junho 29, 2007

Para já, está nas nossas mãos...

Se para nós, professores de Educação Física, a fundamentação desta área disciplinar é indiscutível e todos nos esforçamos por fazer um trabalho sério, pedagógica e cientificamente, por vezes esquecemo-nos que, no seio da própria escola, esta realidade não é, de todo, conhecida.
De vez em quando, surgem aquelas “bocas” que a nós nos parecem antiquadas e ultrajantes para a nossa condição profissional: quando se discute a importância da avaliação nesta disciplina ou quando nos “chutam para canto" sem mais nem menos, a propósito duma qualquer questiúncula, relativamente à qual nem passa pela cabeça dos nossos colegas colocar a EF ao mesmo nível de qualquer outra. Sentimo-nos tentados a indignar-nos e a hostilizar de volta os nossos interlocutores.

Mas, colegas, frequentemente essa estratégia não é a melhor solução. Acreditem que na maioria das vezes este comportamento não pretende mesmo ser ofensivo.
E isto é verdade, não é só ingenuidade! É que muitos colegas não fazem ideia do que é a EF actualmente: dizem lembrar-se dumas pandeiretas e duns equipamentos desconfortáveis… Uma colega, há uns tempos disse-me que havia uns jogos de Futebol de rapazes e as raparigas iam até lá, para bater palmas. São estas as suas referências!

Quando nos ouvem falar em Patinagem, Hóquei em Patins, Escalada, Chá-chá-chá, até chegam a perguntar se isso se passa lá na escola!! Ou se é alguma actividade extracurricular! Já para não falar da admiração que expressam quando se apercebem que afinal, na Educação Física, também existem preocupações com a transmissão dos valores da nossa cultura, como é o caso dos nossos Jogos e Danças Tradicionais Portugueses !!

Há pouco tempo, em conversa com uma colega que eu prezo bastante, sobre as actividades desportivas da sua filha, registei a seguinte afirmação, que me deixou incrédula: “Para mim essas coisas da ginástica – referindo-se à vela – são completamente anti-natura!” Mas o facto é que se preocupa, que eu sei, que a filha pratique desporto, porque lhe reconhece benefícios. É evidente que lhe expliquei, com paciência, que anti-natura é a nossa capacidade actual em nos mantermos sentados durante horas e obrigarmos os miúdos a habituarem-se a esse estilo de vida. Se resultou? Espero que sim. Acredito que sim… e que são precisas estas intervenções localizadas, para mudar algumas mentalidades.

Mas o que mais me preocupa nem é isso: acho que neste momento todo o cuidado é pouco e parece-me que há grandes disparidades na postura nos nossos colegas de EF quanto à avaliação:
- uns assumem publicamente que não se importam de colar a nota de EF à média do aluno “para não o prejudicar”!!
- outros parece que estão a aproveitar o “poder” da avaliação para “mostrar quem manda”!!

Qual destas a mais perigosa para a implementação das medidas mais recentes…Qualquer uma delas por si só e ambas, em conjunto, podem deitar a perder aquilo que nos está a ser oferecido, neste momento. Para já, está nas nossas mãos, … mas pode deixar de estar!

Susana Marques

9 comentários:

henrique santos disse...

Susana
em primeiro lugar sê bem vinda ao nosso grupo. Depois da Clementina és o nosso último reforço.
De facto temos de aproveitar vários momentos para fazer uma pedagogia de influência, demonstrando com factos e argumentos o valor que a EF pode e deve ter na formação humana das nossas crianças e jovens. E essa pedagogia deve dirigir-se a todos. Pais, colegas, governantes, etc.

Miguel Pinto disse...

O modo como os nossos pares olham a EF decorre das suas experiências pessoais, normalmente como alunos; do conhecimento que construíram a partir da observação directa do comportamento (mais ou menos folclórico) dos professores de EF; do conhecimento edificado no estudo da escola e da profissionalidade docente. As respostas ao modo depreciativo como se referem à nossa área profissional depende dos casos: se essa menorização decorre da ignorância ou da jactância. Não há uma receita para actuar porque em muitos casos a melhor resposta é uma não resposta…
A segunda parte do texto, essa sim é que merece ser pensada e discutida. Sugiro que partamos para a análise do problema da avaliação da nossa disciplina acordando que essa avaliação (classificação) não pode ser pervertida mesmo que, de forma arbitrária, queiramos “ajudar” um aluno a manter médias de ano ou de curso. A meu ver, a avaliação tem de servir para a aprendizagem. Creio que será este o ponto de partida para uma eventual discussão. Ou não?

Susana Marques disse...

Obrigada, Henrique e Miguel, pelo apoio.
Concordo que não há receitas e também que nem sempre valerá a pena responder, mas o preconceito instalado nem sempre é consciente: aparentemente somos todos iguais, mas na prática há questões que só se colocam numas disciplinas ou noutras. A pedagogia de influência, como disse o Henrique, pode funcionar em muitos casos.
Quanto à avaliação, acho que se há critérios são para ser minimamente respeitados: se a média do aluno é 19 em EF só tem 15, vamos subir 4 valores e acabar c/ os critérios estabelecidos? Além de que, nas atitudes e nos conhecimentos nenhum aluno brilhante pode alegar "falta de jeito", como acontece ao nível das competências de acção. Era interessante conhecer os diferentes pesos atribuídos a estes parâmetros pelas escolas.

«« disse...

pois, tb reforço as boas vindas ao grupo dos poetas vivos, quanto ao tema, bem duas coisinhas só:
1º eu não concordo que a nota de ef tenha essa influencia;

2º claro que tb não concordo que se finte os criterios para colar a nota da disciplina à media...

Agora que é fundamental pensar nessa "barbaridade" lá isso é, talvez quando tivermos uma filha que quer ir para medicina e até tinha média para isso, não fosse a EF....é que para mim a importancia da disciplina não está na nota
Da mesma maneira que não se muda as atitudes dos professores por decretos, os professores não criam habitos de prátia desportiva por notas...tinh um texto para colocar aqui, vou recuar

Miguel Pinto disse...

Miguel
Vais recuar ou recuperar o texto... é melhores recuperá-lo ;)

«« disse...

não vou recuar, vou dar tempo para a reflexcão deste...estre texto está muito bom e merece mais reflexão, coloco-o na sexta

«« disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Susana Marques disse...

Ora, a mim tb me parece que o enquadramento da disciplina de EF poderia ser outro e que a criação de hábitos de actividade física devia passar por outras coisas.

Mas, pelo menos em Portugal, tb é verdade que muitos hábitos começam por existir alguma pressão nesse sentido (normalmente um controlo com consequências práticas): usar o cinto de segurança, controlo de velocidade na estrada por radares, ... Num país onde se falsificam boletins de vacinas para não ter que as tomar enqto noutros pontos do globo há gente a morrer por falta de meios de vacinação...
E é verdade que o empenho / investimento dos alunos se alterou quando a nota passou a contar...

Claro que sempre houve alunos brilhantes que, numa disciplina ou duas tinham notas baixas (e por vezes negativas ou positivas baixas). E nunca se pôs a questão da importância dessas matérias no futuro profissional dos alunos. Provavelmente haverá candidatos a medicina cujos pontos fracos serão a filosofia ou o inglês, por exemplo, e não serão menos competentes por isso... Se as disciplinas de carácter geral pretendem uma avaliação eclética dos alunos, a EF é uma área que nenhuma outra disciplina substitui.

«« disse...

Susana eu não senti essa melhoria no desempenho dos alunos quando a nota passou a contar para qualquer coisa que não se sabe muito bem o que. Para mim o importante é que a EF perdeu a oportunidade de vincar a sua presença pela diferença, pela abolição da ditadura da nota. Isso não educa, obriga, o que significa que depois de passar a obrigação o sedentarismo volta. Nós da "ginástica" podemos agir na mudança da mentalidade, não acredito que isso se consigo tendo na base a chantagem da nota, muito mais quando as consequências do sedentarismo só são notadas "a lá longue". A actividade fisica tem que ser ointeriorizada numa perspectiva de que o primeiro responsável pela sua saude, pelo seu desenvolvimento integral é o aluno....neste momento eles pensam que a responsabilidade do seu desenvolvimento é dos pais, se tiverem doentes, os médicos curam, e acabam só saindod e casa aos trinta e mesmo assim quando acaba o ordenado pedem uns trocos aos pais. Eu, como professor de "ginástica" quero ajudar a inverter isso,l através do desporto, mas dispenso a treta da nota