outubro 17, 2006

Representação profissional…

“O tema de investigação do conhecimento pedagógico do conteúdo procura repor uma perspectiva integral do triângulo didáctico (professor, aluno, matéria) na investigação do ensino, tentando reequilibrar e assegurar a atenção sobre a interacção dos três lados do triângulo.” (Amândio Graça, 2001)(1)
Esta citação do professor, colega e amigo [atrevo-me a referenciá-lo deste modo] Amândio Graça, foi retirada de uma obra que compilou trabalhos apresentados no 1º Congresso Internacional de Ciências do Desporto, organizado pela FCDEF. O conhecimento pedagógico do conteúdo: o entendimento entre a pedagogia e a matéria é um estudo que se enquadra numa linha de investigação didáctica que toma como critério de referência o professor.

Ao evocar este trabalho, sacrificando-o a este pequeno excerto, não quis [porque isso pode ser feito, e com toda a propriedade, pelo autor ;)] destacar os principais resultados e o alcance que se registaram [ou não] nos programas de formação de professores de Educação Física. Ao evocar este trabalho quis mexer num aspecto que tem sido negligenciado pelos professores de educação física, na escola situada [e que a investigação se encarregará de refutar ou confirmar]:
No reportório de “conhecimentos” que devem ser adquiridos e reformulados ao longo da vida profissional do professor, o conhecimento do contexto ocupa um lugar central porque é aí que a aplicação dos restantes conhecimentos adquirem sentido. O conhecimento do contexto [dos alunos, da comunidade, do sistema educativo, da escola] exige do professor uma vigilância constante sobre tudo e todos os que o rodeiam. Regressando novamente ao excerto, não é possível a um professor, de educação física ou de outra disciplina qualquer, desenvolver com proficiência o seu trabalho sem participar, agindo sobre os contextos de prática. Ora, estamos num momento de viragem em que a discussão do ECD apela a um “novo” professor. Será admissível que alguém se possa dar ao luxo de desligar o seu sistema de vigilância e passar ao lado desta alteração contextual sem bulir na sua capacidade profissional?

(1) Graça, A. (2001). Educação Física e Desporto na Escola - Novos desafios e diferentes soluções. Porto. Paula Botelho Gomes e Amândio Graça Editores - FCDEF.

1 comentário:

henrique santos disse...

Quando li pela primeira vez a referência a este tipo de conhecimento do professor (o conhecimento pedagógico do conteúdo) disse para comigo: é aqui que está o núcleo duro do conhecimento e da acção do professor. Num tempo como o actual em que ao falar de educação ou de formação de professores se cai tão fácilmente em dicotomias que para mim não têm sentido nenhum pois são armadilhas que não levam a lado nenhum e só levam a trincheiras cada vez mais cavadas: refiro-me à (tão em moda e recorrente) discussão entre os ditos anti-eduqueses e os eduqueses; num tempo como este, repito, a questão do conhecimento pedagógico do conteúdo que como refere magistralmente o professor Amândio entrelaça num todo o triângulo didáctico, é uma forma de avançar nas problemáticas da pedagogia e da didáctica. Saber ensinar requer conhecimento pedagógico-científico situado, que pense e adeqúe para os ensinados a matéria ensinável, tendo em conta a personalidade e estilo pessoal do professor. Absolutizar ou sobredimensionar a faceta científica-matéria ensinável ou a faceta aluno, ou ainda a faceta professor/personalidade/método é uma forma desequilibrada de tratar estas questões, perante o que já se conhece cientificamente e praticamente na actualidade.