outubro 08, 2006

provocando...

(...) Vamos começar educando nossas crianças para uma convivência pacífica num mundo cheio de evasão provocada pela ânsia de atingir os objectivos da riqueza de maneira acelerada num curto espaço de tempo. Vamos educar as pessoas para que o corpo físico, esse instrumento da existência, seja preservado de maneira saudável, aproveitando-se de todas as fases, inclusive ingerindo bons alimentos para viver bem (...) in Amazónia – entre o esporte e a cultura de Jurema e Garcia pp.170

O livro donde tirei este pequeno enxerto deu a machadada final num conceito de Educação Física que há muito vinha abandonando. Não que o livro defenda o mesmo que eu (não ouso afirmar tal coisa), mas porque enquadra, mesmo que inocentemente, o que há muito tempo que vinha perguntando a mim mesmo porque razão insistia para que todas as raparigas jogassem futebol, quando algumas delas pura e simplesmente odiavam, ou porque insistia com os rapazes que não queriam fazer dança que o fizessem.


Sendo um dos objectivos da disciplina, criar hábitos de actividade física que perdurem ao longo da vida a minha forma de agir, no mínimo era patética. Mesmo que fosse para combater o preconceito existente acerca da ideia (errada)de que o futebol é para “gajos” e a dança para senhoras. Até porque, não me parece uma forma rentável de combater preconceitos, obrigar os jovens a participar em actividades quando estas geram esse tipo de sentimentos (imaginem obrigar os cidadãos que têm preconceitos acerca da homossexualidade a terem relações homossexuais!!!).



Desde há uns anos para cá libertei-me dos preconceitos da minha formação inicial e tento sempre mudar mentalidades através do diálogo e de uma preparação cuidadosa das minhas aulas de forma a desenvolver uma mentalidade livre de amarras sociais.

17 comentários:

henrique santos disse...

Miguel
penso cada vez mais que a forma "desportivista" da EF, como forma dominante das práticas da EF, que erege a prática desportiva, assente na competição exacerbada entre os alunos, em que tantas vezes a campionite tem lugar, aliena muitos e muitas alunas. Todos aqueles que não são tão "aptos" ou não são considerados como tendo jeito para o desporto não conseguem retirar dessas práticas, valor educativo. Outras práticas e formas diferentes de prática desportiva seriam necessárias para não alienar tantos alunos nem conduzir aqueles que supostamente têm jeito a práticas alienantes também, só que com outro teor.
Penso que a tua atitude de contrariar alguns estereótipos é positiva. Não deverias deixar de o fazer embora com tacto, o que penso que tu não esqueces.
Continuar a contrariar uma prática da EF dominante ainda é preciso. Uma outra EF mais inclusiva, uma outra visão diferente das práticas desportivas é necessária.

«« disse...

Henrique
Que fique claro, que acredito estar pata ti, que para mim a EF implica sempre esforço, inclusive suar a camisola. Não abdico da intensidade física da aula, mas há muito que equaciono a utilidade de determinadas modalidades desportivas, o que ainda se torna mais pertinente ( a meu ver) quando se trata de alunos de secundário. Hoje decidi, com o acordo dos alunos acabar com as aulas de ginástica desportiva e atletismo para estes jovens que não encontram qualquer prazer nestas práticas, facto que lhes esvazia o saquinho da motivação para a disciplina que nalguns casos já é pequeno demais.

Considero-me um professor actualizado que recorre a mil e uma estratégia para motivar os alunos, mas não tenho conseguido com estas duas disciplinas com os alunos de secundário. Vai daí, substitui essas aulas por caminhadas e os mesmos alunos desmotivados, deliraram com a ideia de, por exemplo descer e subir a lagoa do fogo. Acredita que é uma actividade cuja intensidade é grande. Como dizia há minutos atrás ao Miguel Pinto, muitos dos colegas com a ânsia de rentabilizar a prática ao minuto esquecem-se da potencialidade que o dialogo tem na motivação dos alunos para práticas desportivas, ou de exercício físico diários. Este sim é o objectivo consignado em programa do Ministério para a disciplina que eu privilegio nas minhas aulas.

Miguel Pinto disse...

O professor Bento, em 1990, inventariava as seguintes causas para a deficiente formação desportivo-corporal dos nossos alunos:
. Ausência de um sistema de medidas que garanta uma convergência de formas das práticas desportivo-corporal;
. Falta de ocupação séria com este problema e consciência insuficiente na relação entre capacidade de rendimento corporal, saúde, actividade desportivo-motora e qualidade de vida;
. O “modus vivendi” desmotivado e desmotivador para que se deixa arrastar um elevado número não subestimável de professores de Educação Física;
Oferta de formas desajustadas, antiquadas e desactualizadas;
. A miserabilidade das condições existentes e a ausência de uma concepção pedagógica séria dos espaços e dos materiais de práticas lúdicas, de aprendizagem e exercitação desportivo-corporal.

É inegável que hoje, dezasseis anos depois, continuamos a olhar para este quadro e ver reflectida a nossa realidade. Apesar das condições existentes [e reporto-me aos espaços de prática] passarem de miseráveis a sofríveis, tudo continua fastidiosamente igual. Vale-nos a possibilidade de podermos encontrar as ofertas ajustadas e actualizadas nas escolas situadas. É aqui que a entrada do Miguel ganha relevância.
Mas clarifiquemos: Quem determina o que é ajustado e actualizado para além do professor e do departamento disciplinar? Por outro lado, não será esta aparente balcanização no seio da escola uma das causas da manutenção de ofertas desajustadas que afastam as crianças e os jovens da prática de actividade física e desportiva? Como alterar o “modus vivendi” instalado?...

«« disse...

Uma das formas de resolver esse assunto é avançar para uma disciplina de educação para a saúde nas Universidades (Precioso e seus estudos sobre os comportamentos de risco na população universitária já levantou a ponta do véu). Acredito que a formação de professores deve ter este facto em conta, ou então assume que não forma professores, mas sim instrutores. Deixar esta vertente a uma maior ou pior formação educacional que traz de casa o futuro “educador” é um risco demasiado grande. Já no meu canto contei do colega que foi comer depois de ter ido fazer xixi e nem passar as mãos pela água, já contei o exemplo da outra colega que saiu do bar em frente á escola e deitou a beata para o chão (vá lá que a apagou com a sola do sapato) e podia contar mais “n” exemplos. Professores de Educação Física sensibilizados para os valores de uma educação que promova comportamentos de saúde em detrimento de comportamentos de risco podem ser um meio de combater a balcanização que falas e que eu concordo. Tanto eu como tu e como muitos sabemos que muito do bom que se faz na escola é porque nem olhamos à lei, acreditamos pura e simplesmente que é bom para o aluno

«« disse...

Professor Amândio, primeiro do que tudo nunca separei a instrução da educação, o que discordo frontalmente é que se reduza a educação à instrução, que fique claro.

Quanto ao acabar com a Educação Física quando os alunos não quiserem, aceitando a sua provocação, acho que se deve fazer isso se continuarmos a insistir na Educação Física que os nossos pais tiveram. Por outro lado acredito que o valor desta disciplina é fundamental como instrumento educacional. Não me conseguiram convencer que devo impingir futebol a uma miúda que efectivamente quer ser dona de casa, mesmo tendo em conta que é educativo ensinar a fazer aquilo de que não se gosta, ou pelo menos reduzir-lhe a carga horária tal como se fez com a geografia e outras disciplinas..

Agora a EF que utiliza o desporto como ferramenta para um desenvolvimento integral do individuo jovem sim, tornando-se um hábito tão necessário quanto comer, ou beber água, no sentido de utilizar os seus benefícios para um desenvolvimento social e pessoal, aí eu acredito piamente nela. Digo-lhe mais Professor, essa deve ter uma carga horária diária.

Acontece que a única forma de motivar os jovens em praticar desporto para toda a vida não é lhes provocando desprazer. É que, Sr. Professor, enquanto ele estiver na escola faz obrigado, o problema é quando já não for obrigado. Aí provavelmente vai se lembrar das secas que apanhou, dificilmente irá ter motivação para pagar para fazer desporto.

Com tudo isto, gostava ainda de lhe dizer que sou defensor que o professor utilize todos os meios ao seu alcance para motivar os alunos para a prática de desporto sem barreiras criadas pelos preconceitos, também faço isso, acredite que consigo muito sucesso.

karadas disse...

Quando vejo professores de educação física a "baterem" nas modalidades desportivas, interrogo-me se não erraram na profissão? Estas são a alma-mater da EF e sem elas a disciplina morre.
Experimentem fazer um inquérito aos alunos no início do ano lectivo, perguntando-lhes se querem ver substituídos o futebol, o basquetebol e o voleibol por caminhadas, danças, orientação e afins e vão ver qual é a resposta!

Miguel Pinto disse...

Caro Karadas
Depois de reler os comentários anteriores, não descobri uma referência sequer à extinção de modalidades desportivas nas aulas de EF. O que não deixa de ser irónico é facto de ter utilizado como argumento para defender a presença das modalidades desportivas no currículo de EF as preferências dos alunos. Presumo que defenderá o mesmo método para aferir as matérias de ensino na sua disciplina? Ou não?

Anónimo disse...

Há quem ande distraído! Os desportos usualmente ensinados nas aulas de EF são UMA PARTE dos conteúdos desta. A Orientação (que é um Desporto) é muito apreciada, assim como as caminhadas e a dança (diz-me a minha experiência). Devenos proporcionar actividades aprazíveis, sem dúvida, mas também devemos mostrar-lhes novas possibilidades. É esse um dos papéis da Escola. Já viram se os professores de Ed. Musical só ensinassem músicas do tipo "Ágata", porque são dessas que os alunos gostam?
E já agora, os preconceitos não aparecem do nada e a Escola tem o dever de os desmontar, não de os alimentar. Experimentem diminuir o nível de exigência e proporcionar situações de sucesso.

«« disse...

ia comentar mas não tenhop paciencia, volto mais tarde...pode ser que o alomoço me dê a dita cuja

karadas disse...

"Hoje decidi, com o acordo dos alunos acabar com as aulas de ginástica desportiva e atletismo para estes jovens que não encontram qualquer prazer nestas práticas, facto que lhes esvazia o saquinho da motivação para a disciplina que nalguns casos já é pequeno demais".
Se há disciplina onde o "eduquês" assentou "praça", essa disciplina é definitivamente a Educação Física. A sobreprotecção das criancinhas tem nos profissionais de Educação Física o seu expoente máximo: ele é a competição que pode alienar; ele é a pouca habilidade motora que pode desmotivar; ele é o nível de exigência que pode traumatizar...Chega de tanta pedagogice!

«« disse...

Caro Karadas, tentei me manter calmo no meu cantinho, mas tenho que lhe responder. Deixe-me que lhe diga mas o facto de ser um terinadorzinho, não lhe dá legitimidade para descutir os fundamentos da EF, mais faz com que voce ande para aí mandar postas de pescada acerca de um assunto que não entende. Fique sabendo que não é essa a postura com que me convidaram para colaborar, e nem me vou dar ao luxo de voltar a lhe responder. Quanto o que escrevi, até lhe podia dar mais uma lição, mas recuso-me porque não tenho paciencia, por um lado e por outro não sinto (pelos comentarios que faz) que a queira...prefere andar a mandar bitaques..continue, mas não conte comigo. Miguel agradeço que me retires da colaboração do blogue porque a minha paciencia esgotou-se

Um abraço

henrique santos disse...

Caro Karadas
Em primeiro lugar quero dizer-lhe que penso ser a sua intervenção muito bem aparecida neste blogue, quaisquer que sejam as suas opiniões desde que respeitem as regras da boa educação. Os seus comentários já redespoletaram em tempos neste mesmo blogue uma salutar e proveta discussão. O nosso colega Miguel Sousa é um colega que não tem paciência para certas coisas e diz o que pensa. É absolutamente imprescindível como membro do painel deste blogue e penso que nenhum dos outros membros aceitarão a sua desvinculação. Mas voltando aos comentários do colega Karadas, tenho a dizer-lhe que me parecem algo despropositados e partem de generalizações um pouco absurdas: em relação ao seu primeiro comentário outros colegas responderam às suas questões duma forma que o caro Karadas ficou, ao que me parece, sem grandes argumentos. Quanto a este segundo comentário, a sua acusação de "eduquês" em relação aos professores de EF é uma acusação e uma generalização sem o mínimo fundamento: primeiro garanto-lhe que esse não será com certeza uma realidade dos prof. de EF, eu que como prof. desta disciplina tenho, penso até como obrigação, uma visão mais alargada dos profs desta disciplina do que a sua que não tem obrigação de a ter; por outro lado não confunda o todo com as partes nem pegue em afirmações particulares para chegar a conclusões precipitadas. Olhe que aquilo que foi expresso por vários colegas, aqui, profissionais da EF é a preocupação do desenvolvimento e educação dos alunos, utilizando como ferramenta importantíssima o Desporto, mas sem esquecer que muitas das formas, conteúdos e metodologias como se utiliza o desporto, não são sequer educativas (ou estão desactualizadas) e não deveriam sequer ter lugar na escola actual. Peço ao colega, se lhe for possível, para não entrar em generalizações ou acusações que não respeitam o espírito que temos nestas discussões: contribuir para melhorar a EF que temos, com todos os seus defeitos mas com todas as suas virtudes e cabimentos na educação das pessoas. Se tiver críticas, tudo bem. Se tiver propostas novas, óptimo. Se quiser fazer comparações, por exemplo, com as questões da sua disciplina, excelente. Se nos quiser fazer reflectir sobre as suas experiências como treinador, isso só será útil aos profs de EF que, são, na sua grande maioria o alfobre dos treinadores de alta competição, em Portugal e em todo o mundo.

karadas disse...

Caro Miguel Sousa

Deixe-me que lhe diga, mas essas atitudes de menino mimado não lhe ficam nada bem. Há muito que tenho reparado que você, sempre que é criticado, fica possesso: parte para o insulto, recolhe a trouxa e desaparece. Não é a primeira vez que acontece e, por certo, não será a última. Aceite o meu conselho: seja menos susceptível e um bocadinho mais tolerante. Vai ver que só tem a ganhar com isso.
Quanto às pretensas lições que me queria dar, só lhe tenho a dizer que as recebo com a melhor das boas vontades. Até que a morte me leve estou sempre disposto a aprender. Consigo ou com outro qualquer.

karadas disse...

Caro Henrique Santos

Desde já lhe digo que gostei desse gesto solidário para com o seu companheiro de “route”. Era o que ele pretendia e conseguiu-o.
Tem razão quando diz que tenho espoletado algum debate neste vosso espaço. Salta à vista! Os colegas, deixem-me que vos diga, precisam de quem agite o vosso cantinho. E sabem porquê? Vocês são polidos em demasia, passam a vida a distribuir salamaleques uns aos outros, quase que pedem licença para discordar do parceiro. Isso é tudo o que não se pretende num debate. Um debate quer-se vivo. Até pode correr algum “sangue” que não vem mal ao mundo. Só alguns de vocês, vá-se lá saber porquê, é que se ofendem por dá cá aquela palha. Por amor de Deus! Estamos perante adultos ou meninos de colo?!

karadas disse...

Caro Amândio Graça

Felicito-o pelo excelente post e subscrevo-o na totalidade.

Mudando de assunto. Provavelmente não me passarão cartão mas, ainda que assim seja, não deixarei de fazer o desafio. Sempre me fez imensa confusão o inflaccionamento nas classificações atribuídas em Educação Física, em particular no Secundário, sem que aparentemente nada o justifique. No final do 3º período do ano lectivo transacto vi que numa turma do 12º ano, apenas constituída por alunas, a classificação mais baixa atribuída foi de 15 valores. Observando a turma em actividade, bastas vezes ao longo do ano, interroguei-me como é que semelhantes classificações eram possíveis face à capacidade e empenho da maioria delas.Este não é um caso isolado como os colegas tão bem sabem. Habitualmente na escola onde lecciono e nas outras por onde passei assiste-se, frequentemente, a situações similares. Pergunto: como é isto possível? Há alguma justificação científica? É a forma encontrada para motivar os alunos para a actividade física? Confesso que tenho pensado muito sobre o assunto e até hoje não encontrei uma justificação plausível. Mas evidentemente que haverá.

henrique santos disse...

Karadas
penso que a sua nova questão terá sido em parte já abordada nos comentários a um dos primeiros posts pelo que valeria talvez a pena a sua releitura. http://desportoemcontraste.blogspot.com/2006/05/1-olhar.html#comments

Anónimo disse...

por outro lado...ja repararam que as horas de desporto escolar ja vao na componente nao lectiva...é so um instantinho ate serem todinhas..sabados e tudo...eu bem avisei ha um aninho atras..