maio 03, 2007

Caladinhas e quietinhas…

A desqualificação da actividade docente persegue objectivos económicos claros: A redução da despesa pública. É um fenómeno perverso pelos seus efeitos na qualidade das práticas educativas; É um fenómeno oportunista porque busca a legitimação em baldios pedagógicos, como por exemplo, a oferta da educação física no 1º ciclo do ensino básico; É um fenómeno contagioso porque poderá alastrar a todo o ensino básico e secundário.

As recentes medidas legislativas de generalização da oferta do desporto escolar [no prolongamento horário] às escolas do 1º ciclo do ensino básico oficial tipifica este desígnio económico. As autarquias assumem as competências de organização da actividade física sem existir a garantia de condições de praticabilidade e de recursos humanos qualificados. Hoje, é perfeitamente possível “leccionar” desporto escolar num pátio de escola, num vão de escada ou numa sala exígua, orientado por monitores ou alunos “pré-licenciados”. A precariedade no emprego empurra licenciados de educação física para este tipo de cenários tornando-os coniventes com a sua própria desqualificação.

Apesar de continuar a existir a obrigatoriedade da Expressão Físico-Motora no plano curricular do 1º ciclo do EB, a possibilidade da oferta de escola de DE acaba por ter uma efeito dissuasor nos professores titulares, o que conduzirá, a breve prazo, ao afastamento desta área dos referenciais curriculares do 1º ciclo, por falta de uso.

É verdade: Já ouvi manifestações de desagrado das associações profissionais de Educação Física… só que sussurram entre dentes…; Já ouvi vozes discordantes oriundas de instituições de formação de professores de Educação Física… só que sabem a papel de música…

Atendendo a que o individualismo faz escola na escola e não é previsível que alguém se atreva a encetar uma luta particular contra este estado de coisas, pergunto se as estruturas associativas e as escolas formadoras de professores estão à espera que este governo caia de podre?

10 comentários:

henrique santos disse...

Apoiado Miguel.
Também acho que estão demasiado caladas e quietas em relação a este caminho.

Amândio Graça disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Amândio Graça disse...

Indignação, inconformismo, protesto, resistência, oposição a estas políticas de desprofissionalização da profissão docente, de precarização do emprego, de burocratização e menorização do trabalho do professor.
É isso mesmo, vai sendo tempo de sair da letargia

Maria Lisboa disse...

Sim, muito caladinhas!

Tirando umas recomendaçõezitas, expressas no Congresso, não vi mais nada.

Também não vi qualquer tomada de posição quando, em Julho, enviei um mail para as associações/sociedade (tal como para os colegas de quem tinha o endereço) alertando quer para o problema das AEC e possível substituição, na maioria das escolas, da expressão físico-motora por essas actividades, quer para o problema da indefinição do programa do desporto escolar do qual acabou por resultar uma redução para metade da colocação de professores de EF no concurso nacional.

José Salvador Soares disse...

É claro que o problema passa muito pelas escolas de formação de professores do primeiro ciclo do Ensino Básico e Educadores de Infância cujo programa das disciplinas ligadas ao desenvolvimento motor deixa muito a desejar (é só procurar nos sítios das respectivas Univ/disciplinas/departamentos)o que leva a que os formandos, quando professores titulares não "estejam praí virados".
Por outro lado os Departamentos de Ed. Física dos agrupamentos verticais, ao longo dos últimos anos, também não fizeram tudo para manter a Expressão Físico Motora debaixo da sua alçada.
Quanto às associações de classe (CNAPEF/SPEF e outras) elas são o que os seus sócios quiserem. A participação associativa não se deve cingir a apresentar uma comunicação no Congresso ou a transformá-lo em encontro de amigos (felizmente também o é!!!). Nós somos Profs de EF todos os dias e não nos podemos "lembrar do dentista só quando nos dói os dentes"

Maria Lisboa disse...

Aqui:
http://www.malhatlantica.pt/cnapef/noticias.htm

encontrei isto:

http://www.malhatlantica.pt/cnapef/Documentos/I-ME_DGIDC-CA1%20-%20relatório%20AEC%20-%20fase%201.pdf


http://www.malhatlantica.pt/cnapef/Documentos/I-ME_DGIDC-CA1%20-%20parecer%20-%20RIA-CAP.pdf


Discordo de quase tudo o que lá diz!

henrique santos disse...

Maria
obrigado pela referência. Depois de ler o relatório e parecer, o que dá a entender é que há aí muitas críticas veladas mas à boca pequena e pouco amplificadas perante o tipo de tropelias que se estão a cometer.

Maria Lisboa disse...

Demasiado soft e partindo de princípios errados: 1º - que esta função pertence à escola, nos moldes em que a "institucionalizaram" (com professores contratados e geridos por outros); 2º - na sequência disso, que compete aos departamentos implicados, e aos professores, em particular, "gerir a crise". Isto, para mim, é uma linha de análise errada.
Depois, analisam o relatório que o ME publicou e não dados recolhidos e trabalhados por eles. Não partem da análise da realidade já que 18 escolas, em todo o país (e resta saber quais!), não são significativas. Portanto, todas as queixas que tenho ouvido e lido, não estão reflectidas nesta análise.

Quanto a mim, não se pode estar bem com deus e com o diabo...

Miguel Pinto disse...

Caros colegas
Entendi mal ou não houve uma referência sequer às condições físicas de prática?

Maria Lisboa disse...

Pois é, Miguel! Falar de condições físicas? Isso seria um incómodo para a ME! Ela até foi tão simpática em ter ido ao Congresso... ;)

Sabes? Depois de ter lido o que li apeteceu-me que elas tivessem ficado como diz o título desta entrada. Ao menos só pecavam por omissão! :)