novembro 23, 2006

O Paulo é aluno do 12º ano do Curso Tecnológico de Desporto. Enquanto vagueava pela Internet descobriu este blogue e deixou-se levar pelo texto do colega Amândio. Depois de se certificar de que eu fazia parte desta equipa, trocámos algumas impressões acerca do conteúdo do blogue. Desafiei-o a escrever lançando o seu olhar sobre a disciplina de Educação Física. Ele aceitou!

Viver a Educação Física

A disciplina de Educação Física encontra-se em profunda decadência e o ambiente em redor desta é muito pouco salutar, visto que a desacreditação e a descrença por parte da generalidade dos alunos acentua-se de forma alarmante.
A EF é encarada pela grande maioria dos alunos de uma forma bastante similar àquela que era preconizada na Grécia Antiga pelos grandes filósofos da era modera, onde estes consideravam que a destreza motora era algo que se destinava única e exclusivamente aos escravos remetendo para as actividades do intelecto as únicas aptidões a desenvolver.
Esta evocação associa-se na plenitude à forma de como a maioria dos alunos encaram a EF, isto é, como uma disciplina de mera diversão ou de um aborrecimento enfadonho desprovida de qualquer tipo de vantagens e benefícios para os alunos.
Apesar de algumas das inovações incutidas nos programas de Educação Física, como por exemplo o modelo de educação desportiva e o modelo de jogos de ensino para a compreensão, terem proporcionado notórias melhorias na qualidade de aula, a grande maioria dos esforços direccionados para a melhoria da EF têm-se descentralizado da essência do problema.
Para nós, alunos, o cerne da questão reside na forma de como é encarada a disciplina e a principal causa da constante decadência de que a EF é alvo reside na desacreditação e na descrença existentes nos professores de Educação Física.
Todavia esta decadência não se circunscreve somente aos professores, dado que os alunos também têm uma quota-parte de responsabilidade na questão, visto que não podemos estereotipar a desacreditação a todos os professores, pois é um facto, que existem professores que acreditam e vivem a EF mas o seu esforço e dedicação não é retribuído pelos alunos.
No entanto é necessário e ao mesmo tempo urgente que a generalidade dos professores de EF modifiquem a sua forma de encarar a disciplina, pois se o fizerem desencadearão nos alunos sentimentos recíprocos e só desta forma poderemos caminhar, juntos, em prol da melhoria da EF.

Professores, por que não encarar a EF com seriedade, empenho, motivação e acima de tudo com orgulho e prazer na actividade que exercem?

Professores VIVAM e SINTAM a Educação Física.

Paulo Gonçalves
23/11/06

4 comentários:

Anónimo disse...

Penso que, o teu texto está de uma certa forma, logicamente correcto, e vindo de um aluno isso poderá como tu muito bem disseste motivar, não só alunos mas principalmente, professores de EF, pois são estes que têm que impulsionar os alunos a levar, mais a sério a disciplina de EF, e não a por de parte muito menos leva-lá como algo que os entretém,....
Muito bem Paulo e continua!

karadas disse...

Do texto do Paulo retenho os últimos parágrafos que de alguma forma colocam o dedo na ferida no que diz respeito à Educação Física no nosso país:
"No entanto é necessário e ao mesmo tempo urgente que a generalidade dos professores de EF modifiquem a sua forma de encarar a disciplina, pois se o fizerem desencadearão nos alunos sentimentos recíprocos e só desta forma poderemos caminhar, juntos, em prol da melhoria da EF.

Professores, por que não encarar a EF com seriedade, empenho, motivação e acima de tudo com orgulho e prazer na actividade que exercem?

Professores VIVAM e SINTAM a Educação Física diz"

Está lá tudo. Não é preciso dizer mais nada. Até os alunos se apercebem!

henrique santos disse...

De facto o que o Paulo refere traz largos motivos de reflexão para os professores de Educação Física. Aquilo de que o Paulo falou, reconheci em muitos professores de EF que tive no meu percurso escolar, já relativamente longínquo. Mas também tive outros que foram absolutamente diferentes para melhor.
Penso que a formação dos professores de EF trouxe entretanto algumas melhorias, mas não tenho um conhecimento assim tão generalizado da EF nas escolas e da formação dos professores de EF como isso. Conheço o que se passa nas escolas por onde trabalhei (fundamentalmente EB2,3's) e não reconheço aquela situação descrita pelo Paulo. Não há a desmotivação e o descrédito generalizado de que fala o Paulo. Pessoalmente não me reconheço minimamente nas palavras do Paulo e não vejo as atitudes de que o Paulo fala nos meus alunos. Penso que nas secundárias o panorama é diferente e, naquilo que cabe aos professores de responsabilidade, há que tirar ilações.

«« disse...

Caro Paulo, vou escrever para ti, directamente para ti porque me mereces o maior respeito, não por seres aluno, mas por seres um jovem em início de vida. Espero muito sinceramente que optes pela profissão pois de certeza serás mais um a lutar por uma disciplina que é importante e, cuja importância, em minha opinião, é essencialmente por ter um carácter único, já que trata do corpo e da mente e é um exemplo a seguir no que diz respeito às outras que estão espartilhadas por exames nacionais.

Deixa-me que te diga algumas coisas:

1º estás generalizando a EF pela que conheces, o que é perfeitamente natural, por isso informo-te que aqui nos Açores, num dos Municípios mais pobre do país, há colegas teus que não sentem esse descredebilizar (claro que se procurares com atenção encontrarás alguns insatisfeitos, mas são uma minoria), por isso o primeiro comentário/ajuda resume-se ao seguinte: quando se generaliza pelo que os nossos olhos observam, corre-se o risco de tomar “o ramo pela floresta”;

2º Quando sugeres que os professores não encaram a profissão com seriedade, empenho e motivação “acima de tudo com orgulho e prazer na actividade que exercem”, estás acusado todos os professores, os que conheces e os que não conheces de não serem sérios, terem falta de empenho e motivação…não achas grave que fales assim dos professores de E.F. quando só conheces os da tua escola e, provavelmente das escolas vizinhas? Daí só conheço dois, Miguel Pinto e mulher, pelo menos esses (que são a minoria, é certo) confio neles. Sabes, ao longo da minha curta carreira (o que são 17 anos, para quem vai passar 40), já vi professores dos que descreveste, mas, não tenho dúvidas (sem qualquer medo de ser chamado de corporativista) que vi mais dos outros, claro está que também eu tenho uma visão parcial, também eu, se não tiver cuidado com com o que escrevo, corro o risco de tomar a “árvore pela floresta”. Outra reflexão que podes tirar daqui, prende-se com os motivos para essa desmotivação, já pensaste nisso?

Caro Paulo demonstrado uma enorme vontade em reflectir e ter pensamento crítico. Já pensaste qual é a fatia de responsabilidade da escola e dos professores para que desenvolvesses essa virtuosa capacidade?