"Qualquer que seja o desporto colectivo, o algoritmo coloca o portador da bola no primeiro papel:
-se ele pode atirar directamente deve atirar;
-se ele não pode atirar directamente, deve progredir para atirar;
-se ele não pode progredir então passa a bola a um colega.
O outro, o colega, não entra em jogo a não ser quando o portador esgotou as soluções para marcar sozinho. Esta lógica é, parece-nos, esquecida no voleibol escolar..."
In Evolução da correlação de forças entre o ataque e a defesa em voleibol escolar e proposições de conteúdos. De Samuel Lepuissant.
O excerto que citei em cima (tradução do francês da minha responsabilidade) é um dos exemplos, raros ainda na prática, de uma forma diferente de ver e interpretar o ensino dos desportos colectivos. Em vez de uma análise e uma prescrição a priori de conteúdos de ensino, o autor procede dialecticamente (penso ser o termo mais preciso). Armado com um conhecimento aprofundado(incluíndo da evoluição histórica) do jogo, e procedendo a uma análise concreta e insubstituível do que acontece no jogo jogado pelos alunos (não economizada pela idealização de uma vontade), o autor dá ideia de caminhos a seguir e dos conteúdos a aprender.
O que é válido para o Voleibol escolar, que é neste texto objecto de uma crítica incisiva, é, a meu ver extensível a muitas das matérias da Educação Física Escolar, a começar pelos restantes desportos colectivos.
Espero que disfrutem como eu tenho disfrutado deste texto (e que o vosso francês o permita ler).
-se ele pode atirar directamente deve atirar;
-se ele não pode atirar directamente, deve progredir para atirar;
-se ele não pode progredir então passa a bola a um colega.
O outro, o colega, não entra em jogo a não ser quando o portador esgotou as soluções para marcar sozinho. Esta lógica é, parece-nos, esquecida no voleibol escolar..."
In Evolução da correlação de forças entre o ataque e a defesa em voleibol escolar e proposições de conteúdos. De Samuel Lepuissant.
O excerto que citei em cima (tradução do francês da minha responsabilidade) é um dos exemplos, raros ainda na prática, de uma forma diferente de ver e interpretar o ensino dos desportos colectivos. Em vez de uma análise e uma prescrição a priori de conteúdos de ensino, o autor procede dialecticamente (penso ser o termo mais preciso). Armado com um conhecimento aprofundado(incluíndo da evoluição histórica) do jogo, e procedendo a uma análise concreta e insubstituível do que acontece no jogo jogado pelos alunos (não economizada pela idealização de uma vontade), o autor dá ideia de caminhos a seguir e dos conteúdos a aprender.
O que é válido para o Voleibol escolar, que é neste texto objecto de uma crítica incisiva, é, a meu ver extensível a muitas das matérias da Educação Física Escolar, a começar pelos restantes desportos colectivos.
Espero que disfrutem como eu tenho disfrutado deste texto (e que o vosso francês o permita ler).
4 comentários:
Obrigado pelo pesquisa, Henrique. Irei imprimir para ler, pausadamente.
Merci Henrique.
En espérant que ce petit document vous soit utile à vous et à vos élèves !
Salut de la France (Bretagne).
Samuel Lepuissant
Henrique
O texto que nos recomendas é muito interessante. Oferece-nos uma perspectiva de ensino do voleibol que se configura em torno das sucessivas fases da relação de forças entre o ataque e a defesa, tomando em consideração aquilo que os alunos são capazes de perceber e fazer no jogo 2x2. É interessante o nome que o autor dá a cada etapa, porquanto sinaliza qual a tarefa fundamental a cumprir nessa etapa. A par disso oferece-nos uma medida critério para avaliar a relação de forças entre o ataque e a defesa em cada fase.
Algumas reticências no que respeita aos argumentos de partida:
-se ele (o portador da bola) pode atirar directamente deve atirar;
-se ele não pode atirar directamente, deve progredir para atirar;
-se ele não pode progredir então passa a bola a um colega.
Descontando o facto de no volei não haver retenção e progressão
com a bola, estes algoritmos têm subjacente a ideia que o jogar com o colega só tem lugar depois de esgotadas as hipóteses de jogar sozinho. Há casos em que isso se aplica, há casos em que isso não se aplica. Entre o que se pode fazer e o que se deve fazer há uma grande folga e nem tudo o que se pode fazer deve ser feito. Assim sendo, a regra ‘se podes atirar, deves atirar’ aplica-se inteiramente nos casos em que o jogador tem tempo, espaço e está numa zona em que tem as melhores possibilidades de ser bem sucedido. Não se aplica de todo, quando a zona, o espaço e o tempo disponível desaconselham fortemente a finalização. Entre estes dois extremos joga-se cálculo das probabilidades, da oportunidade e da insensatez, do risco, da sorte e do azar.
Relativamente à segunda regra, ela é falsa numa situação de jogo em que o portador da bola possa passar a um colega que esteja numa situação claramente mais favorável para finalizar. Relativamente à terceira regra, direi que é muito empobrecedor dar a ideia que o passe só surge quando não se pode fazer mais nada.
Estas notas não pretendem tirar mérito à proposta. A primeira etapa constrói-se sobre a viabilização do reenvio da bola para o campo adversário. A questão nesta fase não é iluminada pela primeira regra enunciada ‘se podes atirar directamente, deves atirar’. O reenvio directo é a resposta mais produtiva que os jogadores são capazes de dar. O fraco domínio técnico torna ténue ou inexistente qualquer intencionalidade táctica na colocação da bola no terreno adversário. Agora, quando os alunos já são capazes de equacionar a colocação da bola no terreno adversário em função da posição da defesa, também já serão capazes de jogar para e com o colega de equipa.
Amândio
realmente já me tinha apercebido das "nuances" relativas aos pontos 2 e 3 do suposto logaritmo, já que relativamente ao ponto 1 o autor supunha que estivessem reunidas as questões de que falas para poder finalizar. No texto do autor há uma crítica à forma como muitas vezes se desvirtua, segundo ele, o ensino do Voleibol, de modo a construir rapidamente o jogo bonito a três toques. Acho que o mais importante nesta forma de ver o ensino está na análise da relação de forças entre o ataque e a defesa, sendo a observação armada uma ferramenta fundamental, e na apresentação de propostas em função das necessidades realmente apresentadas no jogo dos alunos. Há autores franceses que têm utilizado este tipo de instrumentos de análise de ensino e apresentam alguns instrumentos didácticos muito interessantes. É o caso de: http://clip.chez.tiscali.fr/produits.htm
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