abril 26, 2007

EF: em francês ou inglês.

Ainda há minutos, em conversa com o Miguel Pinto, reflectia sobre o facto de se encontrar muito material informativo de boa qualidade em língua francesa sobre Educação Física. Já em língua inglesa não se encontra quase nada, é tudo pago.
Gostava de perguntar aos passantes aqui pelo blog qual é a língua estrangeira da sua preferência na obtenção de conteúdos técnicos.
Desde já, eu, como francófono, vou deixar aqui em vários posts algumas referências deste tipo de conteúdos.
Começo por vos indicar um site dum professor francês de EF num liceu profissional, que é uma verdadeira plataforma de conteúdos e de links. É o site do professor Bernard Lefort. Nele podem encontrar conteúdos das várias modalidades ensinadas; links para outros sites especializados em EF ou em modalidades desportivas; instrumentos e materiais de ensino; imagens; vídeos. Enfim um manancial de conteúdos de livre acesso.
Desfrutem e, por favor, depois de por lá passarem digam qual foi a vossa impressão.

abril 23, 2007

Natação como prática cultural

O desporto (e a Educação física) é essencialmente uma prática cultural carregada de história. É nesse enquadramento social e humano e em toda a riqueza que ele apresenta (sem esquecer as suas derivas) que ele deve ser lido.
Trago-vos aqui um link para um conteúdo delicioso sobre a evolução das práticas da natação e das concepções do seu ensino ao longo do tempo, muito enriquecido por imagens e vídeos históricos.
Espero que gostem tanto como eu.
"De l’art de nager à la Science de la Natation
Evolution des conceptions Biomécaniques, Techniques et Pédagogiques"

Para quem quiser aproveitar recursos técnicos actuais sobre Natação do mesmo autor, ver também outro link aqui.

abril 19, 2007

Em conversa com uma colega em busca de tema para a sua dissertação de mestrado, reflectimos acerca dos currículos de EF para o Secundário, tal como outras que tive com outros colegas, a reflexão ficou-se pelas modalidades a abordar, o número por ano lectivo e os critérios de escolha. A questão centrava-se essencialmente se os professores cumprem não com o que o programa determina e se será ou não adequado para os objectivos da disciplina.

A conversa fez-me passar novamente pelo calhamaço do programa e relê-lo, na esperança de encontrar falhas na minha interpretação e desta forma, melhorar o conhecimento, julgo aprofundado, que tenho do documento. Logicamente que voltei a pensá-lo e confesso que, embora partilhando da preocupação legal da colega, não me parece ser a questão de substância a levantar.

Julgo que não foi esgotada a reflexão acerca da importância da disciplina (não no sentido de dizer se é ou não importante, mas no sentido de clarificar onde é que ela pode ajudar o jovem no seu processo de desenvolvimento de competências pessoais e sociais). Este debate e consequente clarificação da disciplina levará à necessidade ou não (acredito piamente que sim, mas é só o meu ponto de vista) da reformulação dos objectivos e, por consequência, a reformulação do referido calhamaço programático.

Faço-vos notar que se a escola está a mudar é porque a sociedade assim a obriga, vai daí o desporto como fenómeno social também exige o mesmo, já que os seus objectivos, as suas funções, fruto das novas necessidades sociais (umas mais importantes que outras) vão se adaptado. Tendo a EF como seu “instrumento de trabalho” o desporto, parece-me lógico que olhe para si com olhos de mudança.

Finalizo colocando a ênfase no ponto de vista que defendo, ou seja, não sugiro uma reformulação de conteúdos (embora deva haver uma preocupação continuada de os actualizar, face às predilecções e às necessidades dos jovens estudantes), mas sim uma reformulação dos seus objectivos, partindo de um redimensionamento do desporto e das suas funcionalidades, enquanto instrumento de desenvolvimento psicossocial de grande valia.

abril 18, 2007

Está garantido…

(importei este texto do outrÒÓlhar, com uma ligeira adaptação)

Nada me move contra o ensino privado. É verdade que sou um defensor incondicional de uma escola pública de qualidade mas não tenho qualquer reserva (ideológica ou emocional) contra o ensino privado. Não me sinto inclinado, portanto, a adoptar um discurso maniqueísta de sentido contra-hegemónico, em que de um lado está o “bom”, o ensino público, o referencial ético, e do outro está o “mau”, o ensino privado, atreito à trapaça e ao ardil.

Mas, há coisas que dão que pensar, lá isso dão!…

Esta semana realizam-se os pré-requisitos para o acesso aos cursos em Educação Física e Desporto. Os alunos submetem-se a uma bateria de testes que avaliam a aptidão para a realização de actividade desportiva. Para quem não acompanhou a implementação da actual reforma do ensino secundário, convém dizer que foi abolida a disciplina de Desporto e que os alunos que desejam prosseguir estudos nesta área, contam apenas com as aulas de Educação Física para desenvolverem a aptidão funcional e física. Atendendo ao carácter generalista das aulas de Educação Física, a preparação dos alunos está condicionada à oferta de actividades desportivas não-escolares, custeadas pelos próprios, e à carolice de alguns professores de Educação Física que, fora de horas, “inventam” aulas extraordinárias gratuitas. Não ouso dizer que esta alteração (abrupta) no plano de estudos decorreu de uma vontade em estimular um “novo” mercado a partir das insuficiências da escola – o mercado da oferta desportiva. Creio que o problema é bem mais simples de explicar: foram apenas erros grosseiros de planeamento que fizeram avançar uma reforma curricular sem cuidar da articulação ensino secundário/ensino superior.

Voltando ao assunto, os alunos sentem-se, naturalmente, inseguros. É uma insegurança que decorre das circunstâncias em que os alunos se prepararam para estes pré-requisitos. Nas suas conversas revelavam muita apreensão, alguma revolta, uma atitude defensiva, e um (pré)juízo do que significa o ensino privado:
A instituição escolhida para a realização dos pré-requisitos era uma instituição privada, para os quais terão despendido cerca de 150€, três vezes mais do que pagariam numa instituição pública.
Perguntei-lhes porquê. Se as regras, as marcas, os testes, são comuns às instituições do ensino superior, por que carga de água é que decidiram pagar três vezes mais pelo mesmo.

- Está garantido, está garantido professor…
- Está garantido?...

Este episódio suscita várias questões (e limito-me a destacar apenas duas que estão directamente ligadas):
As representações dos alunos acerca do ensino privado parecem assentar em pressupostos económicos e em lógicas de prestação de serviço em que o cliente “pagador” admite apenas uma resposta do prestador: a satisfação das suas necessidades. Por esta perspectiva, os testes e os pré-requisitos serão meros formalismos que não devem ser dispensáveis, na medida em que legitimam a relação mercantil?
De que forma as instituições do ensino superior público defendem os interesses dos alunos que as procuram? Ou melhor, de que modo é garantido o princípio da equidade e da justiça no acesso ao ensino superior?
...

abril 15, 2007

O ensino do Voleibol na escola e não só...

"Qualquer que seja o desporto colectivo, o algoritmo coloca o portador da bola no primeiro papel:
-se ele pode atirar directamente deve atirar;
-se ele não pode atirar directamente, deve progredir para atirar;
-se ele não pode progredir então passa a bola a um colega.
O outro, o colega, não entra em jogo a não ser quando o portador esgotou as soluções para marcar sozinho. Esta lógica é, parece-nos, esquecida no voleibol escolar..."

In Evolução da correlação de forças entre o ataque e a defesa em voleibol escolar e proposições de conteúdos. De Samuel Lepuissant.

O excerto que citei em cima (tradução do francês da minha responsabilidade) é um dos exemplos, raros ainda na prática, de uma forma diferente de ver e interpretar o ensino dos desportos colectivos. Em vez de uma análise e uma prescrição a priori de conteúdos de ensino, o autor procede dialecticamente (penso ser o termo mais preciso). Armado com um conhecimento aprofundado(incluíndo da evoluição histórica) do jogo, e procedendo a uma análise concreta e insubstituível do que acontece no jogo jogado pelos alunos (não economizada pela idealização de uma vontade), o autor dá ideia de caminhos a seguir e dos conteúdos a aprender.
O que é válido para o Voleibol escolar, que é neste texto objecto de uma crítica incisiva, é, a meu ver extensível a muitas das matérias da Educação Física Escolar, a começar pelos restantes desportos colectivos.
Espero que disfrutem como eu tenho disfrutado deste texto (e que o vosso francês o permita ler).

abril 04, 2007

Reformas da educação, paradoxos e mistificações

A actual ministra da educação ganhou fama de corajosa reformista junto da comunicação social dita séria, em especial dos fazedores de opinião de pendor neoconservador e neoliberal, para quem tudo quanto mereça a oposição dos sindicatos dos professores só pode ser benéfico para a educação. Aliás o comentário político em Portugal cultiva a superficialidade estética, olhando mais para o estilo da intervenção e para as reacções que provoca do que para a substância, para os fundamentos e finalidades, para os quês e os porquês.
Não há como negar a necessidade de reformas. A escola tem que se organizar melhor para funcionar melhor, para enfrentar as dificuldades do insucesso educativo, para se adaptar e responder às transformações da sociedade, com os seus novos problemas e desafios.
É fácil dizer que as mudanças custam; as pessoas, os professores em especial, são resistentes às mudanças; as corporações colocam os seus interesses particulares acima do bem comum, dos interesses superiores da sociedade; as organizações, como as escolas, padecem de uma inércia endémica e duma capacidade de arruinar, subverter, ou dissipar todo o intento reformista. Apesar de tudo isso, se nos fosse dado ver em filme o quotidiano das crianças, dos jovens e das escolas de há 100 anos, de há 50 anos, de há 30, ou de há 10 anos atrás a funcionar nos diferentes espaços, salas de aula, biblioteca, ginásio, cantina, recreios, etc, por certo nos aperceberíamos de que muita coisa mudou, e de que em muitos aspectos mudou radicalmente.
Porém, nos nossos dias, mudar transformou-se magicamente num valor próprio, independentemente do sentido da mudança, dos seus pressupostos, fundamentos e finalidades. As propostas de mudança são proclamadas em nome da qualidade e qualificação, da eficiência e sucesso educativo, do profissionalismo, profissionalização e profissionalidade, da responsabilidade, do accountability, da autonomia, iniciativa, criatividade, do trabalho em equipa e de outros meritórios desígnios.
O primeiro paradoxo é que os conservadores por tradição avessos à mudança, defensores da tradição, apresentam-se hoje na linha da frente da mudança, batendo-se por uma nova ordem social, que passa em grande medida pela desacreditação da escola pública em favor de educação privada, subvencionada pelo estado, e de preferência tutelada por instituições ligadas à igreja. A ministra tem dado uma grande ajuda através de declarações de apoucamento das escolas e dos professores.
O segundo paradoxo diz respeito às declarações de amor e juras à prioridade da educação, à aposta na qualidade ao mesmo tempo que se reduz o orçamento da educação e das escolas, muito em especial no que diz respeito à remuneração dos professores, ao congelamento de carreiras, à precarização da contratação docente.
O terceiro paradoxo tem a ver com a proclamação da profissionalidade docente em contraste absoluto com a diminuição do espaço de decisão autónoma e de iniciativa dos professores, com a descaracterização da função docente, nomeadamente com aulas de substituição destituídas de propósito pedagógico, com a excessiva carga burocrática que se impõe aos professores, reuniões, planos, relatórios que servem mais as exigências de uma burocracia formal do que necessidades educativas. Há hoje zelosos conselhos executivos que inventam tarefas para que os professores nunca estejam desocupados quando não têm aulas; o trabalho de equipa é burocratizado, os projectos interdisciplinares são sujeitos a horários prefixados; hoje há sinais evidentes de um processo de desprofissionalização que começou com a subcontratação de mão-de obra barata para leccionar inglês e educação física no primeiro ciclo e com a introdução dos contratos individuais de trabalho.
Para além destes, outros paradoxos e mistificações existem, a maior das quais é aquela que em nome da racionalidade económica, da gestão eficiente dos recursos, quer fazer das pessoas peças programáveis, reprogramáveis e descartáveis, para usar e deitar fora, ao serviço dos superiores interesses da sacrossanta economia e da competitividade global.

Amândio Graça

abril 01, 2007

Pedagogia de ponta?...



"A única forma de influenciar o comportamento dos outros é através do exemplo."
Albert Schweitzer, prémio Nobel da Paz de 1952, citado no livro "O Desporto e as Estruturas Sociais" de José Esteves, professor de EF que é uma referência para os seus pares.