nossa área disciplinar com o mesmo afinco de sempre. É este o meu desafio!
E enquanto aguardamos que o resto da equipa regresse com energia suficiente para nos provocar a reflexão, deixo-vos um assunto que me tem deixado bastante perplexo: a pretensa inexequibilidade na operacionalização dos programas de Educação Física dos cursos de educação e formação.
Como a cama é curta para se deitarem todas as disciplinas que fazem parte da matriz curricular destes cursos, houve necessidade de emagrecer os módulos de matéria até porque o tempo semanal de aulas está nos limites da razoabilidade. E onde encontro a inexequibilidade? Na dificuldade em viabilizar um conjunto de objectivos, nomeadamente, aqueles que se prendem com a aplicação dos princípios de treino e o desenvolvimento da Aptidão Física na perspectiva da Saúde (objectivos centrais para a disciplina).

Várias questões se poderiam colocar após esta constatação. Mas há uma questão central que tem de ser encarada de frente: Se as organizações profissionais de Educação Física e as sociedades científicas da mesma área, reivindicam para a disciplina de Educação Física um mínimo de três horas semanais para poder cumprir as incumbências pedagógicas que lhe estão atribuídas, será menos lesivo para os alunos reclamar junto da administração o respeito das tais 3 horas semanais esgotando o crédito horário anual (30 horas anuais) até ao final do 1º período? Ou será que há outras razões, além das razões corporativas que se prendem com a criação de horários, para aceitarmos, passivamente, os 45 minutos semanais distribuídos ao longo do ano lectivo?

julho 03, 2007

A Lei de Bases - a Actividade Física e o Desporto

Marcelo Rebelo de Sousa «Em defesa do Desporto»
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Na apresentação da obra «Em Defesa do Desporto», a qual apelidou de «apelo político», Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se hoje em tom crítico à Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto, afirmando que a divisão, precisamente, entre actividade desportiva e desporto, que ela preconiza, «é um pecado mortal, porque uma coisa não se pode dissociar da outra».
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O professor Marcelo Rebelo de Sousa falava na sede do C.O.P. no lançamento da obra «Em Defesa do Desporto – Mutações e Valores em Conflito», coordenada por Jorge Olímpio Bento e José Manuel Constantino e editada pela Editora Almedina, com o apoio do Comité Olímpico de Portugal.
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«Todas as pessoas deviam ler este livro, a começar pelos governantes. É preciso colocar o desporto na agenda política, porque é um tema da maior importância, quando se fala de Educação. O Desporto é uma boa causa para os nossos tempos», afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, que considerou esta obra um primeiro passo muito relevante, que precisa de uma sequência, inclusive com o recurso a meios áudio-visuais.
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«É preciso não deixar arrefecer este entusiasmo», reforçou.
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O apresentador da obra, praticante diário de desporto, fez uma análise do carácter transversal, universal e secular do desporto, da Antiguidade ao pós-contemporâneo, defendendo-o como uma causa civilizacional em várias dimensões, com especial incidência na sua importância na educação e no ensino – que considerou subalternizarem em Portugal esta disciplina fundamental à vida humana.
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E concluiu que os diversos ensaios que compõem a obra ajudam a compreender e a estimular a defesa do desporto, apontando-o como um instrumento fundamental para estudantes, professores e desportistas em geral – no fundo, todas as pessoas, mesmo as que abominam o Desporto, mas acabam por fazer caminhadas regulares, nem que seja na luta contra a obesidade.
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Vicente Moura céptico
Na apresentação do livro coordenado por José Manuel Constantino e Jorge Olímpio Bento, o presidente do Comité Olímpico de Portugal considerou que a actual Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto, «muito surpreendentemente, fractura o conceito integrador preconizado pelas instâncias da União Europeia, opondo a actividade física à prática desportiva regular e de alto rendimento».
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No seu discurso, Vicente Moura reafirmou que não se opõe à mudança, «muito pelo contrário, como atesta o percurso do Comité ao longo da última década», mas declara-se «contrário à estatização e partidarização do Desporto».
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O C.O.P. e o movimento associativo – declarou – «olham com cepticismo a deriva errática, conceptual e legislativa», concluindo que neste milénio pouco foi acrescentado e «persistem metas por alcançar e muitas etapas por cumprir, de que são exemplo o baixo índice de prática desportiva, atestado pelo Eurobarómetro».
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O dirigente olímpico defendeu mais uma vez um «desporto organizado, competitivo, sustentável, mas respeitador das regras, regulado, mas nunca estatizado, juridicamente ordenado, mas nunca amordaçado, fiscalizado como tudo na coisa pública, mas preservando autonomia gestionária e o respeito dos órgãos legitimados».
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«Em Defesa do Desporto»
Vicente Moura foi o autor do prefácio da obra agora publicada, uma colectânea de textos de «reputados especialistas do sector desportivo», a quem agradeceu por terem sabido associar o C.O.P. a esta produção.
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O C.O.P. não teve dúvidas em se associar aos autores, no quadro do Programa de Apoio à Produção Editorial, previsto no programa eleitoral para a XXIX Olimpíada – referiu.
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«Em defesa do Desporto – Mutações e Valores em Conflito» reúne ensaios de múltiplos autores que olham o Desporto «de modo a revelar a multiplicidade dos seus aspectos e a afirmar a sua valia pedagógica, cultural e social, antropológica e axiológica».
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A edição é coordenada por Jorge Olímpio Bento, Presidente da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e da Comissão Multidisciplinar do C.O.P., e por José Manuel Constantino, presidente da Oeiras Viva, membro da Academia Olímpica de Portugal e antigo presidente do Instituto do Desporto de Portugal.
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Os autores vêem o Desporto moderno como «emanação e expressão dos princípios básicos da sociedade industrial, tendo como referência cimeira e estruturante, o princípio do rendimento», tendo-se transformado numa «pluralidade de motivos e finalidades, de sujeitos e praticantes, de modelos e cenários», à medida que a própria sociedade evoluiu.
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junho 29, 2007

Para já, está nas nossas mãos...

Se para nós, professores de Educação Física, a fundamentação desta área disciplinar é indiscutível e todos nos esforçamos por fazer um trabalho sério, pedagógica e cientificamente, por vezes esquecemo-nos que, no seio da própria escola, esta realidade não é, de todo, conhecida.
De vez em quando, surgem aquelas “bocas” que a nós nos parecem antiquadas e ultrajantes para a nossa condição profissional: quando se discute a importância da avaliação nesta disciplina ou quando nos “chutam para canto" sem mais nem menos, a propósito duma qualquer questiúncula, relativamente à qual nem passa pela cabeça dos nossos colegas colocar a EF ao mesmo nível de qualquer outra. Sentimo-nos tentados a indignar-nos e a hostilizar de volta os nossos interlocutores.

Mas, colegas, frequentemente essa estratégia não é a melhor solução. Acreditem que na maioria das vezes este comportamento não pretende mesmo ser ofensivo.
E isto é verdade, não é só ingenuidade! É que muitos colegas não fazem ideia do que é a EF actualmente: dizem lembrar-se dumas pandeiretas e duns equipamentos desconfortáveis… Uma colega, há uns tempos disse-me que havia uns jogos de Futebol de rapazes e as raparigas iam até lá, para bater palmas. São estas as suas referências!

Quando nos ouvem falar em Patinagem, Hóquei em Patins, Escalada, Chá-chá-chá, até chegam a perguntar se isso se passa lá na escola!! Ou se é alguma actividade extracurricular! Já para não falar da admiração que expressam quando se apercebem que afinal, na Educação Física, também existem preocupações com a transmissão dos valores da nossa cultura, como é o caso dos nossos Jogos e Danças Tradicionais Portugueses !!

Há pouco tempo, em conversa com uma colega que eu prezo bastante, sobre as actividades desportivas da sua filha, registei a seguinte afirmação, que me deixou incrédula: “Para mim essas coisas da ginástica – referindo-se à vela – são completamente anti-natura!” Mas o facto é que se preocupa, que eu sei, que a filha pratique desporto, porque lhe reconhece benefícios. É evidente que lhe expliquei, com paciência, que anti-natura é a nossa capacidade actual em nos mantermos sentados durante horas e obrigarmos os miúdos a habituarem-se a esse estilo de vida. Se resultou? Espero que sim. Acredito que sim… e que são precisas estas intervenções localizadas, para mudar algumas mentalidades.

Mas o que mais me preocupa nem é isso: acho que neste momento todo o cuidado é pouco e parece-me que há grandes disparidades na postura nos nossos colegas de EF quanto à avaliação:
- uns assumem publicamente que não se importam de colar a nota de EF à média do aluno “para não o prejudicar”!!
- outros parece que estão a aproveitar o “poder” da avaliação para “mostrar quem manda”!!

Qual destas a mais perigosa para a implementação das medidas mais recentes…Qualquer uma delas por si só e ambas, em conjunto, podem deitar a perder aquilo que nos está a ser oferecido, neste momento. Para já, está nas nossas mãos, … mas pode deixar de estar!

Susana Marques

junho 26, 2007

Cursos de Educação e Formação (CEF)

Só o nome dá para arrepiar. Educação e formação? Mas, adiante…
Estes cursos de formação profissional acelerada não dispensam a Educação Física. O CEF de electricistas de instalações, por exemplo, prevê um total de 30 horas anuais de Educação Física. A pergunta que se impõe, antes mesmo de conhecer a ambição dos autores dos programas, é a seguinte: ensinar o quê em 45 minutos de aula por semana?
Estou aberto a sugestões...

A escola do faz-de-conta está prestes a implodir!

junho 22, 2007

SNEP

Em França, - devido à grande dinâmica autónoma dos professores de Educação Física em torno das questões que dizem respeito à profissão e à EF - , desde há dezenas de anos que existe um sindicato nacional dos professores de EF, o SNEP.
Actualmente em luta dado que vários dos direitos dos professores e das horas dedicadas à EF e ao Desporto Escolar estão a ser cortadas, este sindicato possui um site na internet que pode ser visitado aqui.
Mas não se pense que este sindicato tem uma visão corporativa e isolada da profissão e da EF. Encontra-se solidáriamente unido dentro de uma Federação de Sindicatos da Educação, a FSU, que é a mais representativa das estruturas sindicais docentes em França e que representa todos os níveis da Educação.
É realmente de relevar e aplaudir que professores de uma área específica tenham conseguido, pela capacidade e dinâmica historicamente adquirida, apresentar uma capacidade organizativa como esta.

junho 15, 2007

Ensino do jogo

Com a publicação do livro "O ensino dos jogos desportivos" em 1994, o Centro de Estudos dos Jogos Desportivos (CEJD) da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto deu voz a um movimento de renovação das ideias e das práticas de ensino dos jogos desportivos colectivos iniciado no âmbito das didácticas e das metodologias especificas das respectivas modalidades desportivas, o basquetebol, o futebol, o voleibol e o andebol. A ambição era então, tal como hoje, colocarmo-nos na linha da frente do esforço de reconceptualização e de investigação do ensino dos jogos, acompanhar as correntes mais avançadas e, sobretudo, influenciar as práticas de ensino nas escolas e nos clubes desportivos.

A nível internacional, o Modelo de Ensino de Jogos para a Compreensão (Teaching Games for Understanding – TGfU) constituiu-se como uma poderosa força de influência e um fórum de debate e de pesquisa sobre os programas, os propósitos, os conteúdos e os processos de ensino e os problemas de aprendizagem dos jogos desportivos, realizando sob seu lema uma conferência internacional, cuja quarta edição será organizada no próximo ano pela Universidade de British Columbia em Vancouver.

Outra referência capital para o movimento de reforma do ensino dos jogos é o modelo de educação desportiva, concebido por Siedentop, cuja aplicação tem sido também investigada em diferentes contextos de ensino. Em ambos os modelos, as linhas de ruptura com as abordagens mais tradicionais situam-se não apenas ao nível dos conteúdos a privilegiar, mas também ao nível dos métodos e estratégias de instrução, ao nível da configuração dos papéis e responsabilidades de quem ensina e quem aprende e ao nível dos contextos e cenários de aprendizagem. Evitando a cristalização destes modelos, a investigação tem procurado desenvolvê-los e refiná-los, assim como tem ensaiado modelos híbridos, adaptados às especificidades culturais e sociais de diferentes países.

Para além destes modelos curriculares que emergem e se desenvolvem no seio da comunidade académica através dos ensaios, da crítica e da investigação empírica, temos as concepções pessoais e as práticas de ensino dos jogos que os professores e treinadores desenvolvem a partir das perspectivas que filtram dos modelos curriculares formais, das diferentes tradições de ensino dos jogos, e das soluções que constroem a partir da sua experiência. A aproximação entre os modelos curriculares formais e os modelos pessoais de ensino dos jogos reclama a aproximação, o diálogo e o conhecimento mútuo das perspectivas de quem está primordialmente interessado em estudar o ensino do jogo e quem tem a incumbência de efectivamente o ensinar. A investigação das práticas de ensino dos jogos, indagando os propósitos e os valores subjacentes, a natureza e arranjo e os contextos sociais das actividades e tarefas de aprendizagem, de treino e de competição, as concepções, os papéis e as avaliações dos diferentes intervenientes no processo de ensino e aprendizagem, pode gerar conhecimento de grande relevância para a melhoria do ensino e para uma melhor compreensão do potencial educativo dos jogos desportivos.

Amândio Graça

PS: resumo da conferência a apresentar ao I Congresso Internacional dos Jogos Desportivos, Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, 12 a 14 de Julho de 2007

http://www.fade.up.pt/congressojd/

junho 07, 2007

Sugestão de sites sobre TGFU.

Tim Hooper é um professor universitário canadiano que disponibiliza já, há varios anos, um site onde se encontram muitos textos e materiais relativos à EF. Este professor está muito envolvido na corrente TGFU, Teaching Games for Understanding, que é uma corrente "nova" de ensino dos jogos, lançada no início dos anos 80 por professores ingleses e que trouxe uma nova respiração à forma de ensinar os jogos alternativa à forma tecnicista tradicional.
Eu sou um fã desta corrente, digo desde já. Nela encontro muito de interessante para o trabalho e a atitude dos professores de EF.
A ligação para para o site de Tim Hooper.
Outras ligações interessantes sobre esta corrente:
-um site com videos interessantíssimos de um fundador desta corrente: Thorpe.
-um site que pretende ser a divulgação institucional da corrente. Neste site pode-se encontrar o 1.º livro em .pdf sobre a corrente, assim como vários artigos fundadores.
Depois de lá passearem, , caso não os conheçam, talvez possamos falar um pouco sobre a corrente.

maio 29, 2007

Medida sensata!

Comunicado do Conselho de Ministros de 24 de Maio de 2007

"Decreto-Lei que procede à segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março, estabelecendo novas matrizes para os currículos dos cursos científico-humanísticos do ensino secundário

[...] Consagra-se, ainda, o fim da redução da carga horária semanal na disciplina de Educação Física, por se considerar estarem reunidas as condições logísticas para que esta disciplina funcione com duas unidades lectivas semanais.

[...] Estes reajustamentos ao currículo, que manterão o actual regime de avaliação, entrarão em vigor para o 10º ano no próximo ano lectivo e sucessivamente nos anos seguintes para os 11º e 12º anos."

Escola Pública quem és tu?

Apesar dos momentos difíceis que a Escola e o Sistema Educativo atravessam continuo a gostar de ensinar. Sou professora por convicção. E é exactamente porque vivo a Escola que estou preocupada com a confusão que se está a instalar no sistema educativo. Falo de programas, de rigor, de motivação, de organização, de igualdade, de estigma, de criatividade e de outras “coisas” que se relacionam com o “pulsar” da escola e da comunidade escolar. Antes que, também eu comece a ficar confusa, gostava de lançar algumas questões para partilhar a minha angústia face ao que está a acontecer. Não podemos assistir de “braços cruzados” àquilo que diz respeito a todos nós.

  • Porque continuam, os nossos governantes, a ignorar que existe uma grande percentagem de alunos a quem a escola e o gosto por aprender pouco ou nada dizem?
  • Porque insistem em querer ensinar conteúdos, embora falem de objectivos e competências, que se afastam dos reais interesses e motivações dos seus destinatários? Conhecerão os fazedores dos programas a Escola real?
  • Estará a Escola verdadeiramente empenhada em promover aprendizagens significativas para os alunos?
  • Não será desejável que o rigor e a exigência da Escola coabitem com a diferença?
  • O que mudou realmente na Escola?
  • Quem mudou na Escola?
  • O que é necessário mudar na Escola?
  • O que precisamos de fazer para que a Escola mude efectivamente?
Sem querer ferir susceptibilidades atrever-me-ia a dizer que a sociedade tem vindo a mudar mas a Escola pouco ou mesmo nada mudou. Nada daquilo que é essencial. A Escola foi aceitando como “normal” algumas práticas e comportamentos sem reflectir sobre as suas causas e efeitos.
Julgo ter havido pouca criatividade na elaboração dos currículos destinados aos alunos com dificuldades. Sim, digo com dificuldades porque não adianta escamotear este facto. Será correcto submeter estes alunos a um mesmo currículo? Quem deverá decidir? O aluno e o Encarregado de Educação? Terão eles argumentos para esta decisão? Este é um problema que se agrava quando falamos dos alunos que não gostam da Escola, isto é, aqueles que não querem aprender. O que fazer com estes alunos? Se é preciso mantê-los na Escola, porque não lhes ensinamos outras “coisas”? Porque insistem em querer ensinar-lhes Matemática se a Aritmética pode ser mais importante para a suas vidas? Este é só um exemplo, poderíamos arranjar muitos outros. Como podem estes alunos ter sucesso? Por favor, não confundam sucesso com nota positiva para passar. A isto chama-se camuflagem do insucesso. Este não é um caminho sério.
Falando de estigma, alguns agentes educativos, não concordam com a formação de turmas homogéneas. Não é esta uma forma de respeitar os ritmos de aprendizagem dos alunos? Não estaremos a descurar os bons e os muito bons? Não estará a Escola Pública de costas voltadas para os alunos bons? Não estará a Escola a pautar os seus horizontes e a nivelar o seu rigor por baixo? Penso que a Escola e os Professores não podem conduzir a sua acção só, ou na maioria das vezes, em função dos alunos problemáticos e dos alunos com dificuldades de aprendizagem. A Escola tem de ter um rumo bem definido e não pode desviar-se nem demitir-se das suas funções.

Clementina Campelo

maio 20, 2007

Parabéns

Ontem Telma Monteiro venceu a Taça do Mundo e obteve o apuramento para os próximos jogos olímpicos de Pequim.
Vanessa Fernandes está em primeiro lugar no ranking do Triatlo feminino.
Naide Gomes ainda recentemente obteve outro excelente resultado.
Parabéns a estas excelentes atletas.

maio 15, 2007

PEPSTEAM

Se no que respeita a blogs de Educação Física em França, a blogosfera é ainda muito raramente povoada, já no que concerne a sites sobre esta nossa matéria a França está muito bem representada tanto do ponto de vista institucional como de sites pessoais.
A sugestão que vos trago hoje é a de uma verdadeira plataforma de recursos em EF, - Pepsteam, - feita por professores e estudantes de EF, gratuíta e aberta a todos os que se queiram inscrever. É um verdadeiro mundo de recursos variados sobre os vários temas e actividades ligados à EF e desporto.
É preciso dizer que um facto que move muito os professores de EF em França é a necessidade de realização de algumas provas escritas e orais durante a carreira de professor. Daí a existência de um conjunto largo de materiais que têm a ver com esse tipo de provas.
Resta dizer que quem queira lá inscrever-se tem o dever de conhecer e respeitar as regras da casa, como é de bom tom em todo o lado.

maio 03, 2007

Caladinhas e quietinhas…

A desqualificação da actividade docente persegue objectivos económicos claros: A redução da despesa pública. É um fenómeno perverso pelos seus efeitos na qualidade das práticas educativas; É um fenómeno oportunista porque busca a legitimação em baldios pedagógicos, como por exemplo, a oferta da educação física no 1º ciclo do ensino básico; É um fenómeno contagioso porque poderá alastrar a todo o ensino básico e secundário.

As recentes medidas legislativas de generalização da oferta do desporto escolar [no prolongamento horário] às escolas do 1º ciclo do ensino básico oficial tipifica este desígnio económico. As autarquias assumem as competências de organização da actividade física sem existir a garantia de condições de praticabilidade e de recursos humanos qualificados. Hoje, é perfeitamente possível “leccionar” desporto escolar num pátio de escola, num vão de escada ou numa sala exígua, orientado por monitores ou alunos “pré-licenciados”. A precariedade no emprego empurra licenciados de educação física para este tipo de cenários tornando-os coniventes com a sua própria desqualificação.

Apesar de continuar a existir a obrigatoriedade da Expressão Físico-Motora no plano curricular do 1º ciclo do EB, a possibilidade da oferta de escola de DE acaba por ter uma efeito dissuasor nos professores titulares, o que conduzirá, a breve prazo, ao afastamento desta área dos referenciais curriculares do 1º ciclo, por falta de uso.

É verdade: Já ouvi manifestações de desagrado das associações profissionais de Educação Física… só que sussurram entre dentes…; Já ouvi vozes discordantes oriundas de instituições de formação de professores de Educação Física… só que sabem a papel de música…

Atendendo a que o individualismo faz escola na escola e não é previsível que alguém se atreva a encetar uma luta particular contra este estado de coisas, pergunto se as estruturas associativas e as escolas formadoras de professores estão à espera que este governo caia de podre?

maio 01, 2007

Professor Hermínio Barreto

Hermínio Barreto é um dos nossos melhores. Quem teve o prazer de o ver em acção sabe como a pedagogia pode ser uma arte. Da minha parte não perco uma oportunidade para ver essa arte em acção quando sei o professor Hermínio vai estar, publicamente, em algum lado.
Há alguns anos que, a propósito do Basquetebol que é o seu desporto de sempre, este professor vem falando daquilo que é necessário para que os aprendizes no estádio mais inicial de aprender o jogo, o possam aprender, de uma forma acessível e adequada. De todos os ensinamentos, um, o da "dosagem da distância" consubstanciado na protecção que se deve dar ao jogador em situação de atacante com bola, parece-me ser simultâneamente o mais importante e o mais descurado na prática dos professores e dos treinadores de jovens principiantes. Quantas vezes vemos professores e treinadores a permitirem que os defesas espontaneamente inviabilizem toda a possibilidade de os atacantes com bola jogarem com o mínimo de intencionalidade. Isso parece-me ocorrer (generalizadamente e infelizmente) no ensino de todos os jogos de invasão. É algo que urge consciencializar e modificar.
A este respeito temos acesso a um texto de um nosso colega de blog, o Amândio, que é simultâneamente um reputado especialista no ensino dos desportos colectivos em geral e do Basquetebol em particular. Um excelente texto ("A Dosagem da Distância - deixe o possuidor da bola respirar para o jogo poder evoluir") este que damos aqui a conhecer a quem porventura não o conheça e que foi publicado no livro "O Basquetebol e a Pedagogia de Hermínio Barreto" da FCDEF-UP, editado pelos professores Fernando Tavares e Amândio Graça. Este texto está online no site do Electronic Sport Education Program que dá a conhecer investigações europeias sobre estas temáticas e apresenta um conjunto de produções audo-visuais muito interessantes para todos os professores de EF.
Estou em querer que não será esta a última vez que falámos neste nosso blog do professor Hermínio...

abril 26, 2007

EF: em francês ou inglês.

Ainda há minutos, em conversa com o Miguel Pinto, reflectia sobre o facto de se encontrar muito material informativo de boa qualidade em língua francesa sobre Educação Física. Já em língua inglesa não se encontra quase nada, é tudo pago.
Gostava de perguntar aos passantes aqui pelo blog qual é a língua estrangeira da sua preferência na obtenção de conteúdos técnicos.
Desde já, eu, como francófono, vou deixar aqui em vários posts algumas referências deste tipo de conteúdos.
Começo por vos indicar um site dum professor francês de EF num liceu profissional, que é uma verdadeira plataforma de conteúdos e de links. É o site do professor Bernard Lefort. Nele podem encontrar conteúdos das várias modalidades ensinadas; links para outros sites especializados em EF ou em modalidades desportivas; instrumentos e materiais de ensino; imagens; vídeos. Enfim um manancial de conteúdos de livre acesso.
Desfrutem e, por favor, depois de por lá passarem digam qual foi a vossa impressão.

abril 23, 2007

Natação como prática cultural

O desporto (e a Educação física) é essencialmente uma prática cultural carregada de história. É nesse enquadramento social e humano e em toda a riqueza que ele apresenta (sem esquecer as suas derivas) que ele deve ser lido.
Trago-vos aqui um link para um conteúdo delicioso sobre a evolução das práticas da natação e das concepções do seu ensino ao longo do tempo, muito enriquecido por imagens e vídeos históricos.
Espero que gostem tanto como eu.
"De l’art de nager à la Science de la Natation
Evolution des conceptions Biomécaniques, Techniques et Pédagogiques"

Para quem quiser aproveitar recursos técnicos actuais sobre Natação do mesmo autor, ver também outro link aqui.

abril 19, 2007

Em conversa com uma colega em busca de tema para a sua dissertação de mestrado, reflectimos acerca dos currículos de EF para o Secundário, tal como outras que tive com outros colegas, a reflexão ficou-se pelas modalidades a abordar, o número por ano lectivo e os critérios de escolha. A questão centrava-se essencialmente se os professores cumprem não com o que o programa determina e se será ou não adequado para os objectivos da disciplina.

A conversa fez-me passar novamente pelo calhamaço do programa e relê-lo, na esperança de encontrar falhas na minha interpretação e desta forma, melhorar o conhecimento, julgo aprofundado, que tenho do documento. Logicamente que voltei a pensá-lo e confesso que, embora partilhando da preocupação legal da colega, não me parece ser a questão de substância a levantar.

Julgo que não foi esgotada a reflexão acerca da importância da disciplina (não no sentido de dizer se é ou não importante, mas no sentido de clarificar onde é que ela pode ajudar o jovem no seu processo de desenvolvimento de competências pessoais e sociais). Este debate e consequente clarificação da disciplina levará à necessidade ou não (acredito piamente que sim, mas é só o meu ponto de vista) da reformulação dos objectivos e, por consequência, a reformulação do referido calhamaço programático.

Faço-vos notar que se a escola está a mudar é porque a sociedade assim a obriga, vai daí o desporto como fenómeno social também exige o mesmo, já que os seus objectivos, as suas funções, fruto das novas necessidades sociais (umas mais importantes que outras) vão se adaptado. Tendo a EF como seu “instrumento de trabalho” o desporto, parece-me lógico que olhe para si com olhos de mudança.

Finalizo colocando a ênfase no ponto de vista que defendo, ou seja, não sugiro uma reformulação de conteúdos (embora deva haver uma preocupação continuada de os actualizar, face às predilecções e às necessidades dos jovens estudantes), mas sim uma reformulação dos seus objectivos, partindo de um redimensionamento do desporto e das suas funcionalidades, enquanto instrumento de desenvolvimento psicossocial de grande valia.

abril 18, 2007

Está garantido…

(importei este texto do outrÒÓlhar, com uma ligeira adaptação)

Nada me move contra o ensino privado. É verdade que sou um defensor incondicional de uma escola pública de qualidade mas não tenho qualquer reserva (ideológica ou emocional) contra o ensino privado. Não me sinto inclinado, portanto, a adoptar um discurso maniqueísta de sentido contra-hegemónico, em que de um lado está o “bom”, o ensino público, o referencial ético, e do outro está o “mau”, o ensino privado, atreito à trapaça e ao ardil.

Mas, há coisas que dão que pensar, lá isso dão!…

Esta semana realizam-se os pré-requisitos para o acesso aos cursos em Educação Física e Desporto. Os alunos submetem-se a uma bateria de testes que avaliam a aptidão para a realização de actividade desportiva. Para quem não acompanhou a implementação da actual reforma do ensino secundário, convém dizer que foi abolida a disciplina de Desporto e que os alunos que desejam prosseguir estudos nesta área, contam apenas com as aulas de Educação Física para desenvolverem a aptidão funcional e física. Atendendo ao carácter generalista das aulas de Educação Física, a preparação dos alunos está condicionada à oferta de actividades desportivas não-escolares, custeadas pelos próprios, e à carolice de alguns professores de Educação Física que, fora de horas, “inventam” aulas extraordinárias gratuitas. Não ouso dizer que esta alteração (abrupta) no plano de estudos decorreu de uma vontade em estimular um “novo” mercado a partir das insuficiências da escola – o mercado da oferta desportiva. Creio que o problema é bem mais simples de explicar: foram apenas erros grosseiros de planeamento que fizeram avançar uma reforma curricular sem cuidar da articulação ensino secundário/ensino superior.

Voltando ao assunto, os alunos sentem-se, naturalmente, inseguros. É uma insegurança que decorre das circunstâncias em que os alunos se prepararam para estes pré-requisitos. Nas suas conversas revelavam muita apreensão, alguma revolta, uma atitude defensiva, e um (pré)juízo do que significa o ensino privado:
A instituição escolhida para a realização dos pré-requisitos era uma instituição privada, para os quais terão despendido cerca de 150€, três vezes mais do que pagariam numa instituição pública.
Perguntei-lhes porquê. Se as regras, as marcas, os testes, são comuns às instituições do ensino superior, por que carga de água é que decidiram pagar três vezes mais pelo mesmo.

- Está garantido, está garantido professor…
- Está garantido?...

Este episódio suscita várias questões (e limito-me a destacar apenas duas que estão directamente ligadas):
As representações dos alunos acerca do ensino privado parecem assentar em pressupostos económicos e em lógicas de prestação de serviço em que o cliente “pagador” admite apenas uma resposta do prestador: a satisfação das suas necessidades. Por esta perspectiva, os testes e os pré-requisitos serão meros formalismos que não devem ser dispensáveis, na medida em que legitimam a relação mercantil?
De que forma as instituições do ensino superior público defendem os interesses dos alunos que as procuram? Ou melhor, de que modo é garantido o princípio da equidade e da justiça no acesso ao ensino superior?
...

abril 15, 2007

O ensino do Voleibol na escola e não só...

"Qualquer que seja o desporto colectivo, o algoritmo coloca o portador da bola no primeiro papel:
-se ele pode atirar directamente deve atirar;
-se ele não pode atirar directamente, deve progredir para atirar;
-se ele não pode progredir então passa a bola a um colega.
O outro, o colega, não entra em jogo a não ser quando o portador esgotou as soluções para marcar sozinho. Esta lógica é, parece-nos, esquecida no voleibol escolar..."

In Evolução da correlação de forças entre o ataque e a defesa em voleibol escolar e proposições de conteúdos. De Samuel Lepuissant.

O excerto que citei em cima (tradução do francês da minha responsabilidade) é um dos exemplos, raros ainda na prática, de uma forma diferente de ver e interpretar o ensino dos desportos colectivos. Em vez de uma análise e uma prescrição a priori de conteúdos de ensino, o autor procede dialecticamente (penso ser o termo mais preciso). Armado com um conhecimento aprofundado(incluíndo da evoluição histórica) do jogo, e procedendo a uma análise concreta e insubstituível do que acontece no jogo jogado pelos alunos (não economizada pela idealização de uma vontade), o autor dá ideia de caminhos a seguir e dos conteúdos a aprender.
O que é válido para o Voleibol escolar, que é neste texto objecto de uma crítica incisiva, é, a meu ver extensível a muitas das matérias da Educação Física Escolar, a começar pelos restantes desportos colectivos.
Espero que disfrutem como eu tenho disfrutado deste texto (e que o vosso francês o permita ler).

abril 04, 2007

Reformas da educação, paradoxos e mistificações

A actual ministra da educação ganhou fama de corajosa reformista junto da comunicação social dita séria, em especial dos fazedores de opinião de pendor neoconservador e neoliberal, para quem tudo quanto mereça a oposição dos sindicatos dos professores só pode ser benéfico para a educação. Aliás o comentário político em Portugal cultiva a superficialidade estética, olhando mais para o estilo da intervenção e para as reacções que provoca do que para a substância, para os fundamentos e finalidades, para os quês e os porquês.
Não há como negar a necessidade de reformas. A escola tem que se organizar melhor para funcionar melhor, para enfrentar as dificuldades do insucesso educativo, para se adaptar e responder às transformações da sociedade, com os seus novos problemas e desafios.
É fácil dizer que as mudanças custam; as pessoas, os professores em especial, são resistentes às mudanças; as corporações colocam os seus interesses particulares acima do bem comum, dos interesses superiores da sociedade; as organizações, como as escolas, padecem de uma inércia endémica e duma capacidade de arruinar, subverter, ou dissipar todo o intento reformista. Apesar de tudo isso, se nos fosse dado ver em filme o quotidiano das crianças, dos jovens e das escolas de há 100 anos, de há 50 anos, de há 30, ou de há 10 anos atrás a funcionar nos diferentes espaços, salas de aula, biblioteca, ginásio, cantina, recreios, etc, por certo nos aperceberíamos de que muita coisa mudou, e de que em muitos aspectos mudou radicalmente.
Porém, nos nossos dias, mudar transformou-se magicamente num valor próprio, independentemente do sentido da mudança, dos seus pressupostos, fundamentos e finalidades. As propostas de mudança são proclamadas em nome da qualidade e qualificação, da eficiência e sucesso educativo, do profissionalismo, profissionalização e profissionalidade, da responsabilidade, do accountability, da autonomia, iniciativa, criatividade, do trabalho em equipa e de outros meritórios desígnios.
O primeiro paradoxo é que os conservadores por tradição avessos à mudança, defensores da tradição, apresentam-se hoje na linha da frente da mudança, batendo-se por uma nova ordem social, que passa em grande medida pela desacreditação da escola pública em favor de educação privada, subvencionada pelo estado, e de preferência tutelada por instituições ligadas à igreja. A ministra tem dado uma grande ajuda através de declarações de apoucamento das escolas e dos professores.
O segundo paradoxo diz respeito às declarações de amor e juras à prioridade da educação, à aposta na qualidade ao mesmo tempo que se reduz o orçamento da educação e das escolas, muito em especial no que diz respeito à remuneração dos professores, ao congelamento de carreiras, à precarização da contratação docente.
O terceiro paradoxo tem a ver com a proclamação da profissionalidade docente em contraste absoluto com a diminuição do espaço de decisão autónoma e de iniciativa dos professores, com a descaracterização da função docente, nomeadamente com aulas de substituição destituídas de propósito pedagógico, com a excessiva carga burocrática que se impõe aos professores, reuniões, planos, relatórios que servem mais as exigências de uma burocracia formal do que necessidades educativas. Há hoje zelosos conselhos executivos que inventam tarefas para que os professores nunca estejam desocupados quando não têm aulas; o trabalho de equipa é burocratizado, os projectos interdisciplinares são sujeitos a horários prefixados; hoje há sinais evidentes de um processo de desprofissionalização que começou com a subcontratação de mão-de obra barata para leccionar inglês e educação física no primeiro ciclo e com a introdução dos contratos individuais de trabalho.
Para além destes, outros paradoxos e mistificações existem, a maior das quais é aquela que em nome da racionalidade económica, da gestão eficiente dos recursos, quer fazer das pessoas peças programáveis, reprogramáveis e descartáveis, para usar e deitar fora, ao serviço dos superiores interesses da sacrossanta economia e da competitividade global.

Amândio Graça

abril 01, 2007

Pedagogia de ponta?...



"A única forma de influenciar o comportamento dos outros é através do exemplo."
Albert Schweitzer, prémio Nobel da Paz de 1952, citado no livro "O Desporto e as Estruturas Sociais" de José Esteves, professor de EF que é uma referência para os seus pares.

março 20, 2007

Síntese da JORNADA DE REFLEXÃO PARA PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA

"No dia 9 de Março de 2007, entre as 15 e as 17 horas, realizou-se no Auditório da Faculdade de Desporto, uma Jornada de Reflexão para Professores de Educação Física, promovida pela Associação de Antigos Alunos (AAA) da FADEUP e com o apoio desta.
Estiveram presentes cerca de 50 professores, tendo sido debatidos os seguintes assuntos:
Ponto prévio
Numa nota introdutória de boas vindas, o Presidente do Conselho Directivo da FADEUP salientou a importância de nos unirmos numa altura tão particular como esta que estamos a viver, porquanto constitui um desafio para todos “encontrarmos uma agenda comum que nos alimente…”
Seguidamente o Presidente da Direcção da AAA, enquadrou a organização desta Jornada num conjunto de iniciativas que a Associação pretende levar a efeito até ao fim do presente ano lectivo, altura em que haverá eleições para os novos corpos gerentes. Assim, esta Jornada surgiu da necessidade sentida pelos professores de Educação Física em debaterem um conjunto de questões relacionadas com diversos temas, nomeadamente, o processo de Bolonha, o Estatuto da Carreira Docente e a Avaliação da Educação Física no Ensino Secundário.

Tema 1 - Avaliação da disciplina de Educação Física no Ensino Secundário: Depois do Decreto-Lei nº 74/2004 não prever nenhum regime de excepção para a avaliação da disciplina de Educação Física, que passaria a ser contabilizada no cálculo da média para o ingresso ao ensino superior, têm-se levantado várias vozes tentando contrariar esta decisão. Para além de várias Associações de Pais, que propõem pura e simplesmente abolir a classificação da disciplina de Educação Física, surgiu uma recomendação para que se considerasse a possibilidade dos alunos optarem, ou não, por contabilizar a disciplina de Educação Física na sua média de ingresso ao ensino superior. Depois de ouvidas várias opiniões, que unanimemente recusaram aceitar este movimento pró desvalorização da disciplina de Educação Física, ficou decidido que a AAA iria tomar uma posição firme em defesa da manutenção da classificação da disciplina de Educação Física para efeitos do ingresso no Ensino Superior, tal como prevê a legislação em vigor. A Direcção da AAA assumiu a responsabilidade de redigir um texto que depois poderá também ser assumido pela FADEUP e que terá a respectiva divulgação.

Tema 2 – O ensino das actividades físicas e desportivas no 1º Ciclo do Ensino Básico: Da reflexão em torno da disciplina de Educação Física no Ensino Secundário passámos para a situação que se vive no 1º ciclo do Ensino Básico. Não sendo necessário referir a importância que tem nestas idades uma correcta e regular prática desportiva, os colegas que têm acompanhado neste ano lectivo as actividades de enriquecimento curricular denunciaram um conjunto de situações que urge não só aprofundar como tomar medidas firmes em defesa da Educação Física e do Desporto neste ciclo do ensino. Assim, as actividades de Expressão Motora, que deviam ser abordadas de forma sistemática conforme consta nos programas curriculares oficiais, passaram a ser opcionais. A propósito deste tema, várias perguntas ficaram no ar: Como é feito o recrutamento dos docentes? Qual o vínculo dos docentes contratados? Que vencimento e protecção têm os docentes? Quem controla e como faz? Quem efectivamente decide o plano das actividades a leccionar? Para quando uma efectiva aposta no Desporto no 1º ciclo? Estando a ser feita a avaliação da forma como estão a decorrer as actividades de enriquecimento curricular, iremos acompanhar este processo de maneira atenta, sendo esta uma das temáticas que mais atenção deve despertar.

Tema 3 – O processo de Bolonha… que implicações? Este é um assunto que levanta muitas dúvidas, por ser ainda recente, por não estarem ainda definidos todos os seus contornos e porque serão muitas as mudanças previstas. Nesta reunião foram explicados os fundamentos e objectivos do processo de Bolonha, tendo sido salientado que os responsáveis pela FADEUP, que têm acompanhado este processo, estão atentos e sensibilizados para, depois de estar definido qual o modelo seguido pela Faculdade de Desporto, encontrarem formas justas que possibilitem a integração e as devidas equiparações de todos no novo formato de formação e certificação profissional. Assim, sendo ainda prematuro avançar com certezas, este será certamente um assunto que merecerá num futuro próximo a maior atenção.

Outros temas – Como é natural, nesta reunião não se esgotaram todos os temas, nem houve tempo para aprofundar todas as dúvidas. Deste modo, foram ainda afloradas outras questões que oportunamente merecerão a maior atenção, nomeadamente: o concurso para professores titulares; as saídas profissionais para os recém-licenciados; a situação dos professores que estão requisitados nas Federações e que correm o risco de ser altamente prejudicados com o novo ECD; a avaliação dos Professores de Educação Física, quem a pode fazer e com que critérios; os critérios de avaliação e a forma como os grupos de Educação Física nas diferentes Escolas se têm organizado para fazer face à nova realidade; a formação contínua e a ligação da Faculdade de Desporto aos seus antigos alunos.

Foi uma reunião interessante que mostrou a todos os que estiveram presentes o quanto precisamos de juntar forças e de organizar momentos como este para aprofundar questões demasiado importantes para o presente e futuro da nossa profissão. Para evitar que esta continue a ser tão mal tratada e para pôr termo a tantos silêncios que acabam por ser cúmplices…
Ficou, assim, a vontade de continuar, talvez noutros dias da semana, ou do fim-de-semana, com outro horário, tendo sido ainda lançado um desafio a todos – continuar a partilha de ideias e dúvidas, promover a disseminação desta vontade de unir, estando atentos às mudanças, renovando a vontade de voltar à casa que nos formou e que pode/tem de ser, cada vez mais, um porto de abrigo onde nos podemos (re)encontrar.
Porto, 9 de Março de 2007"

março 17, 2007

março 06, 2007

Voltando ao artigo de André Escórcio

O texto de Escórcio leva-nos para uma reflexão que urge fazer e que de certa maneira venho defendendo. Nem vou ligar muito à questão das provas aferidas, ao contrário dele é assunto que não me motiva pelo absurdo da ideia. Acho que a Educação Física deve ser aferida mas não pelo conteúdo da disciplina, mas sim pelas mudanças comportamentais que pode e deve ser capaz de produzir, materializadas em trabalho de cariz prático (em minha opinião este é um desafio que se devia agarrar).

Mas outra reflexão colocada por Escórcio e com a qual discordo frontalmente é a dialéctica professor generalista/especialista. Confesso que acredito no valor da EF como mola impulsionadora de novos hábitos que conduzam a uma melhoria nas competências pessoais e sociais do adolescente em direcção à adultícia que se quer participativa, activa, solidária e saudável. O desporto dentro da EF pode e deve promover essas competências, caso contrário nem o desporto serve para nada, nem a EF faz o seu papel. Vai daí acredito no professor generalista no que se refere aos conteúdos desportivos a abordar e especialista na procura de estratégias para que o desporto possa e deva fazer o seu papel em direcção de desenvolver competências pessoais e sociais.

O outro desporto, aquele que está associado à vertente espectáculo e/ou profissional, pode e deve ser explorado na escola num contexto da formação específica, ou seja, ou se entrega à iniciativa privada os que querem evoluir para se tornarem artistas profissionais, ou se dá, legitimamente, a possibilidade de formação específica para quem, quiser continuar os seus estudos na área do desporto. Por outras palavras, quer ser atleta profissional vai para o clube, quer seguir estudos na área desportiva, vai para as opções ou tecnológicos, ou o que quiserem chamar de desporto, mas que não se confundam esses objectivos com os da EF.

Voltando ao texto de Escórcio duas outras questões merecem reflexão: a fraude na avaliação e a guerra entre lobbies.

De facto a avaliação corre o risco de ser uma fraude derivado ao fundamentalismo dos lobbies o da EF e o da Educação Desportiva. Há muito tempo que suspeito ser esta uma guerra tipo Norte/Sul ou Lisboa/Porto. O facto de ser ilhéu vejo que estas guerras só existem porque ambos querem ter a hegemonia, não porque querem colaborar para criar um país mais justo e homogéneo. Vai daí apelar que se discuta a EF e o Desporto sobre uma perspectiva humanista sem cair no exagero do fundamentalismo pedagógico que o há, nem nos deixarmos enredar pelo bichinho neoliberal que, me desculpe o Amigo Escórcio acho estar a influenciá-lo.

março 04, 2007

A CONTABILIZAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA MÉDIA DO ENSINO SECUNDÁRIO PARA EFEITO DE INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR. (cont II)

RECOMENDAÇÕES

A opção por qualquer dos cenários apresentados, na primeira parte deste documento, requer duas condições:
• O esclarecimento do enquadramento legal relativo à disciplina de Educação Física quanto: (1) à excepção relativa à atribuição de carga horária semanal que a disciplina constitui no contexto das demais disciplinas; (2) à vigência do Despacho n.º 30/SEED/95; e (3) à instância – Ministério da Educação ou Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - à qual compete a decisão quanto à consideração da classificação no cálculo da média para efeitos de acesso ao ensino superior.
• O levantamento das condições oferecidas pelo sistema para a sua leccionação e, em particular, da oferta e do desenvolvimento efectivos da disciplina de Educação Física, nomeadamente nos cursos profissionais e de educação e formação (designadamente no âmbito do ensino particular e cooperativo).
Sublinhe-se que a importância do ingresso no Ensino Superior nos trajectos biográficos, nos projectos de vida de alunos e respectivas famílias, bem como os investimentos simbólicos e materiais a eles inerentes, tornam esta questão particularmente sensível. A sua resposta, qualquer que ela seja, deverá ser assim clara e estar escorada numa fundamentação legal rigorosa.
Cumpre assinalar que não foram encontrados argumentos consistentes que permitam atribuir à disciplina de Educação Física um estatuto diferente do das outras disciplinas da componente de formação geral. Assumimos, porém, não existirem condições no debate público que viabilizem a defesa firme do cenário B. Assim, afiguram-se dois cenários que, não sendo os ideais ao nível dos princípios e da coerência do currículo, permitem responder a diferentes expectativas entretanto criadas pelos alunos e respectivas famílias: o cenário C e o cenário D. Do ponto de vista da coerência curricular o cenário C seria o mais defensável, no entanto, também aqui não existem condições para que os diversos intervenientes no processo, nomeadamente os ligados às outras disciplinas da componente de formação geral, partilhem desta perspectiva.
Face ao exposto, e apesar de se saber correr o risco da atribuição à disciplina de Educação Física de um estatuto menor, o GAAIRES recomenda o Cenário D, que permite pelo menos não defraudar as expectativas dos alunos que legitimamente investem ou podem vir a investir na disciplina.

A CONTABILIZAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA MÉDIA DO ENSINO SECUNDÁRIO PARA EFEITO DE INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR (cont. I)

Ponderados os constrangimentos abaixo enunciados é possível configurar os seguintes cenários.


Cenário A

A classificação da disciplina não é contabilizada no cálculo da média do ensino secundário para efeitos de acesso ao ensino superior.

Argumentos favoráveis

Diversidade na oferta efectiva da disciplina nas diferentes vias do ensino secundário;

Desigualdades nas condições das instalações, equipamentos e materiais dos estabelecimentos de ensino que oferecem a disciplina;

Pressão por parte dos alunos e famílias;

Diversidade de opções por parte dos professores, decorrente das modalidades propostas pelo programa em alternativa, por um lado, e condicionadas pelos recursos das escolas, por outro.

Argumentos contrários

Atribuição de um estatuto de excepção à disciplina de Educação Física no contexto das demais disciplinas e áreas curriculares;

Promoção de atitudes de pouco investimento na disciplina por parte dos alunos;

Legitimação do estado de coisas no que diz respeito à desigualdade das condições físicas e materiais dos diferentes estabelecimentos de ensino;

Prejuízo dos alunos que investem na disciplina e obtêm classificações elevadas.


Cenário B

A classificação da disciplina é contabilizada na média do ensino secundário para efeitos de acesso ao ensino superior.

Argumentos favoráveis

Igualdade de estatuto entre as disciplinas do currículo, designadamente as que integram a componente de formação geral ou equivalente em todas as vias do ensino secundário;

Importância da disciplina para o desenvolvimento dos alunos, no desenvolvimento de aptidões, atitudes e valores, proporcionadas pela exploração das suas capacidades mediante actividade física adequada, intensa, saudável, gratificante e culturalmente significante.

Argumentos contrários

Diversidade de características biológicas/genéticas dos alunos que se reflecte no seu desempenho;

Desigualdades nas condições das instalações, equipamentos e materiais dos estabelecimentos de ensino que oferecem a disciplina;

Diversidade na oferta efectiva da disciplina nas diferentes vias do ensino secundário;

Pressão por parte dos alunos e famílias;

Diversidade de opções por parte dos professores, decorrente das modalidades propostas pelo programa em alternativa, por um lado, e condicionadas pelos recursos das escolas, por outro;

Cenário C

O aluno poderá excluir uma das disciplinas do seu plano curricular, cuja classificação lhe seja menos favorável (podendo esta ser ou não a da disciplina de Educação Física), com excepção das disciplinas que integram a componente de formação específica.

Argumentos favoráveis

Maior equidade no acesso ao ensino superior, uma vez que ao aluno seria facultada a possibilidade de prescindir da classificação que mais o prejudicasse;

Maior equidade na consideração das disciplinas e do seu valor relativo.

Argumentos contrários

Dificuldade de aceitação, por parte de determinados sectores, da possibilidade de não serem consideradas as classificações de disciplinas como Português ou Filosofia, no cálculo da média para efeitos de acesso ao ensino superior;

Facilitação de atitudes de desinvestimento, por parte dos alunos, em disciplinas definidas à partida.


Cenário D

O aluno pode decidir se pretende contabilizar a classificação de Educação Física no cálculo da média para efeito de acesso ao ensino superior.

Argumentos favoráveis

A decisão cabe ao aluno, permitindo-lhe optar pela situação que mais o beneficie;

Promoção da valorização da disciplina por parte dos alunos que nela legitimamente investem ou poderão vir a investir.

Argumentos contrários

Iniquidade no acesso entre os alunos cujo plano de estudo inclui a disciplina de Educação Física e os alunos cujo plano de estudo efectivo não inclui a disciplina de Educação Física, por exemplo, alunos das escolas profissionais privadas em que esta não seja oferecida.

A CONTABILIZAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA MÉDIA DO ENSINO SECUNDÁRIO PARA EFEITO DE INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR.

Enquadramento do problema - (http://www.gaaires.min-edu.pt/ficheiros/relatorio/recomendacoes.pdf)

O Decreto-Lei nº74/2004 não prevê, no seu texto, qualquer estatuto excepcional da disciplina de Educação Física no cálculo da média do ensino secundário. Todavia, subsistem obstáculos à efectiva implementação deste princípio, geradas por:

a) Ambiguidade legal decorrente da não revogação explícita do Despacho n.º 30/SEED/9516. Este documento determinava que “transitoriamente, e enquanto o sistema educativo não garantir a todos os alunos do ensino secundário a frequência da disciplina de Educação Física, a classificação final obtida nessa disciplina não é considerada no cálculo da classificação final do ensino secundário para efeitos de candidatura ao ensino superior”. Como se expõe adiante, subsistem dúvidas sobre esta garantia de frequência, em particular no Ensino Profissional e no Ensino Recorrente.

b) Indefinição quanto à instância à qual compete a decisão sobre a consideração da classificação no cálculo da média para efeitos de acesso ao ensino superior17 Ministério da Educação ou Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

c) Possível inconsistência na legislação em vigor. Apesar de o texto do Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março não prever nenhum regime de excepção para a disciplina de Educação Física para efeitos da sua avaliação, os planos de estudos nele constantes prevêem explicitamente a possibilidade de cargas horárias diferenciadas “no caso de não ser possível a escola assegurar as condições físicas, humanas e organizacionais para a leccionação da disciplina com a carga horária definida”18. Esta possibilidade não é considerada para qualquer das outras disciplinas que integram os planos de estudo e abre espaço para a formulação de dúvidas quanto à não existência de condições reais para o regular desenvolvimento da disciplina;

d) Possível desigualdade no acesso ao ensino superior entre os alunos dos cursos científico-humanísticos e dos cursos tecnológicos, por um lado, e os alunos dos cursos profissionais ou do ensino recorrente, por outro. A oferta desta disciplina nos cursos profissionais é uma novidade introduzida pelo Decreto-Lei n.º 74/2004. Não se procedeu à avaliação, subsistindo dúvidas quanto às condições nomeadamente dos alunos que frequentam escolas privadas, que não oferecem a disciplina por falta de condições físicas e materiais.

e) Prática instituída de não contabilização da classificação desta disciplina para efeito de ingresso no Ensino Superior. Este facto não justifica por si só qualquer decisão. No entanto, é necessário sublinhar que o ingresso no ensino superior constitui um momento chave nos trajectos biográficos e projectos de vida de alunos e famílias, sendo por isso objecto de um investimento simbólico e material considerável por parte destes. Assim, torna-se imperativo o estabelecimento de uma norma clara e legalmente bem fundamentada quanto a este assunto.


(continua...)