Chegámos ao final do ano lectivo e concluímos as avaliações. Mas só numa primeira fase, porque agora que as notas de Educação Física entram na média do Ensino Secundário já surgem alguns pedidos de recurso, por parte dos Encarregados de Educação. É uma nova realidade para esta disciplina e há que estar preparado para lidar bem com ela.
O recurso é um direito que assiste ao aluno e quantos recursos, nomeadamente em situação de exame, noutras disciplinas, valeram subidas de vários valores nas classificações... Já nas classificações de frequência tal situação não é tão frequente, por várias razões perfeitamente justificáveis.
No entanto, as dificuldades dos alunos e seus encarregados de educação em fundamentar um recurso em Educação Física são ainda mais evidentes do que nas restantes disciplinas. E aqui uma das razões mais óbvias é a dificuldade de auto-percepção do desempenho, ou seja, de auto-avaliação do aluno.
Embora a prática da auto-avaliação seja comum a todas as disciplinas em todos os períodos escolares, a verdade é que nas disciplinas com testes teóricos os alunos não tendem a fazer um exercício reflexivo sobre o seu desempenho académico, mas tão somente fazem as contas mediante os resultados dos testes escritos, ainda que esta componente apenas valha uma percentagem da nota final. Depois “deitam uns pózinhos” nos TPC e eventualmente na oralidade, e o número bate mais ou menos certo com a nota do professor. Será este exercício promotor da competência de auto-avaliação? Será que os alunos compreendem através dele o seu desempenho e a sua evolução? As dificuldades são percepcionadas?
Quanto à Educação Física, o caso agrava-se porque a avaliação é sustentada essencialmente por observações directas dos desempenhos e não sobre registos escritos dos alunos, nos quais a uma pergunta do professor corresponde uma resposta do aluno. Esta fica ali registada para ser vista e revista as vezes que se quiser e para mostrar a quem se entender, sendo sujeita, ainda assim, às mais variadas interpretações por parte dos vários actores envolvidos.
As observações directas são efectuadas com maior frequência e, da primeira à última aula de cada unidade didáctica, facultam ao professor um conjunto de dados que lhe dão um conhecimento mais próximo do desempenho do aluno e o ajudam a avaliar de uma forma mais segura: o professor tem oportunidade de ver várias vezes e registar o desempenho dos seus alunos em cada item de avaliação, havendo ainda um momento formal em que o aluno tem oportunidade de mostrar o nível final que atingiu.
Numa disciplina de natureza prática como a Educação Física, a avaliação passa necessariamente por aqui. E, tal como nas restantes disciplinas, por mais que sejam referidos quais os critérios, sejam dadas indicações precisas sobre o desempenho desejável, é difícil para os alunos perceberem as suas dificuldades. Assim, na auto-avaliação em EF, é frequente os alunos manifestarem a opinião de que sendo assíduo o dez está garantido! E, de facto, um aluno verdadeiramente assíduo, de “corpo e alma”, seguramente consegue uma nota positiva e até acima do dez: mas para isso, tem que participar activamente nas aulas, esforçar-se por ultrapassar dificuldades, colaborar nas tarefas, … e, desta forma, valoriza não só a sua avaliação nas “Atitudes” e como beneficia a sua aprendizagem, como em qualquer outra matéria escolar. O problema é que os recursos nem sempre visam a passagem, mas a subida de médias... e convenhamos que a contabilização da avaliação da EF na média dos alunos ainda está entalada na garganta de alunos, pais e muitos professores...
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2 comentários:
E por falar em médias, ordenação de candidatos ao ensino superior, competição inter-pares, etc., é que vale a pena reflectirmos sobre o significado de "professor generoso" a "dar notas".
Pois claro! Cada professor tende a centrar-se no seu "universozinho" de alunos e a gerir as classificações entre estes, esquecendo-se que sempre que dá um "bónus" está a prejudicar todos os que, não sendo seus alunos, não são contemplados com estas bonificações!...
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