maio 17, 2006

Alargamento da ocupação plena dos tempos escolares ao ensino secundário

“O alargamento ao ensino secundário da ocupação educativa dos alunos em todo o horário escolar contribui não só para a melhoraria dos resultados escolares, mas também para a criação de uma cultura de rigor e de exigência.”
(In http://www.professores.pt/)


“Para levar por diante esta medida na prática, as escolas secundárias vão beneficiar da experiência acumulada nos estabelecimentos do ensino básico, tendo em conta os ajustamentos que tiveram necessidade de efectuar e as soluções que encontraram para ocupação dos alunos quando faltava um professor. “

Entre as actividades educativas previstas na ocupação dos alunos surgem as aulas de substituição.
Na escola onde trabalho (eb 2,3), as aulas de substituição foram implementadas no presente ano lectivo e o grau de satisfação quer dos professores quer dos alunos é reduzido.
Para procurarmos “beneficiar da experiência acumulada” das escolas que já implementaram estas medidas, penso que poderia ser interessante partilharmos aquilo que sabemos do que é que se vai fazendo por aí.

7 comentários:

«« disse...

AsNão vejo as aulas de substituição com bons olhos porque acredito cada vez mais no currículo oculto e o espaço livre permite o aluno explorar essa parte (que atenção pode ser negra) da escola e da sua vivência. Com a catadupa de conteúdos, não fica tempo para que os alunos, em contexto de sala de aula, possam desenvolver esse mesmo “caminho.

Miguel Pinto disse...

Concordo com os comentários anteriores. O que diz o ME:
“Para que a substituição se processe da melhor forma, os professores deverão, de acordo com o Estatuto da Carreira Docente, comunicar previamente que vão faltar, entregando um plano da aula prevista ao conselho executivo. Este órgão afecta um docente da mesma área disciplinar para substituir o colega, seguindo a planificação elaborada.”

Passando ao lado das questões da eficácia e da operacionalidade desta medida centro-me no cerne da relação educativa, que é (?) uma relação inter-pessoal [que se prolonga no tempo]. Será que esta medida não visa reduzir o acto educativo a um mero acto tecnocrático relegando o aluno a objecto? Lembrei-me agora do trabalho da Luiza Cortesão "Ser professor: Um ofício em risco de extinção?

henrique santos disse...

Na minha opinião cada escola deve organizar-se em função dos meios que tenha ou que reclame, para suprir as faltas de professores. Não é a mesma coisa, no 1.º ciclo ou no ensino secundário. O ME deve estabelecer algumas balizas genéricas e não impor catálogos de procedimentos. As escolas, os seus professores e os alunos (no secundário parece-me importante) é que devem encontrar as soluções particulares.

Cláudia Malafaya disse...

Daquilo que conheço, e particularmente no início da sua implementação, as Aulas de Substituição (AS) foram mesmo isso: ocupar os alunos não importa a fazer o quê. O importante era que fosse assegurada a guarda e custódia dos alunos.
Ao mobilizaram os recursos humanos existentes para assegurar as AS, as escolas relegam para 2º, 3º ou outro qualquer plano a oferta de outras actividades educativas (sala de estudo; clubes temáticos; TIC; leitura e a pesquisa bibliográfica orientada; actividades desportivas, oficinais, musicais ou teatrais) bem como a possibilidade de prestar apoio a alunos que revelem dificuldades de aprendizagem.
A continuar assim, se a aposta continuar nas ditas AS e se se continuar a ocupar os alunos não importa a fazer o quê, não vejo como é que esta medida pode contribuir para combater o insucesso escolar e para melhorar os resultados obtidos pelos alunos nas diversas disciplinas.
Relativamente ao que é dito “para que a substituição se processe da melhor forma, o conselho executivo afecta um docente da mesma área disciplinar para substituir o colega”, não me parece que isto vá acontecer bem assim. Em alguns casos até poderá ocorrer ou ser viável mas não me parece que esta seja a norma. Como é possível ter professores disponíveis para substituir colegas da mesma área disciplinar em todos os tempos lectivos durante todos os dias da semana?
Também não me parece que se as escolas reclamarem mais recursos humanos para que as soluções por elas apontadas sejam implementadas o ME os disponibilize.
Quanto a ser a escola a organizar-se para encontrar soluções… talvez as coisas passem mesmo por aí.

Partilhando convosco aquilo que sei do que se vai fazendo por aí, foi publicada, pelo Centro de Formação de Professores de Matosinhos – PRÓfessor, uma revista que aborda esta temática - Dar um sentido às actividades de substituição. Como essa revista ainda não está publicada em e-Revista (neste momento só existe em formato papel), se estiverem interessados poderei tentar fazer uma breve síntese da proposta apresentada pelas autoras, proposta essa que considero muito interessante.

henrique santos disse...

Cláudia
penso que faz todo o sentido fazeres um resumo enquanto o jornal do centro de formação não é publicado online. Tenho a melhor das impressões do Centro de Formação de Matosinhos, embora só o conheça da net. Parece-me ser um centro em que há uma dinâmica própria.

Cláudia Malafaya disse...

Ok, Henrique.
Aqui vai…

Segundo as autoras da revista que referi anteriormente (1), “as actividades de substituição, como um conjunto de actividades avulso, sem objectivo predefinido, transforma-as num espaço sem sentido, quer para os alunos quer para os professores.”

Para lhes dar sentido e para ultrapassar os problemas que se colocam nos espaços de substituição, consideram que as actividades de substituição deveriam ter orientações específicas para cada turma, emanadas dos Conselhos de Turma e discutidas/negociadas com os alunos.

“O envolvimento dos alunos na configuração das actividades de substituição, a partir dum leque de propostas feitas pelos professores, pode ser uma das formas de os motivar, desenhando-as assim, mais adequadas aos seus interesses e tornando perceptíveis os seus objectivos.”

Na proposta que apresentam, o projecto de trabalho pode assumir diversas formas:

- Actividades de índole pessoal - segundo um plano individual de trabalho pré estabelecido para cada aluno, onde estão previstas as actividades que se acordou ser possível fazer neste espaço. Cada aluno, de acordo com as suas necessidades e interesses, pode escolher autonomamente a actividade que pretende realizar, devendo registar no final o que efectivamente concretizou nesse dia e a sua avaliação do trabalho.

- Actividades alternativas de aprendizagem - propostas de trabalho colectivo que visem o desenvolvimento de competências transversais a todas as áreas curriculares. No final de cada aula, a actividade realizada deverá ser alvo de reflexão e avaliação por parte dos alunos e dos professores.
Nota: Para estas actividades, as autoras apresentam um conjunto de materiais que, para facilitar a sua utilização, dividiram em grupos com finalidades próximas: Colaborar para aprender; Comunicar melhor; Construir valores; Aprender a pensar; Debater ideias; Estimular a criatividade.

- Actividades de substituição específicas da disciplina – material preparado e deixado pelo professor que sabe previamente que vai faltar, dando continuidade à actividade lectiva da disciplina.

Ainda segundo as autoras, a adopção destas estratégias implica a preparação de documentos organizadores das actividades e de materiais, adequados às necessidades da turma e facilitadores do trabalho do professor de substituição (professor esse que pode não pertencer ao CT e não conhecer os alunos nem as suas necessidades).
Assim, cada turma deverá ter um dossier “onde constam documentos organizadores - fichas de registo de actividades e propostas concretas de trabalho que facilitem a sequencialidade e a articulação das actividades, que podem, desta forma, ganhar coerência quer para professores quer para alunos.”

____________________
(1) SEABRA, I.; VENTURA, F. (2005). Actividades Alternativas de Aprendizagem – Dar um sentido às actividades de substituição. Matosinhos: PRÓfessor – Centro de Formação de Professores de Matosinhos, e-revista OZARFAXINARS, n.º 2_Especial, 7-10.

zoltrix disse...

as actividades propostas para as AOTE´s ( chamam-se assim na minha "terra", estão muito bem pensadas. Chamo à atenção para o tempo reduzido (45m) das substituições, que deverá dificultar muito as sugestões. Há ainda que ter em conta o facto de muitos professores só fazerem uma ou duas substituições às turmas envolvidas o que retira eficácia às propostas pois conhecer os alunos e propostas não é tarefa para apenas uma aula.
Continuo a pensar que , segundo o actual modelo pouco mais se poderá fazer do que "apascentar"!
Relembro ainda o problema sério quanto ao tipo de actividade a desenvolver e ele não ser remunerado como trabalho extraórdinário, embora o próximo EDC resolva a questão eliminando-a.
Sugiro ainda a criação de um bom dossier cheio de actividades lúdicas e educativas.
A questão central das colegas de Matosinhos não deverá ser descurada, nunca:envolver os alunos e o CT nas propostas para as "AOTE´s"