julho 03, 2007

A Lei de Bases - a Actividade Física e o Desporto

Marcelo Rebelo de Sousa «Em defesa do Desporto»
.
Na apresentação da obra «Em Defesa do Desporto», a qual apelidou de «apelo político», Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se hoje em tom crítico à Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto, afirmando que a divisão, precisamente, entre actividade desportiva e desporto, que ela preconiza, «é um pecado mortal, porque uma coisa não se pode dissociar da outra».
.
O professor Marcelo Rebelo de Sousa falava na sede do C.O.P. no lançamento da obra «Em Defesa do Desporto – Mutações e Valores em Conflito», coordenada por Jorge Olímpio Bento e José Manuel Constantino e editada pela Editora Almedina, com o apoio do Comité Olímpico de Portugal.
.
«Todas as pessoas deviam ler este livro, a começar pelos governantes. É preciso colocar o desporto na agenda política, porque é um tema da maior importância, quando se fala de Educação. O Desporto é uma boa causa para os nossos tempos», afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, que considerou esta obra um primeiro passo muito relevante, que precisa de uma sequência, inclusive com o recurso a meios áudio-visuais.
.
«É preciso não deixar arrefecer este entusiasmo», reforçou.
.
O apresentador da obra, praticante diário de desporto, fez uma análise do carácter transversal, universal e secular do desporto, da Antiguidade ao pós-contemporâneo, defendendo-o como uma causa civilizacional em várias dimensões, com especial incidência na sua importância na educação e no ensino – que considerou subalternizarem em Portugal esta disciplina fundamental à vida humana.
.
E concluiu que os diversos ensaios que compõem a obra ajudam a compreender e a estimular a defesa do desporto, apontando-o como um instrumento fundamental para estudantes, professores e desportistas em geral – no fundo, todas as pessoas, mesmo as que abominam o Desporto, mas acabam por fazer caminhadas regulares, nem que seja na luta contra a obesidade.
.
Vicente Moura céptico
Na apresentação do livro coordenado por José Manuel Constantino e Jorge Olímpio Bento, o presidente do Comité Olímpico de Portugal considerou que a actual Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto, «muito surpreendentemente, fractura o conceito integrador preconizado pelas instâncias da União Europeia, opondo a actividade física à prática desportiva regular e de alto rendimento».
.
No seu discurso, Vicente Moura reafirmou que não se opõe à mudança, «muito pelo contrário, como atesta o percurso do Comité ao longo da última década», mas declara-se «contrário à estatização e partidarização do Desporto».
.
O C.O.P. e o movimento associativo – declarou – «olham com cepticismo a deriva errática, conceptual e legislativa», concluindo que neste milénio pouco foi acrescentado e «persistem metas por alcançar e muitas etapas por cumprir, de que são exemplo o baixo índice de prática desportiva, atestado pelo Eurobarómetro».
.
O dirigente olímpico defendeu mais uma vez um «desporto organizado, competitivo, sustentável, mas respeitador das regras, regulado, mas nunca estatizado, juridicamente ordenado, mas nunca amordaçado, fiscalizado como tudo na coisa pública, mas preservando autonomia gestionária e o respeito dos órgãos legitimados».
.
«Em Defesa do Desporto»
Vicente Moura foi o autor do prefácio da obra agora publicada, uma colectânea de textos de «reputados especialistas do sector desportivo», a quem agradeceu por terem sabido associar o C.O.P. a esta produção.
.
O C.O.P. não teve dúvidas em se associar aos autores, no quadro do Programa de Apoio à Produção Editorial, previsto no programa eleitoral para a XXIX Olimpíada – referiu.
.
«Em defesa do Desporto – Mutações e Valores em Conflito» reúne ensaios de múltiplos autores que olham o Desporto «de modo a revelar a multiplicidade dos seus aspectos e a afirmar a sua valia pedagógica, cultural e social, antropológica e axiológica».
.
A edição é coordenada por Jorge Olímpio Bento, Presidente da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e da Comissão Multidisciplinar do C.O.P., e por José Manuel Constantino, presidente da Oeiras Viva, membro da Academia Olímpica de Portugal e antigo presidente do Instituto do Desporto de Portugal.
.
Os autores vêem o Desporto moderno como «emanação e expressão dos princípios básicos da sociedade industrial, tendo como referência cimeira e estruturante, o princípio do rendimento», tendo-se transformado numa «pluralidade de motivos e finalidades, de sujeitos e praticantes, de modelos e cenários», à medida que a própria sociedade evoluiu.
.

9 comentários:

Susana Marques disse...

É mesmo importante aproveitar a "maré de entusiasmo", e este livro pode ser um auxílio precioso.

Até porque de entre as várias reflexões aqui mencionadas podemos encontrar vários pontos fracos que funcionam sempre contra a valorização e implementação da AF e do Desporto:
- sabemos que é verdade que muitas pessoas "abominam o Desporto", normalmente não tendo vivências anteriores;
- que só uma pequena parte da população é fisicamente activa;
- e que se entre estas pessoas, as questões estéticas são a primeira causa da procura da prática desportiva(mesmo a obesidade é uma preocupação por este mesmo motivo e nem sempre pelas suas consequências na saúde);

De facto os incentivos e a valorização provêm sempre de pessoas que praticam ou já praticaram actividade física / desporto.

Não podemos esperar que quem nunca teve vivências desportivas valorize esta área de forma tão enfática como os praticantes. Nem mesmo racionalizando o fenómeno em termos educativos e ao nível da saúde.

São estas as pessoas que colocam o Desporto num papel subalterno.

Mas temos que pensar que é uma grande parcela a sensibilizar: deve haver alguma forma!... ou muitas...
Claro que o estilo de vida actual encarrega-se de os conduzir, nem que seja por obrigação médica, à procura da Actividade Física... mas é pena que se espere por isso.
Acredito que as novas gerações já sejam menos avessas à prática desportiva, pois as vivências chegam desde mais cedo, a muito mais gente, de formas diversificadas e até mais tarde.

Miguel Pinto disse...

«Todas as pessoas deviam ler este livro, a começar pelos governantes. É preciso colocar o desporto na agenda política, porque é um tema da maior importância, quando se fala de Educação. O Desporto é uma boa causa para os nossos tempos».

Estas palavras de ocasião ficam sempre bem dentro de um estilo politicamente correcto. É evidente que uma parte dos governantes dispensará o livro para saber que o desporto fica sempre bem numa agenda política, principalmente se essa agenda política precisar de enfeites e de folclore mediático.
Isto vem mesmo a propósito de uma notícia que destaquei no outroolhar (http://olhardomiguel.blogspot.com/2007/07/megalomanias.html )e que reflecte uma determinada forma de pensar a política desportiva. Será que esta gente não concebe pensar o desenvolvimento desportivo sem deixar uma MARCA, ou uma obra, de preferência megalómana?

Maria Lisboa disse...

Mais outro em defesa do desporto...

http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/hr%2B93wHikFMFueGKu6X%2Bkg.html


PS: quando determinadas vozes (que sempre estiveram caladas) se levantam para promover determinados temas começo a ficar com a pulga atrás da orelha

«« disse...

estou curioso pelo livro, mas confesso que os palestrantes não me entusiasmaram, se calhar para a emancipação do desporto, falta que sejam os estudiosos do desporto a falar sobre a area...confesso que não morro de amores por nenhum dos dois, o primeiro nunca foi do desporto e o segundo, bem o segundo já lá anda há muito tempo....

Já agora porque será que não convidam os autores do livro a apresentar livros de genética, de medicina ou de economia.....a um determinado nível de exposição defendo que cada macaco deve estar no seu galho...

«« disse...

esqueci-me de vos dizer que, ou ando num país diferente do vosso, ou ando demasiado absorvido com as férias, ou cqualquer coisa se passa porque não sinto esse entusiasmo em torno do desporto...a não ser o forte apetite que os que estão entusiasmados peloo protagonismo sentem em utilizar o desporto como mais uma fonte disso mesmo...protagonismo

Miguel Pinto disse...

Miguel
Não percebi o alcance da expressão "estudiosos do desporto"... Não é melhor matares primeiro a tua curiosidade, lendo o livro, ou apenas folheá-lo?

Miguel Pinto disse...

Ao ler apressadamente, acabei por perder a ideia central do comentário do Miguel: o mediatismo e a versatilidade do apresentador, Marcelo Rebelo de Sousa, e a ausência de saber específico da matéria sobre a qual ele foi chamado a pronunciar-se na apresentação da obra, não trouxe valor acrescentado ao evento. Aliás, a ligeireza com que se legisla por impreparação do legislador e o modo como se procurou relegar o desporto para um plano secundário, teve uma consequência: implicar os autores desafiando-os a produzir esta excelente obra.

«« disse...

Maria, tens que olhar para esses tipos como se tivesses subindo uma parede de escalada e cada pega fosse um fenómeno desportivo, depois, quando chegam ao cume olham para baixo para verem como chegaram alto...não olham para as pegas que agarraram e foram deixando para trás...eh eh eh

ciprius disse...

agradeço a divulgação

http://exerciciofazbem.blogspot.com/

Obrigado

Hugo Cipriano