maio 13, 2006

1º olhar

Recorro à actualidade para lançar o meu primeiro olhar. A educação física tem sido objecto de discussão no fórum promovido pela Direcção Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular, criado expressamente para debater a reorganização curricular do ensino secundário. Há um elemento novo nesta reorganização e que se prende com o facto da classificação dos alunos à disciplina de educação física ser considerada para efeitos de transição de ano e de cálculo da média de acesso ao ensino superior.

Quais os argumentos que se devem evocar para legitimar a alteração [passível de ainda ser rectificada]?

Quais os efeitos da alteração na afinidade dos alunos com a disciplina?

Será sustentável a afirmação de que os professores de educação física terão outro comprometimento com a disciplina?

33 comentários:

henrique santos disse...

Não há olhares independentes daquele que observa. A questão que colocas, em torna da avaliação da EF dos alunos do Ensino Secundário (ES) é daquelas em que essa ausência de independência é maior.
Ser ou não ser professor de EF. Ser ou não ser prof. de EF no Ensino Secundário. Ser ou não ser pai de aluno do ES. Estas três, entre outras, podem colocar os observadores em diferentes "lugares" e condicionar a sua opinião. Foi no teu outro blog, outròólhar, que fui alertado para uma discussão, em meios institucionais e tecnicamente fechada sobre este tema. Aí foi notória a dicotomia entre os profs de EF e os pais profs de outras disciplinas. Alinharam-se alguns argumentos. Penso que se extremaram posições que não apontaram cnstrutivamente para a questão que levantaste da legitimação (ou não). Deixo para outra oportunidade a minha posição de professor de EF, que exerce no 3.º ciclo do Ensino Básico.

Cláudia Malafaya disse...

Quais os argumentos que se alinharam?

«« disse...

continuo a defender que a nossa importâncianão pode ser conquistada pela força (ou ditadura) da nota...e estou a pensar nos alunos..esses são os que me interessam

henrique santos disse...

Cláudia
Nada melhor do que leres tu esses argumentos no espaço que foi criado para esse efeito. Para isso tens que ir a este endereço http://213.63.132.233/gaaires/ e criar uma conta (um tudo nada complicado), só aí podes ter acesso a vários fóruns de discussão incluído esse.
Mas desde já posso tentar referir esses argumentos (o leque de intervenções foi reduzido -13):
Os que são contra que a EF conte para efeitos da média, dizem que:
-há disparidade de critérios;
-há falta de condições;
-os programas não são cumpridos;
-não é por aí que a EF, se bem que importante, adquire credibilidade;
- devido a características diferentes da EF, diferente "compleição, habilidade ou apetência fisicas dos alunos";
-exemplo de "não conseguir fazer o pino" e por isso...
-a "igualdade de estatuto requer um tratamento diferente";
-sugestões do Conselho Nacional de Educação que, pelo que me apercebi, aconselha que as disciplinas (todas) de formação geral não contem para a média;
-as "declarações médicas".

Pelo outro lado, da parte dos intervenientes que defendem que a nota de EF conte para a média, refere-se:
-a EF é importante e a inclusão da nota reflecte essa importância;
-o programa de EF é "dos mais bem elaborados", "há opções";
-a EF não é passatempo;
-o currículo deve ser global e valorizar os seus vários aspectos, incluindo na classificação;
-"não é só por não saber o pino que o aluno terá 8 ou 9";
-em Espanha a nota de EF também conta, na entrada para medicina;
-"a relutância pela inclusão da classificação da EF... é um sinal de autoculpabilização pela deficiente educação que ministraram aos seus educandos";

«« disse...

ainda vou escrever sobre isso caro Henrique, é porque encontro motivo para debate em alguns dos argumentos de ambos os lados

«« disse...

Antes do debate dacerca do modelo da avaliação na Educação Física, parece-nos fundamental reflectir que tipo de EF queremos para os nossos alunos e o que se pode esperar dela para o contibuto de mulheres e homens de personalidade forte, solidária e participativa. Há muito que digo que nem a escola, nem a EF, nem o desporto me interessa para nada se não for para utilizá-los no processo de transformação do individuo, enquanto ser de relações. O carácter utilitário destas “três instituições” é enorme, tornando-as fundamental para moldar as competências sociais e pessoais dos nossos jovens, de maneira a que possamos contribuir para a construção de um modelo social capaz de evoluir no sentido a valores pacíficos. Neste contexto, tanto a escola cuiltural, como a corrente da educação para a nãoviolência podem e devem ser basilares da construção de uma filosófica de escola e da EF diferente. Talvez depois de termos alicerçado o conhecimento e delineado estratégias, a questão da avaliação nem se coloque..

Miguel Pinto disse...

É uma evidência afirmar que haverá sempre qualquer coisa para ser discutida antes da discussão que estamos a ter. Mas, de facto, é assim. O plano em que queremos manter a discussão não inviabiliza, necessariamente, os planos subsequentes. Isto a propósito do comentário do MSousa que decidiu retroceder um pouco na análise da avaliação para olhar a EF e a sua eventual reconfiguração. Diz-nos que a avaliação da disciplina não é independente das concepções pessoais de EF e, acrescento eu, das concepções pessoais de escola e, recuando um pouco mais, das concepções pessoais de cidadão. Concordo contigo, Miguel, mas não me vou afastar da questão micro-política que tem sido aflorada pelo Henrique e pelo Amândio. É o jogo das cadeiras: entrou mais um jogador e as cadeiras são as mesmas. A EF entrou num espaço novo e afectou o equilíbrio [precário] existente. Ainda observando o problema sob o ponto de vista político, a maior parte das resistências que encontro são reacções primárias muito pouco racionais e que, por esse facto, devem ser tratadas num outro plano.
Um aspecto que se destacou do comentário do Amândio [sugiro que nos “tuteemos” neste espaço ] foi a chamada do sistema de cobrança recuperado, digo eu, do projecto conservador neoliberal que nos tem governado. E não é a questão semântica que me interessa destacar mas a lógica que lhe subjaz e que tem a ver com a exaltação dos rendimentos dos alunos. Não devia ficar impressionado, eu sei. Mas pergunto se tem mesmo de ser assim?

henrique santos disse...

"A EF entrou num espaço novo e afectou o equilíbrio [precário] existente" Miguel Pinto.
De facto, uma novidade deste tipo implica um reordenamento do sistema, implicando todos os seus componentes.
Às três questões iniciais do MPinto eu respondo sim: A Classificação Contábil em EF (CCEF) é legítima e vai implicar mudanças na forma como os actores (alunos e professores) se colocam no interior desta disciplina curricular. Só que o "conteúdo" desta CCEF, pode ser muito diverso, em função das concepções dos mesmos actores.
Do ponto de vista dos professores de EF, penso que devem ser dados passos essenciais: explicitação do contrato (como foi avançado pelo Amândio) a vários níveis, desde o nível institucional dos programas, até ao nível dos departamentos e do professor na sua relação pedagógico-didáctica com os alunos. As reacções que o MPinto qualifica de primárias são absolutamente "naturais". Perante um quadro histórico de menorizaçao da disciplina que tem vindo a alterar-se no tempo (devido também ao posicionamento de muitos profs) e a um quadro "explosivo" de classificação em que décimas podem implicar ou não a entrada em cursos desejados, é natural que "pontos" da cadeia possam ser atacados enquanto outros passam incólumes à crítica. Acho que nós, professores de EF temos de ter uma visão sociológica da questão. Por outro lado devemos apontar soluções concretas e credíveis que demonstrem que a CCEF é, simplesmente a valorização de uma componente do currículo que estava até agora esquecida, neste nível de ensino.
Interessante é ver como em outros países se resolveu a mesma questão.
Acho que os prof.s de EF tem a necessidade de partir pedra para encontrarem um modelo de CCEF. E que é importante ouvir os vários interessados na matéria.
Embora possa não haver "verdades insofismáveis" que convençam todos, é importante que os argumentos sejam explicitados, debatidos e que haja uma procura dos consensos possíveis.

«« disse...

pois é Professor Amândio é aí que começa um dos problemas da EF, será que a importância da EF deverá estar associada ao seu estatuto de igualdade com as outras disciplinas? será que estamos perante uma disciplina onde o conteúdo puro e duro ´+e o mais importante. Aí começam as minhas dúvidas

henrique santos disse...

Algo que acho importante e que o Amândio têm trazido implícita e explicitamente ao debate é a questão do tipo de "avaliação que realmente se faz".
Como é feita a classificação nas disciplinas tradicionais do Ensino Secundário? Penso não errar muito se disser que ela depende, em grande parte, da média dos testes (classificados na escalade 0 a 2). Esta classificação, pretensamente objectiva, está bem alinhada com outro dos factores com grande peso na classificação dos alunos, os exames, também pretensamente objectivos. O que avaliam os exames (e os testes, seus parentes menores)? Fundamentalmente, senão exclusivamente, a componente cognitiva.
Qualquer professor que se envolva, com os seus alunos, num processo de avaliação diferente, tem grandes dificuldades em se "impor".
No caso da EF, em que na classificação, necessariamente se devem reflectir as várias componentes, cognitivas, sócio-afectivas e psicomotoras, a "coisa" fica ainda mais complicada. E a avaliação na EF não se resolve com exames tradicionais, pois não?
Olho, por exemplo, para o exemplo Francês em que eles têm um sistema de avaliação dos alunos bem "pesado": por exemplo na avaliação em Desportos Colectivos, com toda a sua dificuldade inerente.
Aqui coloca-se também a dicotomia entre avaliação interna e externa.
O sistema de cobrança é feito interna e externamente...

Cláudia Malafaya disse...

Henrique, muito obrigada pelas informações que transmitiste. Dei um salto ao fórum de discussão e li as diferentes intervenções/comentários.

Aqui, neste espaço, estão a ser colocadas várias questões que vão muito para além das preocupações manifestadas nesse fórum.
Penso que a polémica inicial surge não pelo facto da classificação dos alunos na disciplina de Educação Física ser considerada para efeitos de transição de ano mas, sobretudo, por esta contar para o cálculo da média de acesso ao ensino superior.
Em relação a este aspecto, e a caminhar-se nesse sentido, a minha opinião é idêntica à do Amândio: “A pressão social sobre a nota de educação física vai ser tremenda”!!!!

No seguimento da discussão, e relativamente ao estatuto que a disciplina de Educação Física deve ocupar em relação às outras disciplinas, é colocada a seguinte questão: igual estatuto vs estatuto diferente?
Retomando a classificação dos alunos e seus efeitos, se associamos o estatuto de igualdade ao “peso” da classificação obtida numa qualquer disciplina, em termos de efeitos de transição de ano, constatámos que no Ensino Básico (2.º e 3.º ciclos) a disciplina de Educação Física tem um estatuto semelhante às outras áreas curriculares disciplinares. No Ensino Secundário justifica-se um estatuto diferente? A ter um estatuto diferente, que estatuto deverá assumir a EF na escola? Diferentes estatutos para diferentes níveis de escolaridade?

karadas disse...

O debate está interessante mas, na minha opinião, carece de objectividade. Nenhum de vocês, até agora, respondeu à questão colocada: deve ou não a classificação em educação física ser considerada para efeitos de transição e de cálculo da média de acesso ao ensino superior?

«« disse...

Caro Karadas, para mim a EF vale muito mais do que a sua influência para a média de acesso ao ensino superior. Se quer saber a minha opinião a escola do ensino "não superior (até ao 12º ano) tem um valor imensamente superior ao acesso ao ensino superior ou ao acesso a uma profissão. Essa utilidade que os Pink Floyd e muito bem caracterizaram como uma industria de produzir empregados fabris é curta e limitadora do crescimento da escola enquanto instituição capaz de ajudar ao progresso da civilização, ao progresso de um conjunto de valores básicos e essenciais para que a nossa sociedade dê o pulo que se quer, que se ambiciona. Para acabar, acho que se fala em demasiado em acessos, em médias. Talvez seja mais fácil ensinar conteúdos, do que ensinar para a vid, aquela coisa do currículooculto. Nesta áres não tenho dúvidas a EF é a disciplina superior a que tem os melhores apetrechos para agir sobre a aluno e o aluno

Miguel Pinto disse...

O Karadas pede objectividade e reitera a pergunta: “deve a classificação em educação física ser considerada para efeitos de transição e de cálculo da média de acesso ao ensino superior?”
Sim e não Karadas. Solicita objectividade e eu retribuo com uma resposta ambígua ;)
Sim, no quadro da escola actual estigmatizada por um sistema de cobrança [muito bem definido pelo Amândio] que visa seleccionar cidadãos para o mercado de trabalho no final da escolaridade obrigatória ou após a frequência do ensino superior. Neste cenário em que se buscam rendimentos não encontro motivos para deixar a EF de fora. Dir-me-ão que os rendimentos corporais estão fora de moda se atendermos ao perfil das profissões. Direi que as seguradoras têm apontado o caminho ao diferenciar os cidadãos mais ou menos “robustos”…
Não, se tivesse o poder de determinar as finalidades da escola e da EF, por inerência.

«« disse...

Amigo Miguel, o problema é aceitarmos como objectivo fundamental para a escola a produção de profissinais....aí estamos em desacordo total

henrique santos disse...

Partilho os receios e as dúvidas que se tem apresentado nestes comentários. Podemos estar a entrar num processo que faça perigar até a própria inclusão da EF no currículo obrigatório do Ensino Secundário.
A EF e o Desporto na escola valem por aquilo que conseguem demonstrar em termos de utilidade pessoal e social. E a demonstração dessa utilidade cabe em grande parte aos seus profissionais. Mas a sua existência e configuração dependem de poderes que ultrapassam os profissionais.
Este é um debate travado em muitos países e a sua importância traduz-se no tempo e nos meios que a sociedade concede ou não à EF e ao Desporto na escola.
O "sistema de cobrança", - que pode ser feito de modos muito diversos e em perspectivas opostas até (como referiu o Amândio), - é uma das formas da EF e dos seus profissionais, demonstrarem, pelos resultados produzidos, o que a EF pode valer para os alunos e para a sociedade.
Aqui, penso não haver lugar para a inocência. Todos nós sabemos que a nossa sociedade está actualmente submetida, nacional como mundialmente, a um sistema que muitos, e eu concordo, chamam de "mundialização do capital financeiro".
Neste sistema há quem beneficie (muito poucos) e quem seja altamente prejudicado (a imensa maioria). Os seus beneficiários, pelo seu poder e pelo acesso aos meios de informação, veiculam directamente ou através dos seus intelectuais orgânicos que chegamos ao "Fim da História".
Que pede este sistema à escola?
Indivíduos submissos, com um leque de competências gerais para o "mercado de trabalho", estejam no activo ou no contingente de reserva (o desemprego estrutural).
Clamam hipocritamente pela crise da escola quando esta, se formos a ver, produz já mais do que aquilo que a sociedade, ao nível do emprego, consegue absorver. Basta ver pelo tipo de empregos que se criam: uma parte pequena que requer uma formação longa, especializada, e outra parte muito mais larga, que requer formações curtas e "on the job". Também aqui, a análise da realidade dá muito melhor conta da realidade do que a análise dos discursos.
Que papel está destinado para a EF e o Desporto na escola na nossa sociedade, designadamente na escola pública? Embora a vaga regressiva que eu prevejo não tenha ainda começado, penso que se caminhará para um papel cada vez menor, remetido para a esfera privada, em nome das "poupanças", da centração no "essencial".
O papel dos profissionais será em grande parte um papel de resistência a esta vaga. Querer, como diz o Miguel Sousa, formar cidadãos conscientes, solidários, responsáveis é, em grande parte formar contra a corrente. É formar dissidentes. É formar inconformados. Qualquer disciplina escolar pode fazer isto ou não. Um sistema de avaliação pode exigir promover estes valores, integrando-os no "sistema de cobrança" ou não.
Eu também tento estar nesse caminho, aliás, interessa lembrá-lo, expresso textualmente na Constituição e na Lei de Bases. (Formar cidadãos responsáveis, solidários...).
Há que ter a consciência e assumir que apontar nesse sentido não será do agrado dos poderes. Num tempo em que tanto se fala de que se deve formar para o "mercado de trabalho" quando se lançam tantos no "mercado do desemprego".

karadas disse...

A questão do rendimento não oferece dúvidas, tendo em conta o que dizem os programas: há conteúdos que têm de ser leccionados e os alunos são avaliados pelo seu desempenho. Isto é clarinho como a água.
O problema é que o ensino da Educação Física deixa muito a desejar. A grande maioria dos seus profissionais trabalha pouco e quase sempre mal. Não é professor quem quer, é professor quem pode. Para se ser professor há, desde logo, uma condição indispensável: dominar os conteúdos que se leccionam. Infelizmente, todos os dias, nas nossas escolas, somos confrontados com profissionais de Educação Física com grandes lacunas a este nível. Este aspecto tem efeitos altamente nocivos nas aprendizagens dos alunos. A Educação Física é a única disciplina curricular onde se podem encontrar melhores alunos no 7º Ano do que no 12º Ano. Isto é claramente inadmissível e demonstra à saciedade a qualidade do trabalho desenvolvido.
Chegados ao momento da avaliação o que é que verificamos? Assiste-se a uma avaliação pouco séria e rigorosa. Os critérios de avaliação não são minimamente respeitados e as classificações são, por norma,inflaccionadas sem o mínimo de justificação. Atribuem-se altas classificações apenas porque sim. É a forma encontrada, por muitos professores, para fugir a eventuais problemas de contestação de notas ( Conselhos de Turma; Conselhos Executivos e Encarregados de Educação).
Se a avaliação é feita nestes moldes, não faz para mim nenhum sentido que na disciplina se proceda à classificação dos alunos. Só que esta é uma questão bastante melindrosa para os profissionais de Educação Física., não porque estejam muito preocupados com a avaliação, porque a maioria não está, mas apenas porque isso poderá mexer com o estatuto da disciplina. Têm receio que a disciplina deixe de ser obrigatória e com isso os seus postos de trabalho poderão estar em risco. Esquecem-se que o estatuto se conquista com trabalho e não é fazendo da disciplina uma mera actividade recreativa que este se alcança. Além disso, há um manifesto complexo de inferioridade dos professores de Educação Física relativamente aos seus pares, e esse é um problema que muitos ainda não conseguiram resolver nas suas cabeças, mesmo depois de terem conseguido um estatuto de igualdade no actual desenho curricular. Esta é uma questão cultural que os professores de Educação Física não conseguem ultrapassar, porque muitos deles próprios não acreditam na importância da sua disciplina. Ao encararem a avaliação como a encaram, de uma forma descuidada e pouco séria, só contribuem para o seu próprio descrédito. E não venham com a conversa fiada de que avaliam de forma diferente, porque dão importância a outros aspectos que as outras disciplinas não valorizam, porque isso são apenas desculpas para a deficiente Educação Física que vão ministrando aos vossos alunos.

«« disse...

Caro Henrique, concordo em pleno que educarpara os valores é educar contra-poder, mas se quisermos uma sociedade melhor, é para aí a direcção certa, pelo menos é essa a minha crença. Como diz e bem o Karadas não deve ser professor quem quer. Eu quero sewr professor e vou continuar a educarpara os valores. Mesmo que alguns deles cheguem ao 12º ano e sejam piores (em termos da prática de uma determinada modalidade), fiqcarei preocupado se ela for pior no que diz respeito aos valores sociais.
Caro Karadas o seu comentário quanto a mim tem alguns lapsos:

a) Na escola a EF não é o mesmo que o treino no clube (e mesmo aí há jovens cadetes melhores que ouros jovens mais velhos);
b) O seu comentário demonstrou claramente que é um erro comparar esta disciplina às outras. De certeza que o Karadas é uma pessoa bem formada, logo deve entender que um jovem que está no sétimo ano e já tenha um historial de prática desportiva vai, provavelmente, ser melhor que um tipo de 12º que a sua única prática desportiva se resume à EF, onde todos os anos tem que passar por um determinado número de modalidades, o que tem como consequência um número limitadíssimo de horas por cada uma dela (em alguns casos não passam de 4 ou 5).

Muitos outros argumentos podiam ser cá colocados, mas ia ficar chato e assim já não lia até ao fim o comentário. Termino com a pergunta: de que serve a uma miúda, que já sabemos que vai ser uma respeitável dona de casa, aprender o lançamento na passada, ou o pino?...agora essa miúda tem que ganhar o gosto pela prática desportiva se quisermos que, após a escolaridade vá à procura da prática desportiva....pois é caro amigo...dizer que os professores de EF são menos competentes do que os outros é meio complicado, olhe se o fosse-mos não estávamos a criar este espaço para debater a coisa. Um abraço (sem qualquer ressentimento)

henrique santos disse...

Caro Karadas, permita que reproduza algumas das suas afirmações:
"o ensino da Educação Física deixa muito a desejar. A grande maioria dos seus profissionais trabalha pouco e quase sempre mal."
"Infelizmente, todos os dias, nas nossas escolas, somos confrontados com profissionais de Educação Física com grandes lacunas a este nível (domínio dos conteúdos)".
"Educação Física é a única disciplina curricular onde se podem encontrar melhores alunos no 7º Ano do que no 12º Ano."
"há um manifesto complexo de inferioridade dos professores de Educação Física relativamente aos seus pares"
"E não venham com a conversa fiada de que avaliam de forma diferente, porque dão importância a outros aspectos que as outras disciplinas não valorizam, porque isso são apenas desculpas para a deficiente Educação Física que vão ministrando aos vossos alunos".

Pelo teor das suas palavras o mal está todo nos péssimos professores de EF que temos: malandros, mal preparados, complexados, com desculpas de mau pagador, enfim maus profissionais. É engraçado. Tenho ouvido no último ano muito este discurso (menos a parte dos complexos). Só que aplicado aos professores portugueses em geral.
Mas fora isso - e não é pouco - o Karadas é um grande defensor da EF, e da sua classificação, desde que fossem de outra cepa os seus professores não? Como entretanto temos de viver com os que temos, presumo que apontará para outras soluções? Diferentes mas não menos drásticas.
Enfim. As perguntas são mera retórica. O caro Karadas pode e deve pensar o que pensa. Se nos divulgasse os estudos ou os métodos que utilizou para fazer as suas generalizações penso que nos prestava algum serviço acrescentado ao debate.

karadas disse...

Caro Miguel Sousa:

1- Desde quando é que a apropriação de valores básicos essenciais para o desenvolvimento integral do aluno, é incompatível com a procura dum melhor desempenho nas actividades motoras que lhe são propostas?
2- É verdade que um aluno que chegue ao 7º Ano habituado a uma prática física regular tem melhores condições para apresentar um melhor nível do que aquele que está no 12º ano e nunca praticou qualquer desporto. Essa não é a questão. O problema é que vêem-se alunos, especialmente alunas, que no términus de 8 anos de contacto com a disciplina, apresentam um desempenho igual aquele que tinham quando entraram no 5ºano. Isso é que devia envergonhar os professores de Educação Física. Na minha escola (estou bem informado) os alunos desde o 7ºAno têm em cada ano, e em cada uma das matérias seleccionadas, um total de 15 unidades didácticas, o que significa que cheguem ao final do 12º Ano com 90 aulas em cada uma das modalidades. Não me queiram dizer que 90 aulas não são suficientes para aprenderem alguma coisa. É claro que deviam aprender, mas o que é facto é que a grande maioria não consegue aprender!
3- Sem dúvida que o principal objectivo da Educação Física é o de incutir nos alunos o gosto pela prática desportiva. Totalmente de acordo. No entanto, desengane-se quem pense que alunos que não têm qualquer apetência pelas actividades desportivas, e que a manifestam durante as aulas, vão um dia mais tarde ter uma prática física regular. Quanto muito, um pouco antes da época balnear, uns farão umas caminhadas ou umas corridas, enquanto outros se inscrevem num ginásio para queimar as gorduras entretanto acumuladas ao longo do ano. Tudo isto por uma questão de estética e não por gostarem particularmente das actividades físicas. Aliás, um recente estudo europeu veio confirmar isso mesmo ( os portugueses são alérgicos à prática desportiva com particular destaque para as mulheres). Quem ao longo da sua vida continuará a praticar desporto, são aqueles que já evidenciavam o gosto pela educação física.
4- “De que serve a uma miúda, que já sabemos que vai ser uma respeitável dona de casa, aprender o lançamento na passada, ou o pino?”.
Este tipo de argumento, na minha opinião, não colhe. Nessa perspectiva, um aluno que quer seguir História, não deve aprender Matemática, porque no futuro só vai precisar de saber as operações básicas da Aritmética.

karadas disse...

Caro Henrique Santos.

“Se nos divulgasse os estudos ou os métodos que utilizou para fazer as suas generalizações penso que nos prestava algum serviço acrescentado ao debate”.

Os professores de educação física têm uma clara desvantagem relativamente aos outros professores. Há que reconhecê-lo. Essa desvantagem advém de o seu trabalho ser escrutinado diariamente: as suas aulas podem ser vistas por todos e, por isso, é mais fácil fazer juízos sobre o seu desempenho. Nas outras disciplinas tal não acontece, dado que os professores estão fechados numa sala de aula, podendo, por isso, fazer o que bem lhes apetece sem que alguém escrutine os seus actos.

E o que me é dado observar nas aulas de educação física? Vejo, não raras vezes, aulas completamente desorganizadas, onde os alunos estão entregues à sua sorte e em que os professores assistem passivamente, ora de braços cruzados, ora sentados, ora conversando com quem está dispensado de fazer a prática. Alguns miúdos vão correndo insistentemente atrás de uma bola, de uma forma anárquica, enquanto outros se arrastam dentro de campo, sem qualquer vontade em ali estar e sem perceberem minimamente o que estão ali a fazer. Quando a aula chega ao fim o professor lá intervém, mas apenas para mandar os alunos recolher aos balneários.

É basicamente isto que eu vou observando nas escolas por onde tenho passado. Nos largos anos que levo de ensino, contam-se pelos dedos de uma só mão os bons profissionais com que tenho deparado.

Perguntará o colega: mas quem se julga este indivíduo para fazer comentários sobre os professores de educação física? Alguém que tem consagrado grande parte da sua vida ao desporto, não só como praticante mas também como treinador (com títulos nacionais conquistados). E é por ter um grande amor à prática desportiva que me custa ver a educação física tão mal tratada por muitos dos seus profissionais. Enquanto aluno tive como professores de educação física, péssimos profissionais. E não foi graças a eles, podem ter a certeza, que me dediquei ao desporto de alma e coração.

Correndo o risco de ser injusto para muitos professores de educação física, que os há certamente, estou em crer que o quadro que tracei se verifica em muitas escolas deste país. E não tão poucas quanto isso.

Cláudia Malafaya disse...

Karadas, com certeza que todos nós conhecemos diferentes pessoas (umas mais competentes, outras menos) e que, infelizmente, nas nossas escolas podemos encontrar alguns exemplos de profissionais pouco competentes.
Mas dizer que a maioria dos professores de Educação Física são pouco competentes…
Considero essa generalização muito injusta.

karadas disse...

"Uma coisa que muitas vezes passa despercebido é que a ecologia da escola coloca muito poucas ou mesmo nenhumas expectativas de aprendizagens à educação física. Pelo contrário, tende a exercer pressão sobre os professores de educação física no sentido de os inibir na colocação de exigências de aprendizagem como critério para atribuição de notas. Portanto temos um sistema que praticamente não só não valoriza as aprendizagens como é reactivo contra quem ousa medi-las e classificá-las."

Subscrevo inteiramente o que diz. Só lhe acrescentaria um dado: é que essa pressâo, muitas vezes, é exercida dentro do próprio grupo de educação física.

henrique santos disse...

Em anterior comentário afirmei já a minha concordância, de princípio, com a possível alteração. Só que tudo depende como a avaliação é feita. (Há perspectivas diametralmente opostas de avaliação, do ponto de vista teórico e prático.) E isso tem a ver com programas, com o modo de promover as aprendizagens, modos de avaliação, etc. (E tudo dentro de um contexto escolar e social que pesa).
A afinidade dos alunos com a disciplina pode sofrer positiva ou negativamente com isso, assim como o comprometimento dos professores.
Aqui, os professores de EF, as escolas de formação, as suas associações representativas, terão uma grande responsabilidade em contribuir decisivamente para construir um "modo de avaliação" que faça aumentar a afinidade dos alunos para com a disciplina.
Penso que vale a pena aceitar o desafio. A EF como componente do currículo não pode alienar uma das suas responsabilidades: a da avaliação.

Miguel Pinto disse...

Se há matéria onde existe um consenso entre os profissionais da educação ele tem a ver com as vantagens da avaliação dos processos e dos produtos das aprendizagens. O mesmo consenso já não é possível no que concerne à inevitabilidade da tradução da avaliação em classificações: A classificação é sempre selectiva o mesmo não se passa com a avaliação. Ao afastar a EF do processo de selecção dos alunos no ensino secundário estamos a agir, de certo modo, defensivamente e encontro coerência nesta tese se for rejeitada a classificação dos alunos. Ora, ainda não ouvi ninguém a defender esta tese. A meu ver, a questão do acesso ao ensino superior que está na origem desta discussão é apenas uma consequência desta forma de olhar o problema.

«« disse...

Concordo contigo Miguel, acho que tudo que é feito seja na escola ou em qualquer outro sítio deve ser avaliado. Agora essa avaliação não deve ser a mesma. Continua a ter sérias dúvidas acerca do assunto e continuo a acreditar que para se chegar a uma plataforma suficientemente consistente necessitamos de discutiro papel da EF. Tu até sabes que eu ia mais além e começava pelo o nome da disciplina. Até porque o nome é Educação Física e acabamos por avaliar os conteúdos (na suageneralidade) do desporto. Lembro os trabalhos de Prista que demonstraram que os jovens em Moçambique apresentam maiores +índices de ApFS o que não queria dizer que fossem melhores praticantes de desporto, mas sim porqu o seu dia-a-dia era demasiado exigente físicamente.

Cláudia Malafaya disse...

Miguel Pinto, quando falamos em classificações estamos a falar de avaliação. Isto porque é a própria avaliação, numa das suas modalidades - a avaliação sumativa (que faz parte integrante do processo de avaliação dos alunos), que conduz à atribuição de uma classificação.
Logo, não concordo contigo quando dizes: “A classificação é sempre selectiva o mesmo não se passa com a avaliação.”
No entanto, penso que compreendi o significado das tuas palavras.
Qual das modalidades de avaliação valorizámos?
Acho que já sei qual é a tua opinião. :-)

Eu também sou a favor da avaliação em educação física.
Uma avaliação, como diz o Amândio, que faça parte do processo de aprendizagem, que o estimule, lhe confira significado e esclareça os professores e alunos sobre os caminhos já andados e o que ficou por fazer.
Valorizo uma avaliação que regule o ensino e a aprendizagem, que permita melhorar a qualidade do processo de aprendizagem, que permita traçar planos de acção para futuras intervenções.

Cláudia Malafaya disse...

Acrescento ainda o seguinte.
A nível do Ensino Secundário, existem muitos aspectos que não conheço bem (e em relação aos quais me irei informar) mas, para mim e neste momento, faz sentido que a classificação em Educação Física seja tida em conta na selecção dos alunos que pretendem ingressar em cursos/áreas de educação física e desporto.
Quanto aos outros alunos, terei que reflectir mais sobre isto...
Conto com a vossa ajuda para clarificar ideias.

«« disse...

Cara Claudia, actredito que para os que querem concorrer para o ES na área do desporto, faz sentido, contudo, esses devem ter um EF diferente da dos outros,. uma especie do que acontece com o Portugues (A e B) e a Matemática.

henrique santos disse...

O debate lançado pelo Miguel Pinto chegou a uma fase em que talvez seja interessante fazer um balanço:
-A avaliação dos alunos em EF é algo muito mais amplo do que a classificação dos mesmos, ou ainda do que essa classificação poder contar para a média de acesso ao ensino superior. Aliás, pode (e deve, nisso estando todos em acordo) existir avaliação em EF, mesmo sem existir classificação dos alunos (e nisso já nem todos estamos de acordo), ou existindo classificação, contar apenas para transição de ano, sem contar para a média de acesso... (aqui ainda há algum desacordo daqueles que acham que essa média exista só em caso dos alunos enveredarem por cursos da área da EF). Quanto a poder existir avaliação, classificação e possibilidade de ela entrar na média de acesso dos alunos, eu, fui o único que invoquei essa possibilidade. O amigo Karadas, que provocou do exterior dos profissionais da área um salutar esclarecimento de questões fundamentais, não se chegou a pronunciar definitivamente sobre isso. Ainda está a tempo.
A novidade das coisas provoca quase sempre reacções que só o tempo e, espera-se, um debate alargado e profícuo traga soluções.
Muito há ainda de possibilidade de discussão. Uma de natureza mais interna sobre, chamar-lhe-ia, "a forma e o modo de avaliação". Outra, que embora interna está em pleno no âmbito de uma discussão alargada: que EF, que estatuto da disciplina no ensino secundário e não só). Muitos de nós, quando perante questões da avaliação, sentem necessidade de redefinir o papel actual da EF na nossa sociedade actual. Não há avaliação da EF, nem EF, nem escola, imunes ao contexto ecológico da nossa sociedade. Esta é uma das possibilidades de continuação do debate. Aqui ou a propósito de outro post que algum dos contribuidores entenda lançar.

karadas disse...
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karadas disse...

Independentemente de haver ou não classificação, ou de esta contar ou não para efeitos de transição ou para a média de acesso ao ensino superior, a avaliação em EF tem sempre de existir, na exacta medida em que não pode existir ensino sem avaliação e de que não há aprendizagem sem um conhecimento do resultado da acção. Só pode haver melhoria na qualidade do ensino ministrado em EF – ou noutra qualquer disciplina – desde que se recolham informações mais ou menos consistentes, sobre os conteúdos seleccionados, sobre o contexto material e humano em que o trabalho se realiza, sobre os procedimentos didácticos e finalmente sobre o aproveitamento observado nos alunos. Este objectivo de natureza vincadamente pedagógica, antecede e excede largamente a intenção administrativa que se traduz na atribuição de uma classificação escolar.
Sobre as questões da classificação na disciplina pronunciar-me-ei- noutra ocasião.

karadas disse...

A não atribuição de classificação na disciplina colocaria a EF com um estatuto de menoridade. Teríamos assim uma EF reduzida a uma mera actividade recreativa, onde o processo ensino-aprendizagem deixaria de ter importância para os alunos e, eventualmente, correr-se-ia o risco de o mesmo vir a acontecer com os professores. Não nos iludamos. Não havendo classificação, a balda depressa se instalaria: muitos professores deixariam de se aplicar na prática pedagógica, o mesmo se verificando com os alunos ao saberem que a sua prestação não seria objecto de avaliação. Quem pensa que este não seria o cenário, é porque anda completamente alheado da realidade.