abril 18, 2007

Está garantido…

(importei este texto do outrÒÓlhar, com uma ligeira adaptação)

Nada me move contra o ensino privado. É verdade que sou um defensor incondicional de uma escola pública de qualidade mas não tenho qualquer reserva (ideológica ou emocional) contra o ensino privado. Não me sinto inclinado, portanto, a adoptar um discurso maniqueísta de sentido contra-hegemónico, em que de um lado está o “bom”, o ensino público, o referencial ético, e do outro está o “mau”, o ensino privado, atreito à trapaça e ao ardil.

Mas, há coisas que dão que pensar, lá isso dão!…

Esta semana realizam-se os pré-requisitos para o acesso aos cursos em Educação Física e Desporto. Os alunos submetem-se a uma bateria de testes que avaliam a aptidão para a realização de actividade desportiva. Para quem não acompanhou a implementação da actual reforma do ensino secundário, convém dizer que foi abolida a disciplina de Desporto e que os alunos que desejam prosseguir estudos nesta área, contam apenas com as aulas de Educação Física para desenvolverem a aptidão funcional e física. Atendendo ao carácter generalista das aulas de Educação Física, a preparação dos alunos está condicionada à oferta de actividades desportivas não-escolares, custeadas pelos próprios, e à carolice de alguns professores de Educação Física que, fora de horas, “inventam” aulas extraordinárias gratuitas. Não ouso dizer que esta alteração (abrupta) no plano de estudos decorreu de uma vontade em estimular um “novo” mercado a partir das insuficiências da escola – o mercado da oferta desportiva. Creio que o problema é bem mais simples de explicar: foram apenas erros grosseiros de planeamento que fizeram avançar uma reforma curricular sem cuidar da articulação ensino secundário/ensino superior.

Voltando ao assunto, os alunos sentem-se, naturalmente, inseguros. É uma insegurança que decorre das circunstâncias em que os alunos se prepararam para estes pré-requisitos. Nas suas conversas revelavam muita apreensão, alguma revolta, uma atitude defensiva, e um (pré)juízo do que significa o ensino privado:
A instituição escolhida para a realização dos pré-requisitos era uma instituição privada, para os quais terão despendido cerca de 150€, três vezes mais do que pagariam numa instituição pública.
Perguntei-lhes porquê. Se as regras, as marcas, os testes, são comuns às instituições do ensino superior, por que carga de água é que decidiram pagar três vezes mais pelo mesmo.

- Está garantido, está garantido professor…
- Está garantido?...

Este episódio suscita várias questões (e limito-me a destacar apenas duas que estão directamente ligadas):
As representações dos alunos acerca do ensino privado parecem assentar em pressupostos económicos e em lógicas de prestação de serviço em que o cliente “pagador” admite apenas uma resposta do prestador: a satisfação das suas necessidades. Por esta perspectiva, os testes e os pré-requisitos serão meros formalismos que não devem ser dispensáveis, na medida em que legitimam a relação mercantil?
De que forma as instituições do ensino superior público defendem os interesses dos alunos que as procuram? Ou melhor, de que modo é garantido o princípio da equidade e da justiça no acesso ao ensino superior?
...

1 comentário:

henrique santos disse...

Isto é mais uma pouca vergonha instituída que merece ser denunciada.