fevereiro 13, 2008

Adultos em miniatura

Como sendo uma aposta deste Ministério da Educação, as Actividades de Enriquecimento Curricular têm sido alvo de várias criticas em vários aspectos. Confesso que muitas duvidas se colocam a este projecto. Mas não é sobre isso que gostaria de falar. Algo mais importante me preocupa,...a criança. Um aluno que inicia o seu periodo de aulas às 8:30h e só larga às 17:30h, que pelo meio passa, no mínimo, 6 horas sentado numa sala de aula, a ter que prestar atenção a um ou mais professores, durante 5 dias da semana. Não estaremos a tratar os nossos alunos como adultos em miniatura (expressão utilizada no desporto quando se referia ao treino realizado por atletas mais novos, mas que estava direccionado para mais velhos)? Durante a Pré-primária e o 1ºciclo, a criança tem a capacidade e a NECESSIDADE de se mover, com espontaneadade, criatividade e principalmente LIBERDADE. O facto de se promover uma institucionalização dos tempos livres da criança, retirando dela o acto mais natural que ela tem que é BRINCAR, estaremos, provavelmente a pôr em causa o seu próprio desenvolvimento motor, psicologico, social, cognitivo, etc???? Sinceramente, me parece que a promoção das actividades de enriquecimento curricular, como forma de tomar conta das crianças, enquanto os pais trabalham, terão repercussões bastante graves no futuro! Nem mesmo na aula de educação fisica a criança pode brincar, tem de obedecer a regras e cumprir com os "desejos" do professor, sendo o adestramento motor prática comum em qualquer aula, uma vez que o próprio programa da disciplina assim o incentiva. Acho que não precisamos de esperar mais tempo para observarmos os efeitos secundários desta situação, cada vez mais as crianças apresentam maiores dificuldades de aprendizagem, enormes carencias motoras (quiça não caminharemos para uma analfabetização motora), constantes problemas de socialização e emocionais (fruto da institucionalização dos seus horários livres). Para terminar gostaria de deixar um sentimento que me vem assolando cada vez que vou dar aulas aos meus pequenotes, quando os vejo sair da sala de aula olho para eles e sinto-os como se tivesses estado prisioneiros numa cela fechada e que por momentos podessem sair à rua para ver a luz do dia!!!

1 comentário:

Susana Marques disse...

Concordo plenamente. Sei as dificuldades que os pais têm, hoje em dia, com a gestão do tempo e compatibilidade de horários:... eu não sei o que faria sem os apoios familiares que tenho.

Mas que os miúdos já passam tempo suficiente na escola, é verdade! Até me atrevo a dizer que não teríamos os problemas de comportamento que "temos" no 3º ciclo se o horário não fosse tão sobrecarregado: ninguém aguenta tanta hora a manter uma determinada postura, sem margem para descarregar energias, para brincar, para estar em silêncio se lhe apetecer...
O problema resolvia-se com mais condições sociais, nomeadamente para as famílias, mas isso paga-se... tal como se pagará, a médio prazo, a restrição do convívio e relações familiares ao período nocturno.

Será suficiente, ter apenas pai e mãe de fim-de-semana?
Ou é suposto optar, por exclusão de partes, entre trabalhar ou ter filhos?
Ninguém opta por ter filhos por questões sociais, para ter quem sustente as aposentações do futuro, recursos humanos, ... mas esse ciclo é real. Não será justo que os que mais contribuem para esse ciclo - os pais e as mães, pelo menos, não sejam descriminados negativamente nos seus empregos?
Que possam ter horários de trabalho compatíveis com o facto de terem a seu cargo filhos para educar?

Acho que é em políticas sociais, nomeadamente de protecção à família que a sociedade deve apostar!