agosto 22, 2008

Perdoa-me

Francis Obikwelu anunciou hoje [como o Obikwelu na sua prova, cheguei à notícia com algum atraso] o fim imediato da carreira no atletismo e pediu desculpa aos portugueses por não ir à final dos 100 metros, com o argumento de que era pago por eles para estar nos Jogos Olímpicos. (in: Diário Digital)
As declarações do Obikwelu tiveram um efeito imediato: serviram de padrão de uma atitude de autoflagelação pública para aqueles atletas que não obtiveram os resultados expectáveis. Um atleta cuja prestação olímpica fique aquém do que seria desejável deve ser crucificado em praça pública, a não ser que seja redimido através de um acto de contrição e peça desculpa aos portugueses, de preferência em directo televisivo. É a única forma de minorar a dor da plebe. Este veredicto popular é subscrito pelos penduras olímpicos - responsáveis federativos e ilustres representantes do povo –, que numa atitude sobranceira, despudorada e de populismo barato, aparecem invariavelmente a sacudir a água do seu capote.

Não entendo a necessidade de um atleta ter de pedir desculpas, em público ou em privado, depois de uma pretensa má classificação. Como expliquei (?) na entrada anterior, o que se espera de um atleta é que ele se comprometa com a sua transcendência. Se o fez responsavelmente nada mais há a exigir. É este o sentido da competição desportiva.

Entendo ainda menos a necessidade da utilização de um estranho linguajar economês para explicar insucessos desportivos. Mais do que pedidos de desculpas nós queremos perceber onde falhámos e por que não somos capazes de obter resultados desportivos consistentes.

Se o Obikwelu queria prestar um serviço público fora das pistas talvez devesse ter denunciado o fosso que separa a programação olímpica espanhola da portuguesa [realidade que ele bem conhece]. Como não é possível mexer no passado, pelo menos preparávamos melhor o futuro.

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