fevereiro 23, 2008

delegação de competências

Ansiávamos pelo Decreto de delegação de competências e, mais uma vez, sentimo-nos defraudados!

De facto, os Coordenadores dos Departamentos Curriculares (CDC) poderão delegar competências noutros professores titulares, tendo em conta o número de docentes a avaliar e os respectivos grupos de recrutamento! No entanto, os avaliadores das outras áreas disciplinares serão avaliados pelo CDC.

Ou seja, embora não tenha habilitações académicas para leccionar as disciplinas dos restantes grupos disciplinares, que não o seu, os CDC, são considerados aptos a avaliar colegas dessas áreas científicas e pedagógicas, esses sim, habilitados por instituições de ensino superior a executar tais funções.

Assim, um CDC do grupo de Educação Física poderá delegar competências em colegas de Artes Visuais, Educação Tecnológica, Educação Especial ou Música.
Mas será o CDC a avaliar os colegas de outras áreas em quem delegou as funções de avaliador. Da mesma forma um avaliador de Educação Física será avaliado pelo seu CDC, proveniente das áreas acima mencionadas.

O mesmo se passa nos restantes departamentos: apesar das maiores semelhanças quanto à estrutura das aulas e a maior proximidade das áreas envolvidas, será exequível que um professor de uma área avalie colegas de outras para as quais não tem competências científicas e pedagógicas?

Se lermos atentamente as grelhas de avaliação vamos encontrar parâmetros que são bastante específicos, para observação e classificação, cada um deles, em 5 níveis. De entre todos, destaco estes:
- correcção científico-pedagógica e didáctica na planificação das actividades lectivas;
- adequação de estratégias de ensino e aprendizagem aos conteúdos programáticos, ao nível etário e às aprendizagens anteriores dos alunos;
- diversidade, adequação e correcção científico-pedagógica das metodologias e recursos utilizados;
- cumprimento dos objectivos, orientações e programas ...

Parece-me bastante fácil cairmos em erros de análise, tanto pela positiva como pela negativa, quer como avaliados quer como avaliadores.

E consigo rever vários exemplos:

Muitos de nós já experimentaram a necessidade de explicar a outros colegas de áreas diferentes a especificidade da nossa disciplina, relativamente à qual muitos adultos têm poucas vivências. Até quando se arrastam ao ginásio, deixam transparecer frequentemente a sua estranheza quanto ao clima das nossas aulas: barulho, confusão, mau comportamento, o “anti-pedagógico” apito, as corridas e os “pinchos” ou mesmo a desorganização são características para além das quais, alguns colegas, nada mais conseguem vislumbrar!
É que isto de ter os meninos todos sentados à sua frente, no mesmo lugar ou de os conhecer pelos números não tem nada a ver com a agitação desejável numa aula de Educação Física. As metodologias de trabalho, os materiais os objectos o os objectivos de trabalho são diferentes e sem identificar essas diferenças não há avaliação possível.

O bom-senso prima pela ausência e só não se dá conta disto porque só preocupa, para já, 4 professores por escola (os CDC)… mas, na minha opinião, vai mais longe, e toca fundo na dignidade profissional que cada grupo disciplinar merece.

Não será de estranhar que não se tenham lembrado deste pormenor, tendo em conta que, nas altas esferas, as habilitações específicas não são relevantes no exercício da gestão de qualquer empresa ou mesmo do país, …

Ou ainda, que esta situação sirva para diminuir a taxa de desemprego de alguns formadores generalistas que nos ensinarão, a expensas nossas, claro, como avaliar as várias áreas científicas e pedagógicas sem as conhecer.

Ou que, qualquer dia sejam apenas os pais ou os presidentes das juntas ou até os auxiliares da acção educativa a preencher as ditas grelhas, já que nós, professores, temos tanta dificuldade nessa tarefa!!!!

3 comentários:

Miguel Pinto disse...

Poderá até ser uma avaliação exequível, mas não será uma avaliação rigorosa, exigente, séria e responsável. Logo, será uma acção eticamente reprovável!

Adkalendas disse...

Se não é uma avaliação rigorosa, exigente, séria e responsável, então não só é eticamente reprovável, como científica, pedagógica e profissionalmente inaceitável e inconcebível!
De facto, nem sequer pode ser classificada como uma avaliação.

henrique santos disse...

Susana
aquilo que tu referes é apenas mais uma das peças desta tremenda palhaçada em que o ministério está a transformar a "avaliação" de professores.